Por Clóvis Rossi |
O GOVERNO ACABOU, VIVA QUEM?
O governo Dilma Rousseff acabou nesta semana.
Dilma foi eleita em uma coligação formal com o PMDB, tanto que o vice-presidente (Michel Temer) é do PMDB, aliás presidente do partido. Temer rompeu com Dilma, em uma carta mesquinha, embora ele negue que se trate de rompimento.
Fatos posteriores, no entanto, evidenciam a separação: primeiro, os votos que peemedebistas deram para a chapa oposicionista na comissão que vai decidir se dá ou não andamento ao processo de impeachment.
Vamos combinar que a mais elementar lógica manda dizer que quem votou na lista da oposição quer defenestrar Dilma. Quem votou na outra chapa é contra o impeachment.
Brasil virou filme de terror sem fim, diz o Financial Times. |
Como se sabe, o resultado foi 272 votos na oposição (pelo impeachment, por tabela) e apenas 199 na chapa governista.
É aí que se dá a morte política do governo: perdeu claramente a maioria na Câmara dos Deputados, maioria que sempre foi escorregadia, mas, agora, escorregou de vez.
Mas a morte política do governo não veio acompanhada de sua morte jurídica: a oposição precisa de 342 votos na Câmara para aprovar o impeachment. Como teve, na votação para a comissão, apenas 272, tem-se que lhe faltam 70 deputados para poder afastar Dilma.
Resultado do imbróglio: nem o governo tem maioria para poder tocar a vida, nem a oposição tem a maioria qualificada para poder decapitar o governo que perdeu a maioria.
Bem que o Financial Times, tempos atrás, avisou que o Brasil parecia um filme de horror. O diabo é que será, salvo surpresas, uma película de longuíssima duração. Três anos exatos de agonia para reconstituir um governo que funcione.
Poderão ter peso decisivo os protestos contra Dilma... |
Claro que sempre pode acontecer de a oposição capturar os 70 votos que à primeira vista lhe faltam para afastar Dilma.
Se a lama que escorre abundantemente da Lava Jato chegar ao Palácio do Planalto; se as ruas se encherem de gritos de fora, Dilma!; se a delação premiada de Delcídio do Amaral trouxer revelações que comprometam a presidente, ela pode perder o emprego.
Se, no entanto, nada disso acontecer, a alternativa é Dilma recompor algum governo para substituir o que morreu com o afastamento do PMDB.
Como? Não faço a mais remota ideia nem creio que haja alguém no Brasil que tenha uma resposta.
Recompor a aliança com o PMDB? Michel Temer, o presidente do partido, deixou claro que quer o lugar de Dilma e, portanto, não pode ser condescendente com ela.
Tanto é assim que forçou a saída do líder peemedebista na Câmara, Leonardo Picciani, por ser considerado dilmista.
...e as novas delações premiadas prestes a saírem do forno. |
Foi o terceiro sinal, depois da carta e depois dos votos na comissão do impeachment, de que a aliança se rompeu.
A única maneira de eventualmente recompô-la é formar um governo que seja peemedebista de corpo e alma, o que significaria alijar o PT de postos-chave.
O PT não iria para o impeachment, mas tenderia a negar maioria à presidente.
Se todo esse formidável quilombo, como dizem os argentinos, já seria assustador em céu de brigadeiro, é puro terror em meio a uma baita crise.
Um comentário:
Com o navio a deriva, perdido, sem leme, vamos conhecendo o que foram esses treze anos; um governo politicamente covarde, conciliador com as ricas elites desse país. Nenhuma reforma ou enfrentamento com os seculares exploradores do povo.
Nesta quinta-feira o governo anuncia ter firmado convênio entre Procuradoria da fazenda, Procuradoria Geral Federal e Incra para executar os grandes latifundiários para fins de reforma agrária.
Pasmem: os proprietários de terras devem R$ 200 [duzentos] bilhões. Desses, 729 proprietários tem dívidas acima de R$ 50 milhões e esses mesmos 729 possuem mais de 4 mil propriedades rurais.
Reforma agrária, assentamentos [fonte: Carta Capital] FHC 420.000 [com números falseados---/Lula 525.000--Dilma 95.000.
É óbvio que firmou esse convênio "para inglês ver". Não haverá execução alguma. Tudo às pressas, no apagar do ciclo petista. Feito tão somente para pressionar a bancada de latifundiários no congresso a fim de evitar o impeachment.
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