quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

CLÓVIS ROSSI E SUA CRÔNICA DE UMA AGONIA INTERMINÁVEL

Por Clóvis Rossi
O GOVERNO ACABOU, VIVA QUEM?

governo Dilma Rousseff acabou nesta semana.

Dilma foi eleita em uma coligação formal com o PMDB, tanto que o vice-presidente (Michel Temer) é do PMDB, aliás presidente do partido. Temer rompeu com Dilma, em uma carta mesquinha, embora ele negue que se trate de rompimento.

Fatos posteriores, no entanto, evidenciam a separação: primeiro, os votos que peemedebistas deram para a chapa oposicionista na comissão que vai decidir se dá ou não andamento ao processo de impeachment.

Vamos combinar que a mais elementar lógica manda dizer que quem votou na lista da oposição quer defenestrar Dilma. Quem votou na outra chapa é contra o impeachment.
Brasil virou filme de terror sem fim, diz o Financial Times.

Como se sabe, o resultado foi 272 votos na oposição (pelo impeachment, por tabela) e apenas 199 na chapa governista.

É aí que se dá a morte política do governo: perdeu claramente a maioria na Câmara dos Deputados, maioria que sempre foi escorregadia, mas, agora, escorregou de vez.

Mas a morte política do governo não veio acompanhada de sua morte jurídica: a oposição precisa de 342 votos na Câmara para aprovar o impeachment. Como teve, na votação para a comissão, apenas 272, tem-se que lhe faltam 70 deputados para poder afastar Dilma.

Resultado do imbróglio: nem o governo tem maioria para poder tocar a vida, nem a oposição tem a maioria qualificada para poder decapitar o governo que perdeu a maioria.

Bem que o Financial Times, tempos atrás, avisou que o Brasil parecia um filme de horror. O diabo é que será, salvo surpresas, uma película de longuíssima duração. Três anos exatos de agonia para reconstituir um governo que funcione.
Poderão ter peso decisivo os protestos contra Dilma...

Claro que sempre pode acontecer de a oposição capturar os 70 votos que à primeira vista lhe faltam para afastar Dilma.

Se a lama que escorre abundantemente da Lava Jato chegar ao Palácio do Planalto; se as ruas se encherem de gritos de fora, Dilma!; se a delação premiada de Delcídio do Amaral trouxer revelações que comprometam a presidente, ela pode perder o emprego.

Se, no entanto, nada disso acontecer, a alternativa é Dilma recompor algum governo para substituir o que morreu com o afastamento do PMDB.

Como? Não faço a mais remota ideia nem creio que haja alguém no Brasil que tenha uma resposta.

Recompor a aliança com o PMDB? Michel Temer, o presidente do partido, deixou claro que quer o lugar de Dilma e, portanto, não pode ser condescendente com ela.

Tanto é assim que forçou a saída do líder peemedebista na Câmara, Leonardo Picciani, por ser considerado dilmista.
...e as novas delações premiadas prestes a saírem do forno.

Foi o terceiro sinal, depois da carta e depois dos votos na comissão do impeachment, de que a aliança se rompeu.

A única maneira de eventualmente recompô-la é formar um governo que seja peemedebista de corpo e alma, o que significaria alijar o PT de postos-chave.

O PT não iria para o impeachment, mas tenderia a negar maioria à presidente.

Se todo esse formidável quilombo, como dizem os argentinos, já seria assustador em céu de brigadeiro, é puro terror em meio a uma baita crise. 

Um comentário:

Alberto Lopes disse...

Com o navio a deriva, perdido, sem leme, vamos conhecendo o que foram esses treze anos; um governo politicamente covarde, conciliador com as ricas elites desse país. Nenhuma reforma ou enfrentamento com os seculares exploradores do povo.

Nesta quinta-feira o governo anuncia ter firmado convênio entre Procuradoria da fazenda, Procuradoria Geral Federal e Incra para executar os grandes latifundiários para fins de reforma agrária.

Pasmem: os proprietários de terras devem R$ 200 [duzentos] bilhões. Desses, 729 proprietários tem dívidas acima de R$ 50 milhões e esses mesmos 729 possuem mais de 4 mil propriedades rurais.

Reforma agrária, assentamentos [fonte: Carta Capital] FHC 420.000 [com números falseados---/Lula 525.000--Dilma 95.000.

É óbvio que firmou esse convênio "para inglês ver". Não haverá execução alguma. Tudo às pressas, no apagar do ciclo petista. Feito tão somente para pressionar a bancada de latifundiários no congresso a fim de evitar o impeachment.

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