terça-feira, 8 de dezembro de 2015

TROCANDO EM MIÚDOS: O FIM DE UMA UNIÃO QUE NÃO DEU CERTO.

"Eu vou lhe deixar a medida do Bonfim,
não me valeu.
Mas fico com o disco do Pixinguinha, sim?
O resto é seu.

Trocando em miúdos, pode guardar
as sobras de tudo que chamam lar,
as sombras de tudo que fomos nós,
as marcas de amor nos nossos lençóis,
as nossas melhores lembranças.

Aquela esperança de tudo se ajeitar, 
pode esquecer.
Aquela aliança, você pode empenhar
ou derreter.
Mas devo dizer que não vou lhe dar
o enorme prazer de me ver chorar,
nem vou lhe cobrar pelo seu estrago,
meu peito tão dilacerado.

Aliás, 
aceite uma ajuda do seu futuro amor
pro aluguel.
Devolva o Neruda que você me tomou
e nunca leu.

Eu bato o portão sem fazer alarde,
eu levo a carteira de identidade,
uma saideira, muita saudade
e a leve impressão de que já vou tarde."
.
Esta canção me veio à mente ao ler o desabafo do vice à presidente, 
exatamente pelo tratamento poético que Chico Buarque deu à
 dor do rompimento de uma união, em contraste com as 
queixas rasteiras que Michel Temer fez à Dilma --a 
qual também saiu muito mal na foto, ao deixar 
vazar uma carta pessoal por crer que isto 
lhe proporcionaria algum ganho 
político. Os dois se merecem, 
mas o Brasil merece 
algo bem melhor.
.
   

5 comentários:

Valmir disse...

que diabo de telenovela ruim essa hein Celsão????
vou te fazer uma confidencia: três pessoas me fizeram entender o que é o Brasil de fato e parar de esperar que começasse a fazer sentido: Dias Gomes, Gabriel Garcia Marques e Luis Bunuel principalmente em O Fantasma da Liberdade. Antes achava que eu que era burro e não achava a chave do entendimento, que não conseguia compreender...não ha o que compreender, não ha o que entender. A novela de televisão é absurdamente ruim e sua estrutura circular e auto repetitiva parece a alienação total...nada mais equivocado: um monte de gente que acaba de jantar e não consegue sair da casa é a mesma coisa, a chuva que não para em Gabo é a mesma coisa. A herança da latinidade tardia, com a crueldade do Império Romano, a Igreja Católica, os Borgias, alCapone, o Fascismo..sim, a fonte da desgraça toda está na sua terra de origem, sinto informar, Não tem pra onde fugir.

celsolungaretti disse...

Valmir, é por aí mesmo.

Em termos artísticos, eu me identifico mais com o Glauber Rocha. Vejo a política brasileira como uma tragédia, ela me deixa profundamente enojado e revoltado.

TERRA EM TRANSE é o filme que melhor sintetiza o nosso país, com uma elite predadora, um povo tradicionalmente submisso e incapaz de assumir protagonismo histórico e o sacrifício periódico dos idealistas que tentam romper essa pasmaceira.

Abs.

Vitorio Malatesta disse...

Grande parte dessa crise política deve ser debitada à presidente Dilma por sua inabilidade política, por sua grossura.

Ríspida, arrogante e áspera até com parlamentares do seu partido. De alguns auxiliares diretos se tem notícia de ser pessoa simplesmente insuportável no trato diário.

Foram esperar o quê de uma burocrata que depois da luta armada enfurnou-se nos gabinetes refrigerados ficando sem nunca mais percorrer o caminho do trabalhador sofredor?

Quanto a crise econômica, a nomeação de Levy, um subalterno do Bradesco que adota política desastrosas contra tudo que seu partido pregou, Dilma mostrou seus equívocos, desacertos e sua incompetência que vai ficando renomada.

Como disse o jornalista Hélio Fernandes [93 anos] se ela não reunir um terço mais um dos parlamentares [172----{que ironia se somente 171 for contra o impeachment}] ela merece ser colocada fora da presidência.

Valmir disse...

tem razão..se vc restringir a paisagem a ser analisada aos limites da pátria Gláuber foi quem traduziu o Brasil em áudio visual: a intuição do gênio que senti mais intensamente é nos cangaceiros e jagunços de deus e o diabo e o dragão da maldade; todos agitam as armas constantemente mas quase nunca disparam; é só o gesto vazio...a farsa da guerra onde só se tem a perfídia a intriga e a opressão da pasmaceira;..agora isso me leva a outra coisa sinistra: Como de certo modo todos que se preocupam com o Brasil morrem antes da hora, precocemente, assassinados pelo.. Brasil; ou não isso que acontecem com sangue da transfusão contaminado com HIV que deram ao Henfil e ao Betinho?? Ou Paulo Francis atormentado pelo processo que lhe moveram pelos diretores da Petrobrás que não gostaram de ser chamados, imagine só, de ladrões.
Ou Gonzaguinha com um trator que cruza uma estrada a frente de seu carro, a noite, no interior do Paraná??? OU o Próprio Gláuber em sua febre espiritual causada pela realidade nacional?? Ou Raul Seixas??? quer dizer..a lista seria enorme se alguém se der ao trabalho de fazer...

celsolungaretti disse...

Valmir,

a minha impressão é de que se trata de uma sociedade hostil aos inconformistas. Quase todos carregam a mágoa de não serem reconhecidos como mereciam ou de não conseguirem mudar nossa triste realidade como gostariam. E isto, sei lá, os predispõe a tais infortúnios.

Quando conheci o Raulzito, lá pelo início da década de 1980, ele se ressentia muito do abandono. Era um náufrago de 1968 e foi por isto que nos demos bem por uns tempos.

O Glauber era um homem tempestuoso, que não conseguia fazer os brasileiros saírem de sua letargia, acabava sendo encarado como um gênio excêntrico.

O Paulo Francis foi assassinado pelos canalhas que se ocultam nas sombras da burocracia.

Sem nem de longe querer me comparar a eles, há quase 14 anos sou injustiçado por esses burocratas sem rosto, covardes e vis, que atacam pelas costas. Primeiramente na luta pela anistia, em que as normas do programa me garantiam o direito a ter meu caso priorizado, mas ignoravam minhas queixas olimpicamente. Tive de mover céus e terras para fazer valer meu direito. E só o consegui quando, graças do Jacob Gorender, perceberam que eu era um bode expiatório e não um vira-casaca.

Depois, contudo, continuaram burlando as regras do programa ao não me pagarem a indenização retroativa em 60 meses. Eu e alguns companheiros mais altaneiros fomos buscar o que nos era devido por meio de mandados de segurança. Aí o governo acordou e propôs que todos os anistiados com retroativo a receber aceitassem "voluntariamente" o parcelamento a perder de vista. A última parcela seria em dezembro de 2014.

A imensa maioria baliu "amém". E nós, que fizemos justiça ao nosso passado de resistência ao autoritarismo, passamos a sofrer uma terrível perseguição jurídica da Advocacia Geral da União.

Já lá se vão 106 meses que o processo se arrasta. No STJ, a posição da AGU já foi derrotada quatro vezes por goleada, sem que um ministro sequer ficasse a seu favor nas quatro ocasiões: numa definição genérica de parâmetro para julgar tais casos e, especificamente no meu processo, no julgamento do mérito da questão (8x0) e no de duas manobras protelatórias fulminadas por 7x0 e 8x0.

Finalmente, entrou com um recurso extraordinário e meu processo ficou pendente de uma decisão do STF sobre outro questionamento apelativo da AGU, cuja decisão sairá por estes dias.

Ou seja, toda a artilharia jurídica do Estado, bancada pelos impostos pagos pelos cidadãos, é utilizada não para servir os objetivos da Justiça (o governo jamais teve coragem política para alterar a norma que impunha pagamento em 60 dias, preferiu intimidar os beneficiados), mas para retardar o quanto possa o cumprimento de uma obrigação. Isto, em português claro, é um escancarado ABUSO DE PODER!

Vejo-me como um revolucionário que manteve a integridade, sempre resistindo às injustiças e não fazendo acordos podres com o poder. Isto me deu força para suportar situações horrorosas, como quando fiquei na miséria aos 54 anos e não tinha grana nem para o ônibus, sendo obrigado a fazer caminhadas de uns 15 quilômetros, além de perder a minha família e viver acossado por credores.

Não havia uma mão invisível movendo cordéis (salvo no caso da anistia), mas as situações funestas vão se multiplicando e alimentando umas às outras. Foi mais ou menos o que aconteceu com o Paulo Francis, mas eu sempre fui guerreiro, luto até o fim.

Acabei dando a volta por cima, mas foram muitas as vezes em que me senti exausto e tentado a dar um fim em tudo. Só não suportava a ideia de conceder a vitória à corja de Brasília que me perseguia. A teimosia me salvou.

O Cesare é outro que sofre uma surda perseguição. Uma juíza de primeira instância tentou modificar o que o STF decidiu, há muitas pressões para que não vá a público lançar seus livros, até mesmo o casamento dele atrapalharam.

Este tipo de cerco abate alguns, principalmente artistas, que não têm pele grossa como a nossa.

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