quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

APOLLO NATALI PERGUNTA: VOCÊ SABIA QUE HÁ UM BANDO DE ARAPONGAS BICANDO SUA PRIVACIDADE?


Lembra-se daquele telefonema que você deu há dez anos da praia, na madrugada enluarada, para sua vovozinha que fazia aniversário? Não? Pois a Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos não esqueceu. Ela conhece até o nome da parceira casual com quem logo depois você rolaria na areia...

Com o trabalho dessa agência, NSA em inglês, os EUA interceptam, analisam e armazenam cada comunicação de um cidadão para outro, em todo o mundo, cada telefonema, cada e-mail, cada patacoada espalhada pelos facebook e demais redes sociais da vida. E mais ainda.

A 40 quilômetros ao norte de Washington, em Fort Meade, Maryland, 30 mil arapongas da NSA interceptam e processam um tsunami de informações captadas das redes mundiais de comunicações digitais, via satélite e de difusão em larga escala. Chama-se o palácio do quebra-cabeça.

Para essa coleta de dados funcionar, a NSA conta também com centenas de milhares de contratados terceirizados para funções de segurança. Adivinhem o que acontece com a vida de um delator.

As informações constantes desse dossiê de cada ser vivente no planeta azul, cidadãos comuns, inocentes, pecadores, políticos, governantes, religiosos, são usadas contra qualquer pessoa que esteja na mira do governo por qualquer motivo, a qualquer hora. A NSA está decidida a tomar conhecimento de todas as conversas e de todas as formas de comportamento no mundo. Há no esquema um serviço central de segurança especializado na vigilância da China.

Sabe-se que é enorme o número de mortos cujos perfis continuam ativos nas redes sociais. Há uma projeção de que em 2030 haverá mais mortos do que vivos com contas no Facebook. Sosseguem, os mortos continuarão armazenados.

Para quem não leu 1984, de George Orwell, não custa lembrar. Pouco depois do fim da 2ª guerra mundial Orwell profetizou que, num futuro não muito distante, um Estado paranoico, dominado pela obsessão com os opositores, poderia recorrer a novas tecnologias para vigiar casa passo de seus súditos.

Ninguém teria privacidade. Não haveria onde se esconder. Nenhum santuário para onde fugir. Nenhum lugar para portar-se com naturalidade, nem mesmo uma praia em que se pudesse falar inocentemente com a vovozinha.

Orwell deu ao líder desse Estado paranoico o nome de Big Brother, ou seja, Grande Irmão (sua inspiração, claro, era Stalin, assim como o líder clandestino da resistência, Emmanuel Goldstein, simbolizava Trotsky).

Quando li 1984 eu era um rapazola e balancei a cabeça incrédulo quando Orwell previu que um aparelho de TV do Grande Irmão estaria de olho em todas as residências. Pois a NSA faz isso com os novos aparelhos de TV que têm internet. Colocou um olho na nossa TV nos espionando o tempo todo em nossas salas de visitas, na área de serviço, no banheiro, na cama conjugal.

Não adianta desligar a TV. Como em 1984, o olho do Grande Irmão, atual NSA, acompanha também cada cidadão caminhando por uma cidade.

O revelador dessa espionagem global dos EUA, o jovem gênio da informática Edward Snowden, disse a que veio durante entrevista quando morava no aeroporto de Moscou, à espera de que algum país o acolhesse. Acabou ficando na Rússia com sua namorada, sempre precisando pedir prorrogação de permanência.

Entre aspas, disse: Fiz o que acreditava ser certo e comecei uma campanha para corrigir esses males. Não agi para enriquecer.  Não fiz parceria com nenhum governo estrangeiro para garantir minha segurança. Em vez disso, levei o que sabia ao conhecimento público para que o que afeta a todos nós possa ser debatido por todos às claras e pedi justiça ao mundo. Essa decisão moral de falar ao público sobre a espionagem que afeta a todos nós teve um preço alto, mas foi a atitude certa a tomar.
 
Snowden levou da SNA, em pen drives, milhares de documentos ultrassecretos que revelam varreduras ativas de vigilância doméstica, mesmo em todo os EUA. São ações, as primeiras divulgadas no mundo, as mais invasivas e preocupantes que os metadados de telefonia, considerados somente uma parte ínfima da guerra da NSA contra a privacidade. Metadados: a agência sabe quem faz cada ligação, de onde, para onde, para quem, quando.

A aprovação da NSA pelo público americano despencou desde as revelações de Snowden. O governo e os cidadãos de outros países em sua maioria estão se afastando de empresas estadunidenses de tecnologia. Empresas e nações europeias preocupadas com a possibilidade de a normalidade corrente da nuvem ter sido comprometida pela NSA, estão trabalhando uma euronuvem.

O objetivo da NSA vai muito, muito além dos metadados. Ela quer saber tudo de todo mundo, colher todos os fatos, todas as comunicações sobre todas as pessoas . Esse caso de amor é antigo. O programa de coleta de informações dos envelopes do serviço postal dos EUA já existe há 100 anos. Com novas tecnologias, sua operação de rastreamento e controle isolado de correspondência (MICT em inglês) hoje escaneia e armazena os 160 bilhões de itens de correspondência enviados pelos americanos a cada ano.

É bem provável que os EUA tenham tirado de circulação o livro Snowden, um herói do nosso tempo, que conta toda a história do surgimento, aventuras e o trabalho chamado de libertário por uns, de espionagem por outros, de Edward Snowden. Eu consegui um exemplar de divulgação da editora Martins Fontes.

É uma história em quadrinhos! Simples, de agradável leitura, recheada de revelações sobre espionagens e ações de força nos entreveros políticos americanos. O autor, Ted Rall, esteve sob a vigilância da polícia de Nova Iork.

Jornalista, autor de novelas gráficas, cartunista de editoriais do jornal The Los Angeles Times e do AnewDomain-net, colunista do Creators Syndicate, é autor de livros  de comentários e de jornalismo em quadrinhos e em prosa. Um deles sobre o Afeganistão e outro de crítica a Obama, que à esperança e promessa de mudanças dos seus discursos eleitorais acrescentou a espionagem da NSA.

Eis alguns sistemas de coleta de dados de cidadãos em todo o mundo relacionados por Ted Rall, uma fração do supra citado tsunami de informações captadas das redes mundiais de comunicações digitais, via satélite e de difusão em larga escala, a partir do palácio do quebra-cabeça de Fort Meade:
  • Mystic – grava o conteúdo de áudio de chamadas telefônicas em alguns países e em 80% das ligações nos EUA;
  • Prism – recolhe indiscriminadamente todos os dados de usuários em poder das empresas de Internet;
  • Echelon – já nos anos 1980 coletava quase todas as comunicações na Terra;
  • Smartphones – juntamente com outros dispositivos eletrônicos, rastreiam todo mundo numa cidade;
  • Trailblazer – posterior ao 11 de setembro, amealha comunicações pessoais entre estadunidenses;
  • Thinthread –  programa da NSA semelhante ao Trailblazer, com melhores resultados e menor custo;
  • Stellar Wind - coleta metadados telefônicos de todos os estadunidenses;
  • Retro – permite que a NSA reproduza ligações feitas até cinco anos atrás;
  • Blarney, Fairnew, Oakstar, Lithium, Stormbrew – interceptam e armazenam 75% de todo o tráfego na internet nos EUA, como e-mails, mensagens de texto, navegação pela Web, atividade em aplicativos, ligações pelo sistema Voip, movimentação bancária on-line, vídeos.
Um artigo de 
Apollo Natali
colaborador 
deste blogue.

Um comentário:

Planckito (Julio Gómez) disse...

What Utopia do we address? We walked to "A Happy World" ?. With all these antecedents, the current way of the media and the leaders, increasingly determined to disguise reality and direct it to a point of no return where what is needed and promoted is the absolute control of each and every one of them. The actions and acts of men the truth is that I am pessimistic and I see closer Oceania or the World State than Utopia. Even thinking about sport, I think football is becoming the Rollerball that the global corporate state used as a distraction from the world's population in the Norman Jewison movie of 1975. https://planckito.blogspot.com.es/2017 /08/a-que-utopia-os-direcimos-caminamos-un.html

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