Este morreu por não se prostrar aos inimigos de classe... |
Em 1967, aos 16 anos, fiz minha opção definitiva pelos ideais de esquerda, que eu então identificava somente com o marxismo.
Ideologicamente, desde então a única mudança importante nas minhas convicções foi ter saído dos cárceres da ditadura convencido de que nada, absolutamente nada, justificava o esmagamento do indivíduo pelo Estado, que eu e meus companheiros sofrêramos na pele.
Passei a colocar em plano de absoluta igualdade os objetivos revolucionários e o respeito aos direitos humanos. Ou seja, encaro ditaduras, permanentes ou transitórias, como incompatíveis com a dignidade do ser humano e também com a própria integridade da revolução, pois a desvirtuam irremediavelmente, favorecendo a imposição da vontade de nomenklaturas sobre os trabalhadores.
A revolução deve transferir o poder ao povo, não entronizar novos privilegiados.
Coerentemente, deixei de me considerar apenas marxista. No que tange à ditadura do proletariado, os anarquistas é que sempre estiveram certos. Se fossem ouvidos, a revolução soviética não frustraria as enormes esperanças que despertou, a ponto de tornar-se exemplo negativo que o capitalismo utilizou para dissuadir os trabalhadores de outros países de também lutarem por sua emancipação.
...ao contrário da dona Dilma e seus dois banqueiros. |
Hoje enxergo pontos válidos no marxismo, no anarquismo, no trotskismo e em muitas bandeiras específicas da geração 68. Se a humanidade vier a ser libertada (há, infelizmente, a possibilidade de o capitalismo a conduzir ao extermínio antes disto), será pelo que de melhor tais vertentes produziram. É essencial que estejam unidas nos momentos decisivos.
A revolução também não se confunde com capitalismo de estado, nem é necessariamente alavancada pela estatização da economia. Por tal caminho se chega mais facilmente ao fascismo do que ao reino da liberdade, para além da necessidade.
Fui dos primeiros a entrevistar o Lula na campanha eleitoral de 1989. Perguntei-lhe como faria para evitar que as estatais continuassem a serviço da politicalha. Ele respondeu que as colocaria sob a tutela de conselhos de trabalhadores.
Quando finalmente chegou à Presidência da República, não moveu uma palha neste sentido. Nem lhe foi cobrado, infelizmente. De 1989 a 2002, a esquerda não avançou, retrocedeu. E continua até hoje andando para trás, como os caranguejos.
Antes o impeachment do que esta abominação! |
Eu não mudei um milímetro: ainda exijo a entrega das estatais aos trabalhadores organizados, na esperança de que estes as mantenham nos trilhos, evitando que sejam saqueadas e destruídas pelos políticos profissionais ou em seu benefício, como ocorreu com a Petrobrás.
É patética a obsessão pelo poder sob o capitalismo que contagiou a maior parte da esquerda brasileira. Da Presidência da República à vereança, os cargos eletivos na democracia burguesa sempre foram encarados pelos revolucionários como MEIOS para impulsionar a revolução, meras FERRAMENTAS da ação revolucionária, e não como fins em si.
Hoje o PT incute em legiões de primários e fanáticos a noção maniqueísta de que vale tudo para preservar o mandato de uma presidenta desmoralizada e fracassada, inclusive apoiar-se em banqueiros e entregar a condução da política econômica a um neoliberal, ou seja, um INIMIGO DE CLASSE.
Dizem que salvar Dilma Rousseff é ser de esquerda, independentemente de ela pisar o tempo todo nos ideais e bandeiras da esquerda; independentemente de sua práxis há muito ser a de uma gerentona atrabiliária e obtusa, não de uma companheira presidente; independentemente de em momento algum ela haver admitido que a guinada à direita foi um erro terrível e se disposto a corrigir o rumo, passando a honrar suas promessas de campanha.
Repita comigo: L-U-C-R-O. |
A revolução é infinitamente mais importante do que o governo de Dilma. Desmoralizar a revolução aos olhos dos trabalhadores, fazendo-os identificarem-na com tudo que há de ANTIPOPULAR e ANTIÉTICO, é destruir a esperança num futuro igualitário e livre, em troca da renovação da licença para o PT continuar gerenciando o capitalismo para os capitalistas, como vem fazendo há quase 13 anos.
Mais do que um governo nos estertores, cabe-nos salvar a semente de uma nova esquerda, para irrigá-la e fazer com que frutifique amanhã. Os erros cometidos nos últimos governos nos servirão como bússola: teremos de fazer tudo bem diferente, para que os frutos dos nossos árduos e abnegados esforços não nos escapem novamente dentre os dedos.
De resto, como dizia o Cristo, deixai os mortos enterrarem seus mortos.
4 comentários:
Vai demorar.
ô Celsão..saiba que ainda te levo a sério né? vc é um cara honesto e coerente...
então queria saber: de todas as experiencias de socialismo, comunismo, social-democracia que existiram no mundo e quase não existem mais..qual a vc acha que chegou mais perto de ser, digamos, aceitável e recomendável para nosotros..pq, convenhamos, se nenhuma delas for minimamente recomendável é pq o tal negocio não existe né? e a tal "construção do socialismo" um tipo de trabalho da sísifo ainda mais inútil e penoso. Sem retórica de partidão, pelamordideus.
Valmir,
tenha pena do velho. Suas dúvidas são as de muitos comentaristas e eu já as respondi várias vezes em artigos como este:
http://naufrago-da-utopia.blogspot.com.br/2015/07/o-muro-caiu-chavez-morreu-os-eua.html
Já não tenho mais pique para responder a um por um. Seria também uma tarefa de Sísifo.
Conto com sua compreensão.
Abs.
Vou ser duro e ignorante ao mesmo tempo. Não sou admirador do socialismo extremado ou simplesmente " extrema esquerda". Mas reconheço que esse sistema Capitalista não pode continuar. Quanto ao colega aí de cima responderia: Os governos de Esquerda não prosperam porque não combinam com a natureza Humana. Simples assim, complicado demais.
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