Antes de anunciar o filme por mim considerado merecedor de tal distinção --e que está disponibilizado na janelinha abaixo, em versão estendida--, vou fazer uma breve introdução.
O filão surgiu em 1903, com O grande roubo do trem (d. Edwin S. Porter), oito anos depois de os Irmãos Lumière terem exibido os 55 segundos do seu L'Arrivée d'un Train a La Ciotat, inventando o cinema.
Dos milhares e milhares de bangue-bangues lançados nestes 110 anos, qual pode ser considerado the best? É difícil dizer. Inexiste uma opção tão amplamente aceita quanto Cidadão Kane (d. Orson Welles, 1941) como o melhor filme de todos os tempos.
Os grandes westerns puros, que fixaram a mitologia do gênero, foram No tempo das diligências (d. John Ford, 1939) e Os brutos também amam (d. George Stevens, 1953).
O western mais corajoso e digno é fácil de apontar: Matar ou morrer (d. Fred Zinnemann, 1952), uma parábola devastadora sobre o macartismo, realizada por alguns dos atores e técnicos que estavam sendo por ele perseguidos e lançada no auge mesmo da caça às bruxas. É de arrepiar a cena em que o xerife (Gary Cooper) atira a estrela no chão e parte enojado da cidade que o tinha como ídolo, mas o abandonou no momento do perigo!
Os principais westerns outonais, retratando o fim desse período histórico e o crepúsculo das lendas por ele engendradas, devem ser creditados a Sam Peckinpah (Pistoleiros do entardecer, 1962; e Meu ódio será sua herança, 1969) e a Sergio Leone (Era uma vez o Oeste, 1968).
Finalmente, meu palpite como o melhor de todos os tempos é Três homens em conflito, de 1966, o extraordinário épico de Leone sobre três aventureiros (o bom Clint Eastwood, o mau Lee Van Cleef e o feio Eli Wallach) que caçam um tesouro em meio à Guerra da Secessão.
Foi o chamado tour-de-force de Leone, a obra em que ele definiu e afirmou seu estilo, embutindo no cinema de ação discussões mais profundas, sem prejuízo do entretenimento propriamente dito. Trata-se de um tipo de obra em camadas. De acordo com sua sensibilidade, o espectador pode se divertir apenas com o básico ou captar os muitos toques e leituras subjacentes.
E é grandiosa a crítica que Leone fez ao belicismo, com três das sequências mais comoventes que o cinema já apresentou:
- o oficial bêbado sem coragem para destruir a ponte e, assim, deter a matança inútil;
- a orquestra do campo de prisioneiros tocando para abafar os ruídos da tortura;
- o jovem soldado agonizante a quem o Estranho Sem Nome dá seu charuto.
O duelo triangular no centro do cemitério é o mais artístico e climático que o cinema já apresentou e tem a valorizá-lo um tema emocionante de Ennio Morricone. Foi citado (ou seria melhor dizer copiado?) por Quentin Tarantino em Kill Bill.
Leva quase três horas e vale cada segundo. Assistam e constatem!
.
8 comentários:
Celso, o que você acha dos filmes do Scorsese?
Não é de se deixar de ver, mas eu o considero um pouco superestimado.
O "Taxi Driver", p. ex., me entediou em vários trechos, poderia melhorar muito com a supressão de uns 15 minutos. O final, claro, foi um arraso. Hoje, eu reveria o tiroteio, mas não o resto.
Já de "Cassino" dava pra cortar uma hora sem prejuízo nenhum. O personagem da Sharon Stone tem um destaque desproporcional, a história de gangstêres interessava muito mais.
"O último concerto de rock" é um porre para quem gosta da música daquele tempo. Gosto demais.
Já "A cor do dinheiro" é um horror. Tudo bem que a culpa maior é do novelista e do roteirista, mas o Scorcese deveria respeitar a obra-prima que é DESAFIO À CORRUPÇÃO, do Robert Rossen.
O Eddie Ligeiro, personagem do Paul Newman, sai daquele filme rompido com o esgoto que envolve a jogatina. Se ele tivesse se tornado o calhorda do segundo filme, capaz até de sentir o odor da grana, toda a via crucis pela qual passara teria sido inútil. Enfim, se eu tivesse de escolher a pior sequência da história do cinema, cravaria direto A COR DO DINHEIRO. É um crime de lesa-arte!
Abs.
Assisti. Fiquei pensando que não havia computação gráfica e aquele cemitério foi todo construido. E no duelo lembrei da teoria dos jogos. Jogos não cooperativos e de informação assimétrica. E o dilema final do feio, ele teria a sua parte do tesouro, mas teria de ser honesto a força... A típica soluçāo mini-max. Como cinema não tenho conhecimento para comentar. Ocorre-me a citação "Ars gratia artis".
Aspectos interessantes, Sady. Quanto ao artesanato da coisa, impressiona mesmo. Com orçamento nem de longe comparável aos dos épicos de Hollywood, utilizando atores que não tinham status de astros, o Leone tirou leite de pedra. O Tarantino está certo em invejar aquele duelo na arena, é um arraso. Um abração!
Celso, ainda sobre o Scorsese, o que achou do filme 'o lobo de wall street"?
Celso, sobre a pergunta que te fiz sobre o Scorsese, incrível como empatia é uma coisa complicada mesmo. Assisti a Táxi Driver quando eu tinha uns 19 anos e me vi representado no personagem do DeNiro. Não vou te aporrinhar sobre o que acontecia comigo na época, mas, graças a outras coisas com as quais trombei, pude dar um caminho melhor pra minha vida. Mas, de qualquer forma, ainda nutro um carinha todo especial pelo filma. Caramba, era eu tá tava sendo retirado ali no personagem do Travis! Abs...
Quanto aos cults pessoais, a coisa é mesmo assim. E, quando a gente passa muito tempo sem rever aquele filme, geralmente se decepciona quando enfim o assiste de novo.
Caso de um japonês que eu vi quando era crítico de cinema e tinha permanente para os cinemas japoneses do bairro da Liberdade. Chamava-se INFERNO NESTA VIDA.
Procurei-o na internet uns 8 anos (não sabia o título original, nem nome do diretor ou dos atores). Finalmente, acabei encontrando-o num site hispânico. E constatei que já não me fascinava mais, talvez porque mais tarde eu houvesse assistido a filmes japoneses na mesma linha, só que muito melhores.
Quanto ao LOBO DE WALL STREET, confesso que passei batido. Estou baixando agora.
Celso, acho O Lobo de Wall Street o melhor filme do Scorsese desde Táxi Driver. A película tem 3 horas, mas, de tão dinâmico,aparenta ter metade disso. Até o canastrão do DiCaprio tá bem no filme.
Postar um comentário