A GUERRA PELA ALMA DO ISLÃ
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Por Clóvis Rossi |
Atentados nos Estados Unidos em 2001. Responsáveis? Radicais islâmicos, reunidos na Al Qaeda.
Atentados aos trens na Espanha, três anos depois. Responsáveis? Radicais islâmicos.
Atentados a ônibus e ao metrô em Londres, em 2005. Responsáveis? Radicais islâmicos.
Atentados de sexta-feira em Paris. Responsável? O Estado Islâmico.
O islã é, então, a fonte da violência que assusta o planeta? Não.
Não é minha opinião, irrelevante, mas a dos líderes dos principais países do mundo, congregados no G20, cujo comunicado final sobre terrorismo é claro:
"Nós reafirmamos que terrorismo não pode e não deve ser associado com qualquer religião, nacionalidade, civilização ou grupo étnico".
Aí, chega-se ao ponto.
Na verdade, há uma guerra surda entre a maioria islamista não radical e os fanáticos que praticam atentados e tentam recriar o califado, o governo de um Estado com base na sharia, a lei islâmica, cuja última expressão (o Império Otomano) foi abolida já faz quase um século (em 1924) pelo turco Mustafá Kemal Atatürk.
Dessa guerra dá bem ideia Hisham Hellyer, pesquisador sênior do Conselho Atlântico de Washington, em artigo para o Financial Times:
"O grupo [Estado Islâmico] visa muçulmanos bem mais do que quaisquer outros –e a maioria das pessoas que lutam contra o EI também é muçulmana".
A questão seguinte é saber se é possível "eliminar" os fanáticos (verbo usado pelo presidente Barack Obama) e, com isso, pôr fim ao terrorismo.
É esse esforço militar que foi agudizado pelos atentados em Paris, mas o mais lógico é admitir que não se ganha a guerra apenas pelas armas.
Tim Arango lembra, no New York Times desta quarta-feira, 18, que um predecessor do Estado Islâmico (Al Qaeda na Mesopotâmia), criado para combater a invasão norte-americana do Iraque em 2003, foi destruído e teve seus líderes mortos em 2009.
Mas, "depois que os americanos deixaram o Iraque, o grupo ascendeu de novo das sombras e, em sua reencarnação [o Estado Islâmico], tornou-se ainda mais brutal e determinado".
O sentido comum determina, pois, que, por mais que a ação militar seja indispensável, ela só será de fato vitoriosa se houver, também, uma guerra cultural pela alma do islã.
"Necessitamos uma forte identidade religiosa que convoque as pessoas à ação, mas ação de um modo construtivo, não destrutivo, e que promova a vida, não a morte", disse a The New York Times o imã Mohamed Magid, líder espiritual da comunidade muçulmana na Virgínia.
Mas que ninguém se iluda: não só a vitória militar não está à volta da esquina, na Síria ou no Iraque (bases do califado), como a batalha cultural também leva tempo.
É como disse o filósofo Bruckner à Folha: "Desativar militar, policial e judicialmente o radicalismo vai levar várias gerações".
Mas ou se começa já ou se eternizará o medo –e, com ele, a islamofobia.
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De arrepiar: esquecendo velhas rixas, torcedores ingleses cantam a
Marselhesa no estádio de Wembley, antes do amistoso com a França.
Marselhesa no estádio de Wembley, antes do amistoso com a França.
2 comentários:
Apenas uma minoria ínfima dos islâmicos são adeptos de práticas terroristas. Isso é fato. Agora, o fato de não serem terroristas não quer dizer que sejam democráticos. A religião islâmica tem sérios problemas em questões como separar as esferas públicas e privadas. Precisam passar por um choque assim como o cristianismo passou durante o século XVIII com o surgimento do iluminismo. Prova disso é como todos os países de maioria muçulmana, talvez com a honrosa exceção da Tunísia, possuem graves problemas quanto à laicidade dos seus Estados. Não é só o uso da força que vai resolver a questão, mas a resolução passa pelo uso de bala contra esses facínoras.
Um equívoco bem-intencionado não deixa por isso de ser um equívoco.
Infelizmente para todos nós, há sim problemas estruturais sérios na doutrina islâmica, que se baseia na submissão à autoridade e à pressuposição de um Deus tirânico.
Quem me dera "islamofobia" fosse um problema significativo. Acredito que nunca terá espaço suficiente para ser.
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