quinta-feira, 24 de setembro de 2015

PT CONTRA PT. COMO PODERIA DAR CERTO?

Thomas Traumann, que já foi ministro da Comunicação Social do governo Dilma, veio ao encontro do que venho escrevendo há meses:
"São conhecidos os males que alimentam a ameaça de impeachment: articulação política inábil, comunicação desastrosa, paralisia administrativa e a sinalização mercurial dos rumos do governo. Porém, mais que o avanço das investigações da Operação Lava Jato, dos julgamentos do Tribunal de Contas da União e do Tribunal Superior Eleitoral e das idas e vindas do PMDB, o ritmo do processo do impeachment será dado pelo bolso do cidadão. 
São os índices de desemprego, inflação e queda no consumo que podem derrubar o governo, que podem levar milhões às ruas, gerar pânico no mercado financeiro e esfarinhar de vez a base governista".
Daí a minha certeza de que Dilma tem os dias contados, pois não conseguirá viabilizar o arrocho fiscal tendo contra si grande parte do eleitorado e da base de sustentação política de... Dilma! 

Foi o paradoxo que também derrubou João Goulart: por mais que quisesse ajustar a economia com receituário de direita, o seu genro Leonel Brizola impedia e implodia tudo.

O Guilherme Boulos, com toda razão, leva o MTST a invadir o Ministério da Fazenda para protestar contra Joaquim Levy.

João Pedro Stedile, os movimentos sociais, os petistas que não viraram neoliberais, até o recém-constituído Conselho Consultivo do PT, todos fazem tudo para deter Levy. 

E boa parte do empresariado também, pois a exumação da recessiva CPMF só convém aos bancos e desagrada em cheio à indústria e ao comércio. 

Se for rejeitada pelos parlamentares, outras agências de risco colocarão o Brasil no vermelho, o dólar subirá ainda mais, a crise econômica realimentará a política, etc. 

Tenho suficiente familiaridade com o xadrez para perceber que a partida já está mais do que decidida. Se fosse um pouquinho melhor, diria quantos lances faltam para o xeque-mate...

Será por não conseguir tirar o Brasil da recessão --mais provável é tornar-se depressão-- que Dilma vai cair.

E cairá, acima de tudo, porque tentou o impossível: depois de eleger-se com retórica de esquerda, quis socar-nos goela adentro as mais antipopulares medidas de austeridade.

Isto quem fazia direitinho eram Thatcher, Reagan, Pinochet e que tais. A Dilma deveria ter deixado o serviço sujo para a direita, pois a desumanidade é requisito prévio para a função. Ao assumir o mico em nome do PT, ela mergulhou o Brasil numa crise gravíssima e destruiu o partido.

Um elefante em loja de cristais não faria pior. E a sua passagem pelo poder terá sido como uma praga de gafanhotos, pois vai deixar atrás de si uma terra arrasada.

9 comentários:

Eduardo Rodrigues Vianna disse...

Há aqui um contraponto interessante da parte da Gringolândia, válido a título de informação, por agentes tão insuspeitos quanto a agência Moody's e o banco J. P. Morgan:

http://www.jornalcruzeiro.com.br/materia/641358/analistas-internacionais-nao-apostam-em-impeachment-de-dilma

celsolungaretti disse...

Para mim, essa agente opera na base do "achismo" como qualquer um e apenas utiliza uma retórica pomposa para adornar seus relatórios. O Clóvis Rossi já escreveu páginas memoráveis sobre os terríveis furos que cometem.

Eduardo Rodrigues Vianna disse...

Sim. Mas vale a pena ler o que dizem, ainda que por alto. O que está aí é a posição política deles até o momento, e não alguma análise muito profunda.

Jorge Nogueira Rebolla disse...

Tenho impressão que o Celso deseja ver a queda da Dilma e caso isso ocorra, a provável cassação do registro eleitoral do PT, para a purgação das transgressões dos que se diziam de esquerda e seguiram o receituário econômico do adversário.

Não sei se as negras tormentas que agitam o mercado financeiro internacional cairão antes, por esta incógnita acredito que o jogo na realidade pode ainda não ter começado. A imprensa quase não fala da queda contínua dos preços internacionais, seja das commodities ou da persistente desvalorização das empresas cotadas nas bolsas de valores, isto principalmente na Europa, apesar do quantitative easing que deveria ter inflado o mercado acionário.

Não será um raio em céu azul. Nuvens escuras da desinformação impedem que a maioria veja a instabilidade que cresce sem parar. Não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro os investimentos estão sendo revistos ou suspensos. Antes mesmo da montanha russa da bolsa chinesa os índices europeus já retrocediam mês a mês. Esta semana as quedas estão consideráveis e não apareceu nenhum analista para dizer se foi a questão A ou a B que determinou o número negativo.

Nos últimos seis meses com toda a comoção política e a recessão a Bovespa acumulou uma desvalorização de mais ou menos 14%. No mesmo período Frankfurt -21%, Madri -20% , Paris e Londres -15%. Novo York -10%. Todas estas praças beneficiadas pelo dinheiro de graça do quantitative easing, economias aparentemente em crescimento e sem coxinhas rolando pelas ruas. Estou com os dedos cruzados...

celsolungaretti disse...

Menos, Rebolla, menos. Apenas quero que acabe logo essa página infeliz da nossa História, para começarmos a reconstruir a esquerda, desta vez com alicerces sólidos.

Enquanto os destroços do petismo estiverem bloqueando o caminho, nem o Brasil sairá da recessão nem nós começaremos a fazer algo que se aproveite com o que tiver sobrado do incêndio.

Eduardo Rodrigues Vianna disse...

De fato, toda esta situação já encheu.

Eu pessoalmente preferiria ver uma renúncia política de Dilma; penso que faria uma parte da "esquerda" cair em si, por mais de um motivo.

Vocês vão talvez achar um tanto pueril o que tenho pensado sobre os politicões da "esquerda", esses que são ouvidos pela mídia: a primeira coisa que me vem à cabeça é o modo como tratam as pessoas do povo, e é sinceramente no que fico pensando.

Penso, por exemplo, naquele intragável Ciro Gomes mandando um paciente de câncer ir à merda porque questionou o muito gasto nos estádios da Copa e o pouquíssimo gasto com o SUS, ou no assassino Sérgio Cabral Filho esculachando uma menino de 14 ou 15 anos, morador de favela, porque questionou o abandono do CIEP local (o canalha Cabral Filho estava acompanhado do roedor Lula, e os dois ridicularizaram e esculhambaram com o menino, Cabral chegou a clasificá-lo como vagabundo, otário e bandido), ou no covardíssimo Requião ameaçando trabalhadores, mandando-os calarem a boca, em reuniões que promovia em bairros para discutir os rumos do Paraná desde que a discussão fosse de brincadeirinha. São alguns dos que estão aí, contra o "golpe" e "até as últimas consequências", como se qualquer um dos que citei fosse valoroso o suficiente para ir até as últimas consequências no caso de um golpe de estado. Eu não sei se esses "homens" são maus, ou se o poder realmente corrompe as pessoas, ao ponto de transformá-las nisso aí.

Os atuais populismos são arremedos de posicionamento político que servem para passar aquele maldito melzinho na boca do povo. E o nosso povo, por sua vez, não pode ver um melzinho, ali à disposição, que se derrete todo. "A nossa gente se vende barato demais", dizia Monteiro Lobato.

Meu desprezo pelo ideologia do lulismo/petismo e pelos seus dirigentes é completo. Felizmente a vida não é estática, as coisas se modificam, e estamos aqui, ainda ao início desta sociedade baseada em alta tecnologia. A certa altura, será possível criar um movimento político muito diferente de tudo que já se viu, debruçado sobre a questão da Democracia, porque todos os atuais meios de comunicação em rede serão mais tarde enxergados, entre muitas outras coisas, como dispositivos para a realização de uma Democracia de verdade, com letra maiúscula, contra toda sorte de parasita político, demagogo, pelego e por aí vai.

celsolungaretti disse...

Torço para que você esteja certo, Eduardo, mas acho isso meio difícil de acontecer numa sociedade que coloca o lucro acima de tudo.

Só uma sociedade que erija o bem comum em valor supremo poderá nos levar à plenitude democrática (na minha opinião, pelo menos).

Eduardo Rodrigues Vianna disse...

Eu estou me referindo a uma IDEIA, pois as ideias são fortes e precisam fazer parte da nossa melhor perspectiva. Para reconstruir a esquerda e conduzir as grandes lutas nacionais do futuro, precisaremos nos guiar por pensamentos desafiadores e profundos, de fácil compreensão, mas que exijam trabalho de base, elaboração, estudo, essas coisas. Que tipo de Democracia uma esquerda no Brasil do séc. 21, renovada, de luta, poderia querer reivindicar? Uma Democracia direta, é claro, feita para um mundo novo, com os materiais e recursos proporcionados pela tecnologia, e a tecnologia de agora para frente é digital.

Para nos empenharmos no trabalho de reconstruir a esquerda a partir da remoção do entulho petista (e necessariamente a partir daí), teremos de assumir o desafio extraordinário de criar uma tradição. As grandes manifestações de 2013, às quais dei tudo o que eu tinha àquela altura e não estou exagerando, foram somente até certo ponto porque não corresponderam a uma tradição nossa, bem disseminada, como a que existe em outras partes do mundo. Temos de criá-la, o que vai custar uma, duas ou três décadas de trabalho cotidiano.

A história revolucionária do mundo ensina isto: ao contrário do que algum incauo poderia pensar, as direções revolucionárias vitoriosas foram sempre as que criaram tradições, que se tornaram caras, caríssimas, em meio aos povos em que prevaleceram, e tal coisa, é claro, sempre demandou um tempo longo. Che Guevara, que era um bocado fantasioso em mais de um aspecto, não compreendia, por exemplo, que a revolução cubana começara entre 1920 e 1930, de maneira que, sem o movimento iniciado contra Machado trinta anos antes, aquele Primeiro de Janeiro de 1959 nunca teria ocorrido. Enfim, temos de criar uma nova tradição de esquerda, muito mais inteligente e livre, sabendo que o futuro é muitos anos à frente.

celsolungaretti disse...

Eduardo,

já não temos todo esse tempo pela frente. Se não conseguirmos deter o aquecimento global e a destruição insana dos recursos indispensáveis à sobrevivência da espécie humano, não haverá século 22.

A chance que resta, na minha opinião, é a de que, quando a humanidade estiver sofrendo as consequências mais aguda da crise capitalista e dos desatinos ambientais, una-se para sobreviver.

E esta união terá de ocorrer com a priorização do bem comum, caso contrário não funcionará. Então, nessas circunstâncias extremas, poderão ser lançadas as bases de uma existência solidária.

Quanto a processos longos como vc supõe, temo que sejam como a proposta do FHC, de conceder-se mais um ano à Dilma: tarde demais.

Abs.

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