É desigual o artigo O naufrágio (vide íntegra aqui), do jornalista Mário Sérgio Conti, que teve atuação exemplar no Caso Battisti; mas vale pelos seis parágrafos finais, simplesmente devastadores, que merecem ser lidos e relidos à exaustão. Ei-los:
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"...os ganhos [econômicos] concretos [para os pobres] acabaram. Nem governo nem oposição cogitam reavivá-los. A rota que traçaram é a que foi adotada em outros oceanos, aliás sem resultado: austeridade. Querem afrouxar leis trabalhistas, tesourar aposentadorias, podar amparos estatais, aumentar tarifas, demitir às baciadas.
A queda já ocorreu. Porque PT, PSDB e PMDB adotaram a mesma divisa: nada pelo social, o Brasil não cabe no Orçamento da União. Os pobres devem se conformar, devem gramar de sol a sol como motoboys.
No dia de São Nunca os partidos verão o que fazer com ônibus, hospitais e escolas. Dane-se o sofrimento social. Naufragar é preciso.
A crise então cabe no lema punk no future. O futuro é o passado perpétuo: a conciliação conservadora dos bacanas, a casta parlamentar incrustada como craca nas ruínas do Estado, a política vista como gerência de negócios.
O povo foi condenado às galés e o Brasil, coletividade imaginária, regrediu à Nova República de José Sarney. Por isso, a vibração cívica desses dias é postiça. Ela não atenua a depressão que se espalhou como lama tóxica.
Só se deleita a gente surda e endurecida. Porque a pátria, como diria outro náufrago, Camões, está metida no gosto da cobiça e da rudeza, de uma austera, apagada e vil tristeza".
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