terça-feira, 14 de junho de 2016

OS GRANDES TEMAS E OS GRANDES LEMAS DO BRASIL

Por Eduardo Rodrigues Vianna
Um capítulo à parte na longa história da identidade nacional está naqueles slogans que enfeitam identidades visuais, como Brasil, um país de todos, ou o inacreditável País rico é país sem pobreza, segundo aquele peculiar modo Dilma Rousseff de filosofar, ou de contar lorotas. 

Até ontem nós éramos a Pátria educadora, a despeito dos 38% de analfabetos funcionais matriculados em cursos universitários, ou das condições de vida e trabalho do professorado em todos os níveis. 

E agora, sob o cetro de Temer, somos somente Ordem e Progresso, sem pompa, sem grandes arroubos, sem um futuro radiante a sangue e lágrimas se preciso for, sem nenhuma dessas coisas que não convêm a um mero governo interino, conduzido por um vice-presidente, para todo o sempre um sujeito com cara de vice, embora sem as cascatas e papelões, digamos, de um Café Filho.

Mas podemos imaginar o Brasil de outras formas e em outras prosas dando uma olhada nesse palavreado bonito, por vezes estranho ou francamente ridículo, que adorna os auspícios da Nação. Se alguém se escandalizar, diremos que é licença poética, como ocorre com os discursos do ministro da Saúde dizendo que bom mesmo, para um país como o nosso, é plano de saúde privado.

Vamos, então, imaginar outras paginações para o Brasil, com outros lemas. Carlos Drummond de Andrade já deu o mote há bastante tempo: "Sem imaginação, nada feito nesta vida".

P. ex., aqui o Brasil venceu o seu subdesenvolvimento: deixou de exportar matérias-primas e comprar tecnologia, e deixou sobretudo de se desprezar a si próprio como o grande país que é, rompendo para sempre com aquela mediocridade que tanto desagrado causava ao Lima Barreto e a tantos outros.

Esse Brasil compreendeu a contradição imensa entre o que somos e o que deveríamos ser, trabalhou por criar uma fisionomia própria, uma luz própria como dizia o Brizola, e adotou um lema simples: BRASIL, UM PAÍS PORRETA!

Acolá o Brasil despertou do berço, para espanto das nações e alegria da América Latina, devotando todos os seus esforços à realização da reforma agrária. Ah, meus amigos, nem mesmo nós brasileiros podíamos antever o impacto tremendo que haveria de causar o Brasil agrariamente reformado, capaz de reverter todos os processos urbanos e sociais do êxodo rural provocado pela concentração da terra; com comida farta e barata para todos, pela primeira vez; com todo o respeito pela Natureza, uma vez que nós, humanos, somos os parasitas conscientes das plantas; e a custa de lutas tão cruentas que uma das grandes revoluções do mundo brilhou. 

Num país tão atrasado do ponto de vista democrático quanto é o Brasil, até mesmo algo tão elementar como reforma agrária enseja revolução. Então, caberia o lema: BRASIL, SE NÃO GOSTOU, VEM PRO PAU!

Ali o Brasil se decidiu por encarnar de novo o espírito voador de Santos Dumont e, com toda a potência, com um milhão de cavalos de força acima, em direção ao céu de estrelas (não de nuvens: de estrelas), com o Veículo Lançador de Satélites para começar. 

[Veículo Lançador de Satélites, VLS, um belo projeto brasileiro que foi boicotado o tempo todo pelos Estados Unidos, até explodir em 2001, num acidente que muita gente ainda não engoliu.]

Esse Brasil, de muita ciência e alta tecnologia, disposto a enterrar e plantar grama sobre todo o obscurantismo provindo dos quatrocentos anos de escravidão, resoluto em criar e ofertar primorosa educação pública para cada um de seus meninos e meninas, em menos de trinta anos convertido no mais sofisticado país do Ocidente em termos educacionais e culturais, também tem o seu lema: BRASIL, O PAÍS DAS ALTURAS.

E é claro que não podemos nos esquecer do mais célebre lema do Brasil, ou atribuído ao Brasil por um estrangeiro, um judeu europeu refugiado de guerra, chamado Stefan Zweig: BRASIL, O PAÍS DO FUTURO

A ditadura de Vargas encomendou a obra de Zweig, mas melou a circulação dos livros, com a acusação de comunismo. O desterrado Zweig, inimigo vencido dos nazis, viu-se nas mãos de gente que simpatizava com o regime de Hitler, cá em terras brasileiras, e suicidou-se.

Mas que slogan bonito, e sobretudo verdadeiro, nós poderíamos ter? Que significasse bem o conjunto de necessidades e realizações que definem o Brasil de hoje? 

É certo que precisamos de luta, as grandes lutas nacionais, populares, contra as oligarquias e os abusadores da sociedade, de todos os tipos e origens.

Mas nós também precisamos criar inteligência, a esquerda brasileira precisa se dedicar à autocrítica como em nenhum outro momento, para viabilizar uma refundação da esquerda, um renascimento de esquerda, e temos de ser sérios nisto.

Então, cravo aqui o meu lema nacional:
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BRASIL, UM PAÍS QUE PENSA! 

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