quarta-feira, 13 de abril de 2016

PARA DALTON ROSADO, A HISTÓRIA SE REPETE DE FORMA TRAGICÔMICA.

A GUERRA DO IMPEACHMENT
(ou AS VÍSCERAS EXPOSTAS DA POLÍTICA)

Por Dalton Rosado
Há uma falsa dicotomia em curso: ser contra ou a favor do impeachment. Nesse sentido a história se repete de forma tragicômica. A discussão sobre o Governo Dilma, do Partido dos Trabalhadores, ser corrupto ou não; ter cometido crime de responsabilidade ou não; ter traído as bandeiras socialistas ou não; tira o foco da questão central: a crise terminal de um modelo de relação social fundado na produção de mercadorias que chegou ao seu limite existencial.

O desvio da questão central não ocorre por mera ignorância ou inconsciência das elites, mas por uma manipulação das consciências coletivas no sentido de que “devemos mudar alguma coisa para que tudo permaneça como está”. 

Alguém tem dúvidas que o PT há muito tempo entrou no jogo sujo da corrupção que financia a política eleitoral para a sua manutenção no poder? 

Alguém tem dúvidas de que aqueles que querem a destituição do PT do governo praticaram e praticarão as mesmas condutas que hoje recriminam? 

Alguém tem dúvidas que as grandes empreiteiras, que colocam nos seus orçamentos para as licitações de obras públicas os custos da propina eleitoral, continuarão a operar as maracutaias de sempre como modo de custeio do caríssimo processo eleitoral?

Alguém tem dúvidas de que o critério político de escolha dos mais altos cargos da magistratura está inquinado pelo vício da partidarização e torna facciosos os atos jurisdicionais sobre questões de alta indagação e de relevante interesse público?

Alguém tem dúvidas de que a constituição preserva privilégios segregacionistas? 

Alguém tem dúvidas sobre os reprováveis critérios politico-financeiros de escolha eletiva dos parlamentares? 

Alguém tem dúvida de que é a maioria dos cidadãos, já exaurida pela extração de mais-valia, quem financia por meio dos impostos toda a ordem sistêmica opressora que promove a eterna sucessão de governos que são impelidos a repetirem as mesmas práticas ditadas pela coerção da lógica mercantil da qual a política e o Estado são dependentes? 

Muitas outras indagações que refletiriam a obsolescência do nosso modelo de relação social e sua correspondente ordem institucional poderiam ser feitas, mas ninguém tem a menor dúvida sobre as respostas a essas indagações na mais íntima reflexão de suas consciências.             
A questão é que não sairemos dessa camisa de força se nos inserirmos na falsa dicotomia consistente na reduzida discussão sobre a competência e honorabilidade deste ou daquele governo, assentados (todos) sobre uma base de ralações sociais mercantis exauridas, anacrônicas, destrutivas, autodestrutivas, fetichistas, contraditórias, ecologicamente predatórias, segregacionistas, egocêntricas, mas incompreendidas pelos indivíduos sociais.

Estes, inconscientemente, a mantêm e agem mecanicamente em seu próprio prejuízo, porque induzidos coercitivamente a esse determinado fazer social, impelidos, seja do ponto de vista de sua necessidade da obtenção da sua sobrevivência pelo único modo que lhes é facultado: ganhar dinheiro via exploração pelo salário, ou, ainda, pelo massacre da introjeção midiática e educacional nas suas mentes de uma positivação deste fazer social que lhes é intrinsecamente prejudicial.

Mas, para desespero de quem acha que a saída está no confiável controle político, eis que esquerda e direita se revezam nos poderes institucionais mercantis mundo afora, sem resolver o problema de fundo: a débâcle social, pois com ela está sempre presente a promessa de insubordinação revolucionária.

Os governos de todos os matizes repetem as mesmas práticas, porque enquadradas num balizamento econômico no qual a política se transforma em mero coadjutor de uma lógica mercantil que caminha celeremente para o abismo. 

Nada mais keynesiano do que um neoliberal no governo em época de crise econômica e quando já foram vendidas as empresas estatais (aliás, mais do que repetidas, as crises se tornaram crônicas).

Nada mais conservador e restritivo de direitos do que um governo de esquerda seja ele social democrata, marxista-leninista ou keynesiano, quando governando dentro da atual base econômica falimentar do sistema produtor de mercadorias. As receitas são sempre as mesmas, e isso porque os pressupostos de governabilidade são sempre os mesmos. 

Ao invés de pugnarmos por esse ou aquele modo de governo político, o que deve estar em pauta é o impeachment da própria política e a superação daquilo a que ela serve: o modo de produção mercantil.

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