quarta-feira, 23 de setembro de 2015

POR QUE ALGUÉM COLOCARIA DILMA EM CIMA DE UMA ÁRVORE?

Estamos numa situação tão desalentadora que só nos resta rir para não chorarmos. E são poucos os que têm talento para nos arrancar boas risadas em meio aos desastres nossos de cada dia. Um deles é Ruy Castro, fera do saudoso Pasquim, mestre da ironia e mordacidade. 

Ele tenta explicar o que todos nos indagamos: como viemos parar no cenário apocalíptico atual, com o País convertido numa nau sem rumo, em que cada intervenção de quem 
deveria comandar só serve para piorar as coisas? 

Quanto à parábola do jabuti em cima da árvore, outra versão alude a uma vaca: não sabemos como chegou lá e a única certeza é a de que ela vai cair.

Descartado o uso grosseiro da palavra vaca, do qual o Ruy Castro provavelmente 
quis fugir, creio que a comparação com a ruminante seja a mais pertinente
neste caso, pois não resta nenhuma dúvida de que a Dilma está 
prestes a cair, caso não tenha a dignidade de saltar do 
galho por iniciativa própria enquanto é tempo.

O HOMEM ERRADO
Por Ruy Castro
Todos sabemos: se você encontrar um jabuti em cima da árvore, não queira saber como ele subiu até lá –foi alguém que o colocou. E por que alguém colocaria um jabuti em cima da árvore? Para preencher um tempo morto, já que um jabuti em cima da árvore não serve para nada. Ou para manter a árvore ocupada até chegar a hora de tirá-lo.

Em 2011, Lula colocou Dilma em cima da árvore, contando com que ela lhe devolveria o galho em 2015. Mas Dilma gostou do que viu lá de cima e quis continuar por mais quatro anos. Já aconteceu mil vezes: a criatura apaixona-se por si mesma, descobre que tem vontade própria e dá uma banana para seu criador. É elementar. Espanta que Lula não tenha previsto essa possibilidade.

Há outros espantos. Lula vendeu Dilma como uma grande gerente, uma executiva, uma administradora. Hoje sabemos que é exatamente o que ela não é –seu governo ficará como o mais incompetente da história. Se Lula achava que Dilma fosse aquilo tudo, revelou-se péssimo avaliador de material humano. Se sabia que ela não era, e a bancou assim mesmo, ele deve explicações ao seu pessoal.

Dizem que Lula escalou Dilma como sua sucessora porque Dirceu e Palocci foram abatidos no mensalão. Duvido –Lula os temia porque eram espertos e ambiciosos demais, poderiam crescer e engoli-lo. O ideal para Lula era mesmo Dilma, que o PT não queria, mas teve de digerir. 

Essa é uma característica do grande líder: quando ele erra, obriga todo mundo a errar com ele. Lula deve ter vendido Dilma como dócil, maternal e obediente. Ela se revelou voluntarista, grossa e incontrolável –além de politicamente desastrosa. Como se pode errar tanto?

Lula pôs o jabuti em cima da árvore. Isso é comum na política. Mas errou de árvore ou errou de jabuti. Em compensação, acertou um tiro no pé.

13 comentários:

Emilio Antunes disse...

Vai se chegando a um consenso: Dilma perdeu toda a condição continuar desgovernando
o país.
Ruy Castro, como muitos outros que analisam o desastre do desgoverno de Dilma, é um homem sério, responsável.

Seu artigo diz tudo além de ser respeitoso para uma mulher grosseira, insuportável no trato, conforme seus assessores próximos deixavam vazar já no seu primeiro mandato.

O tiro no próprio pé dado por Lula acabou por gangrenar seu partido.

E que triste epitáfio para a "mãe do PAC": "seu governo ficará como o mais incompetente da história".

O fim de uma era do PT e do Lula também.

Como podemos, muitos nós esquerdistas, votar continuadamente num partido cujos líderes sempre estiverem ideologicamente despreparados, desarmados.

Temos um pouco de culpa também.

celsolungaretti disse...

Sem dúvida. Eu acompanhei todo o processo de afirmação do Lula. De início ele era tido pelos cabeças do partido apenas como chamariz de votos, mas ninguém pensava nele a sério como governador ou presidente.

Era evidente que não tinha ideologia marxista (nem queria tê-la, ao contrário, p. ex., do Lamarca, que deu um duro danado para aprender). Mas, supunha-se que ele permaneceria devidamente enquadrado pelos marxistas do partido.

Infelizmente, estes também decepcionaram. O Zé Dirceu foi quem negociou com o grande empresariado a fórmula para que "permitissem" a vitória e a posse em 2002: o PT cuidar das miudezas e deixá-los ditar a política econômica.

A coisa desandou de vez quando os dois Zés foram tirados da jogada pelo mensalão. Aí o Lula se livrou da tutela e passou a agir como lhe dava na telha. Ou seja, como um mero pragmático, procurando agradar a gregos e troianos para que o PT se eternizasse no poder.

Quando a maré econômica virou, o barco começou a afundar. E a Dilma, com sua total inaptidão para o cargo, acelerou o processo.

Eduardo Rodrigues Vianna disse...

Mas Dilma está mesmo prestes a cair?

Olha só, Celsão, tenho procurado estudar, de um modo meio bagunçado até agora, uns posicionamentos mais longos, quero dizer de um longo fôlego, sobre a esquerda no Brasil, e gosto realmente de dois autores políticos de esquerda, aqueles tipos muito especiais a quem Lênin chamava "publicistas", que são o Jacob Gorender e o Chico de Oliveira. A mim me agradam bastante.

O Chico de Oliveira tem uma opinião interessante sobre o que está se passando, e creio que tem grande chance de estar certo. Para ele, o que existe é uma tremenda ESTABILIDADE do sistema social e político: o capitalismo está consolidado no Brasil após o regime de 64 — não somos mais uma economia capitalista subdesenvilvida embora a sociedade seja subdesenvolvida —, e o capital leva a sério a nossa posição como sexta economia mundial. A defesa que os banqueiros fazem da Dilma vai muito nesse sentido: crises fazem parte do sistema, para isso existem ajustes como o do Levy, e turbulências políticas devem ser evitadas, é um discurso até bem simples, simplório mesmo, mas verdadeiro do ponto de vista do capital.

Na opinião do Oliveira, tanto o impeachment quanto a renúncia são altamente improváveis. Não existe na opinião dele nenhum "avanço da direita", ou tal coisa existe somente em setores graúdos da imprensa, sem chegarem de maneira nenhuma a galvanizar um setor significativo do povo. A luta por impedir a presidente, então, tende a dar em nada, tão fracos ou desprestigiados são os Aécios e os Cunhas na atualidade — a menos, é claro, que Dilma seja apontada como uma criminosa a certa altura da investigação policial, e disso não existem quaisquer reais indícios. Bolsonaro faz barulho, mas só convence os próprios eleitores, o seu público pagante. Por outro lado, a situação brasileira em 2015 nada tem a ver com aquela de 1964, em que a reforma agrária, por exemplo, significaria a derrota política das oligarquias do Brasil (as reformas de base tinham um conteúdo propriamente revolucionário), dada a correlação de forças entre as classes sociais àquela altura. Ou seja, Dilma nada tem a ver com Jango no que diz respeito às condições do país e à etapa histórica. E mais, para que Dilma fosse impedida ou renunciasse, seria necessária uma consiste oposição política, que não existe, e nem pode existir, porque a política de um modo geral encontra-se num estado de esvaziamento. Se Dilma tivesse de se enfrentar com alguém tão inteligente e hábil como um Ulysses Guimarães, diz Oliveira em tom realista, a situação seria diferente. Ou, se o oponente fosse um Brizola, Dilma teria realmente um problema, porque o nível político de uma oposição conduzida por gente comparável a Ulysses ou Brizola seria muitas e muitas vezes superior quanto ao nível da política. E existem, pela esquerda, o PSOL, partido em que Oliveira milita, e o PSTU, sem a mínima chance de se firmarem como alternativa.

Segundo o ponto de vista do sociólogo, a perspectiva para o Brasil é a da manutenção de um governo médio tocado à frente pela força (a inércia) sem pensamento e sem grandeza da mediocridade pura e simples, o "melê brasileiro" como costuma chamar, com muita "tranquilidade" a partir de 2016, quando as taxas de crescimento voltarem a subir, ainda que só um pouquinho. O que entrou um crise segundo considera o Oliveira foi o lulismo, mas mesmo quanto a isto tem-se a sensação do nosso melê/inércia, porque Lula ainda é o político mais popular do Brasil, com chances de se eleger em 2018 conforme a situação seja empurrada com a barriga até lá. Oliveira acredita que Lula subirá o tom de modo falso, demagógico, fingindo-se "de esquerda" mais uma vez, embora sem chamar ninguém a derrubar a porretadas o maldito Joaquim Levy ou a latifundiária Kátia Abreu, como uma espécie de árbitro da política, com aquele jeitão de espantalho que os árbitros da política sempre têm, e que tende a dar certo em meio a uma cultura política como a nossa.

celsolungaretti disse...

Meu raciocínio é mais simples ainda: queiram ou não os banqueiros, façam o que fizerem, o arrocho fracassará porque divide o PT, a esquerda e todos os presumíveis apoiadores de Dilma pelo meio. Exatamente como aconteceu no tempo do Jango, quando o verdadeiro "líder" da oposição, que inviabiliza a política econômica do governo, era o Brizola.

Com o arrocho fracassando, a economia vai degringolar de vez. E o afastamento da Dilma será a única saída para evitar a conflagração social.

Aposto até meu último centavo neste roteiro, que não é o da minha preferência, mas é claramente o ponto de chegada das tendências presentes.

Eduardo Rodrigues Vianna disse...

Sim, é possível sim, embora eu tenha aqui com minhas bitucas que o bom e velho empurramento de tudo com a barriga seja ainda mais plausível. Veremos; há muito o que ser considerado quanto a este assunto.

Mas o PT já era, não é mesmo? Você veja que o partido não existe mais como tal. O Rui Falcão se pronuncia, e a fala dele, que é o presidente daquela bagaça, não repercute nada. Quem dá as cartas é o Lula, e só o Lula. Esse sujeito conduz uma pequena autocracia política, ou não tão pequena assim.

Anônimo disse...

Não tenho a menor simpatia pelo PT, nem pela Dilma. A minha preocupação é o Brasil. Também me importo com a minha situação pessoal. Caso fique desempregado na minha idade...

O custo Dilma está precificado. Caso a sanha enfraqueça ela poderá se valorizar.

Saindo por desejo próprio a situação se estabiliza como está e vai depender muito da impressão popular para que não se agrave até 2018. Não haverá melhora no curto prazo.

A perda do mandato, por cassação da candidatura ou impeachment, vai jogar o nosso país numa situação de instabilidade não vista nas últimas décadas. Os coxinhas de hoje não são mais as caixas de ressonância da clientela como em 1964. Os meios de comunicação oligopolizados não detêm mais o monopólio da informação.

Teremos uma polifonia caótica alimentada pelo descontentamento com o agravamento da crise econômica, que será maior sem a presidente. Mesmo tomando medidas para agradar ao mercado, que serão mantidas e aprofundadas, caso o Armínio assuma, pois diferente do Levy que agrada ao capital nacional, o compromisso do outro é com a especulação internacional, garoto de recados do Soros, veremos medidas ainda mais antipopulares e antinacionais.

A soma dos "amigos" nas redes sociais é mais influente que o conjunto dos âncoras da televisões e dos radialistas. A imprensa escrita morta e putrefata repercute através de memes, mas o ambiente virtual é como o real, os grupos e tribos falam apenas entre si.

No passado as classes média e alta dispunham do monopólio de mobilização. Apenas os movimentos que contavam com forte presença destes segmentos prosperavam no Brasil. As passeatas e manifestações pós golpe de 1964 e antes da decretação ao AI-5 foram exemplos. Até mesmo a luta armada era formada por estes extratos sociais.

Em 2013 tivemos as manifestações. Elas se iniciaram como uma revolução colorida contra o governo petista, visando 2014 e a vitória tucana. Mesmo com a participação de grupos mais radicais, como o MPL e o black blocs, a sua função inicial era fragilizar e posteriormente inviabilizar a continuidade do lulismo. Os meios de comunicação davam coberturas extremamente simpáticas ao revoltados, até um determinado momento. De repente as coisas saíram ao controle e ocorreu o acordo tácito entre Brasília, a vítima do momento, e o grupo que desencadeou o processo, a próxima da fila. A revolução devora os seus filhos, aquela massa devoraria os pais.

Vivemos tempos interessantes. Mesmo com muita gente nas ruas contra o governo são em sua absurda e absoluta maioria membros da classe média tradicional e da alta, lógico que aparecem imitadores, mas são poucos. O povão mesmo está à margem. Ele não vai para a rua em defesa da Dilma, irá em algum momento por medo de perder as migalhas materiais que caíram sobre ele nos últimos doze anos.

O impeachment da Dilma será totalmente diferente do ocorrido com o Collor. Contra ele estavam todas as forças organizadas do país. O confisco da poupança fez com que perdesse a única base social capaz de dar-lhe alguma sustentação. Agora é um pouco diferente, os que estavam a esquerda e foram contra o marajá-mor, agora mesmo que não tenham assumido uma postura ativa em defesa da Dilma, sairão no dia seguinte ás ruas contra o governo burguês golpista.

O choque será inevitável, o ânimo antipetista está exaltado, os coxinhas com a vitória tentarão cumprir o desejo de livrar o país do PT (tudo que não se enquadra no seu projeto de vida fútil e vazio, mesmo que tenham razão em algumas questões) e os ditos movimentos sociais, mais capilarizados e com maior estrutura que há vinte e cinco anos, disputarão o espaço, sob pena se serem esmagados. A eles se unirão as vítimas do ajuste, afinal estes não irão protestar contra quem já saiu.

Para evitar o mal maior é necessário reduzir a pressão e deixar a Dilma vagar por Brasília até o primeiro dia de 2019. Caso contrário o conflito será constante nas ruas, refletindo com força na economia o que realimentará o confronto.

Eduardo Rodrigues Vianna disse...

E agora, lendo aqui os jornais, vejo que o novo nome expressivo da política, ou o nome da política que os jornalões estabelecem como da maior expressividade e que nada tem de "novo", é o do Ciro Gomes. Esse cara é dos maiores demagogos do Brasil, além de ser um riquinho mimado, a quem faltaram umas bordoadas quando menino. Pois está aí, espertalhãozíssimo, fazendo o seu cartaz contra o "golpe", porque qualquer um que defenda a renúncia de Dilma, não precisa nem falar de impedimento, é "golpista". Logo ele, que saiu da ARENA. E impagável é o irmãozinho dele, mandando a polícia baixar o porrete no professorado em greve no Ceará, dizendo que professor deve trabalhar por amor, e não por salário. E a todas essas o povo pagando e levando trolha.

Eduardo Rodrigues Vianna disse...

Sobre o que o Jorge Rebolla escreveu.

De fato, uma DERRUBADA do governo não é desejada, por exemplo, pelo sistema financeiro, e o valor do mandato de Dilma está, eu também penso assim, "precificado"; pode subir ou descer. Maior que a crise econômica atual foi a de 1999-2000, e nem por isso houve algum banho de sangue nas ruas, a despeito da mal arranjado "FORA FHC". Os trabalhadores serão (ainda mais) arrochados durante um certo período, mas em certos períodos os trabalhadores são sempre imensamente arrochados.

Não existe, neste momento, nenhum golpe de estado à vista! O que existe é uma péssima qualidade da política. E não há uma oposição capaz de conduzir uma derrubada do governo, e muito menos uma perigosa direita fascista, capaz, realmente organizada, que vá muito além dos "revoltados on-line", disposta de início a qualquer coisa semelhante a uma guerra civil.

Este é um momento medíocre, cínico no mau sentido, hipócrita mesmo; abundam casquinhas a serem tiradas, e faltam rumos da parte dos partidos políticos. O que resta é a presente etapa do desenvolvimento do capitalismo no Brasil com todo o seu saco de maldades, que tem o atual governo como o seu melhor gestor a menos que Dilma seja afetada pela Java Jato, o que pode ser plausível, como pode não ser. Veremos, no próximo semestre, em que medida o mandato de Dilma valerá um precinho para mais ou para menos, conforme os indicadores econômicos melhorem, ainda que timidamente.

O capital sabe que o Brasil que se presta melhor a sua acumulação é o Brasil assim como está, sem processos violentos quanto à superestrutura política e jurídica. A presente etapa do desenvolvimento do capitalismo no Brasil engendra mais e melhor a sua "normalidade", a partir de 1990 pela via "democrática". Em torno disso se constitui, real e concretamente, a posição dos banqueiros em defesa de Dilma. Que pode mudar a certa altura como disse o Celso, como pode não mudar. Saberemos dentro de seis meses ou mais, se os prognósticos dos economistas, ou de CERTOS economistas, se concretizarem.

Sobre a esquerda. Não vejo como poderia se rearticular num curto prazo, ou mesmo num médio prazo. Nós não somos capazes nem mesmo de participar de modo unitário nos processos eleitorais, sem o PSTU, o PSOL, o PCB e os independentes de esquerda se digladiando quando chegam as eleições, cada um no seu quadrado para que cada sigla obtenha 1% dos votos ou menos, com o povo rindo da cara da gente e balançando a cabeça, esta aí é que é a verdade. Existe alguma coisa mais consistente em algum sentido, como o talentoso Boulos à frente do MTST, mas estamos longe de fazer o necessário. A maioria da "esquerda realmente de esquerda" até agora não sabe se apoia ou não apoia o governo Dilma (em que termos, até que ponto, sob que condições e com que perspectivas para atingir positivamente os trabalhadores), como vimos no 20 de Agosto. A crítica de esquerda é assim um bocado capenga, uma vez que não há uma frente, e dificilmente viria a existir. Se isto parece um exagero, vejamos como se relacionam os partidos que mencionei no meio sindical, ou as tendências internas do PSOL, para citar um exemplo particularmente dramático. E o PT tem alguma chance de representar a esquerda? Não, não tem. O que sobra deles é a figura do Lula. E agora há o sofrível Ciro Gomes, paladino da legalidade contra o "golpe", caricatura de Brizola sem nem um milímetro da grandeza de Brizola, muito valente para esculachar mulheres em hospitais públicos rodeado de seguranças, disposto a jogar um jogo estudado, para colher os frutos em 2018.

Posso estar enganado, claro, mas tenho para mim que não existem neste momento forças políticas capazes de arrebentar com as instituições pela direita ou promover amplos progressos pela esquerda, resultando o capitalismo brasileiro muito tranquilo dentro da "normalidade" do seu desenvolvimento — pesada, mas estável, funcional.

Quanto a Dilma, eu também penso que poderia e deveria renunciar.

Eduardo Rodrigues Vianna disse...

Mais um comentário, amigos, pode ser interessante aqui à nossa conversa.

O que seria, então, mais plausível a partir de agora? A realização do impeachment me parece pouco provável visto que Dilma não é até agora objeto de algum processo criminal, os pedidos de impedimento vão continuar sendo arquivados até que tal coisa ocorra. Mas a situação pode, sim, degenerar num tremendo angu-de-caroço no meio da sociedade em dado momento, algo muito mais próximo à grossa pancadaria, na rua, do que a qualquer golpe de estado. O autocrata Lula, que manda e desmanda no PT e tem uma ascendência completa sobre o governo, deseja isto? Não, não é a linha dele, por mais que os burocratas da CUT arrotem que estão prontos para pegar em armas: seria um espetáculo e tanto ver os figurões da CUT, que nem comando de greve dignam-se a fazer, como ocorreu agora há pouco com o profesorado em São Paulo, erguendo barricadas no Centro de São Paulo, os cinturões de balas apoiados nas panças de cerveja e whisky importado.

Rebolla observa que o mandadto de Dilama tem um preço para mais ou para menos, a depender das circunstâncias. Se tal preço cair aos olhos dos banqueiros, como o Celso aposta que acontecerá, acredito que a única saída plausível seria a renúncia, antes do impedimento, e com Lula pressionando abertamete pela renúncia. Penso que isto daria a Lula a oportunidade de sair-se por cima, como sempre, para afinar novamente a sua viola e reorientar a sua política, e sem uma posição frontalmente contrária a um governo Temer, isto é, com linhas de choque menos traumáticas, menos onerosas do ponto de vista político, midiático etc. Não há negociador mais hábil que ele, e cumprirá o seu papel de capitão dos bombeiros, sabedor que é das necessidades políticas do capital em primeiro lugar. Considero, então, que a renúncia de Dilma, se ocorrer, será pela renúncia por imposição do partido, isto é, por imposição de Lula. Saberemos em breve.

celsolungaretti disse...

Eduardo,

estou tendo de apagar alguns incêndios, falta-me tempo para responder convenientemente agora. Apenas dois toques: crise econômica pode ter existido igual, mas crise política, econômica e moral conjugadas, mais a total desmoralização do governo, é algo que não víamos desde 1964. Nem mesmo no "Fora Collor!" o quadro geral era tão ruim.

E, quando a economia degringolar de vez e ficar evidente que a Dilma não nos tirará do buraco, só vai nos fazer afundar cada vez mais, algum pretexto se achará para a destituição. As chances maiores, atualmente, são a rejeição das contas pelo TCU, o crime eleitoral e o eventual surgimento de algo que a ligue ao petrolão.

Mas, as filigranas jurídicas são o de menos. Quando os poderosos chegarem ao consenso de que ela precisa sair, sairão com ela.

Neste momento, o que pesa contra a Dilma já é mais do que havia contra o Collor.

Abs.

Eduardo Rodrigues Vianna disse...

Sim, é uma crise diferente de todas as outras na Nova República. É mais integral, mais estrutural, mais etc e coisa e tal.

Gostaria de saber, depois, o que você pensa sobre um eventual governo Temer quanto ao impacto que teria, a sua presumível correlação de forças, essas coisas.

celsolungaretti disse...

Dependerá, claro, de como e quando a Dilma cair.

Uma lição que aprendi nos anos de chumbo. Havia uma difusa insatisfação com a ditadura em 1969, porque a economia ia muito mal. O povo temia os milicos, evitava comprometer-se, mas se percebia claramente que muitos torciam por nós.

Aí, em 1970, os investimentos diretos estadunidenses no Brasil equivaleram aos dos 10 anos anteriores somados. Com isto se gerou um boom econômico que mudou completamente o humor dos brasileiros.

Ou seja, o Brasil era e é um país muito pobre. Depende dos poderosos nos fazerem passar fome ou darem uma boa levantada na economia por uns tempinhos.

Então, é bem capaz de, com a direita assumindo, ser-lhes conveniente repetir a mágica (em troca, p. ex., do pré-sal).

Em médio e longo prazo, continuaremos sendo sempre o que somos: explorados. A revolução é o nosso caminho, não o capitalismo.

Em curto prazo, têm poder de fogo mais do que suficiente para darem uma aliviada no aperto e fazerem os brasileiros felizes até a carruagem virar abóbora de novo...

Eduardo Rodrigues Vianna disse...

Haveria manobras e saídas à disposição por um longo período. A ALCA, por exemplo, Área de Livre Comércio das Américas, é algo que o Império nunca deixou de querer, e que a direita encamparia de novo, com entusiasmo. Em certa medida alguma coisa como a ALCA poderia significar um processo semelhante ao Milagre do Delfim em alguns aspectos. Mas é apenas uma hipótese, a título de ilustração.

Para que a revolução seja o caminho é preciso que se crie uma direção revolucionária, e não existe nenhum indício disso. Há alguma coisa pelo horizonte, gente boa e tudo, mas a situação da esquerda de um modo geral é muito ruim e julgo aquilo que conheço e vejo. Sou cético quanto aos nossos novos rumos de esquerda. A desmoralização da esquerda é grande, o nível político em geral é baixíssimo, a crise geral do capitalismo é estrutural por um lado, mas é uma crise DE CRESCIMENTO, por outro, e etc, e etc. Vai demorar.

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