Lembrança inesquecível dos meus verdes anos é ter visto Maria Bethânia cantando "Carcará", com toda a contundência que a canção pedia. Aquele gritado "pega, mata e come!" impactava no âmago da nossa alma.
Era uma celebração da capacidade de resistência dos nordestinos, que aos trancos e barrancos iam sobrevivendo à miséria, à seca, à fome e à retirada forçada de sua terra natal para buscar esperança alhures.
Daí a citação que ela declamava no final da música:
"Em 1950 mais de dois milhões de nordestinos viviam fora dos seus estados natais. 10% da população do Ceará emigrou. 13% do Piauí! 15% da Bahia!! 17% de Alagoas!!!"
Hoje são outros os retirantes: os que deixam países periféricos, devastados pela penúria e pelas guerras, indo bater na porta de prósperas nações europeias, que cada vez mais as fecham na cara desses coitados.
Eis dados chocantes alinhavados pela Folha de S. Paulo:
- o fluxo de refugiados e imigrantes na Europa é o maior desde a 2ª Guerra Mundial;
- 1.005.504 pessoas chegaram ilegalmente à Europa entre 1º de janeiro e 21 de dezembro de 2015;
- o crescimento em relação ao mesmo período de 2014 foi de 365%;
- 3.692 pessoas morreram ou desapareceram no caminho até o continente europeu.
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