sábado, 5 de setembro de 2015

O APOCALIPSE ESTÁ PRÓXIMO!!!

Se você abriu este post pensando encontrar alguma novidade sobre o desfecho da agonia lenta da presidenta Dilma Rousseff, lamento informar que foi só uma pegadinha.

Talvez o apocalipse em questão esteja mesmo próximo, mas não privo da intimidade do Temer, Cunha & cia. Quando houver uma data, não será aqui que você vai tomar conhecimento dela em primeira mão. 

Mas, o apocalipse está mesmo bem próximo: basta você clicar na janelinha abaixo para assistir a Apocalypse Now, (1979), o filme mais ambicioso da carreira de Francis Ford Coppola, mas que acabou batendo na trave, não sendo tudo que poderia ser.

A ideia era ótima: transferir a ação da obra-prima de Joseph Conrad, O coração das trevas (escrito em 1889), da África colonizada para a Ásia convulsionada pela guerra do Vietnã.

No livro, um vapor sobe um longo rio à procura de um chefe de posto a ser resgatado.
Hopper seria melhor protagonista bem melhor que  Sheen

No filme, é uma pequena embarcação militar que vai em busca de oficial (Marlon Brando) que endoidou, tornando-se uma espécie de deus para os nativos e criando um reinado de horrores.

A loucura da guerra x a loucura de quem não suportou mais a irracionalidade da guerra. E um sicário (Martin Sheen) incumbido de atravessar a zona da guerra para eliminar o mau exemplo que incomodava os guerreiros do Pentágono.

A viagem tem contornos de pesadelo, com matanças chocantes em penca; um oficial mais doido ainda (Robert Duvall) espalhando napalm para todo lado, só que este tipo de loucura os senhores da guerra aprovam; um show de coelhinhas da Playboy para a soldadesca que quase acaba em estupro coletivo, etc.

O que mais faltou para se tornar um monumento cinematográfico é o ator certo no papel certo. Se um Gary Cooper foi capaz de tornar Matar ou morrer num dos maiores westerns de todos os tempos, Martin Sheen, como matador que os militares estadunidenses incumbem de serviços sujos, não é crível em momento algum. 
Marlon Brando aparece pouco, mas rouba o filme.

Pior: como seu alvo é o Marlon Brando, o duelo fica totalmente desequilibrado: o carismático ao extremo contra o sem carisma nenhum. Quando estão ambos em cena, só vemos o Brando.

No final, quando ele pergunta "Quem é você, um carrasco?", ficamos com a impressão de que faz uma gracejo, tipo "Pode um sujeitinho tão insignificante como você ser um carrasco?".  Em suma, ao não conseguir Steve McQueen nem Al Pacino para o papel, Coppola pisou feio na bola. 

Tinha Dennis Hopper ao seu dispor, mas só o viu como um hippie na linha de Sem Destino. David Lynch enxergaria outro lado dele, em Veludo Azul, no qual Hopper faz um dos mais contudentes vilões de Hollywood. Atuando daquela maneira, teria travado um acachapante duelo  de interpretação com Marlon Brando. Mas, a chance passou na janela e só Coppola não viu...

Destaque, também, para a incorporação na trilha sonora de uma canção incrível do Doors, "The End". Caiu tão bem que ficou, desde então, identificada com o filme.

11 comentários:

axel_terceiro disse...

Celso, o que você acha do trabalho do Daniel Day-Lewis como ator? E sobre o filme Nascido para Matar do Stanley Kubrick, também ambientado no Vietnã, o que acha?

celsolungaretti disse...

Axel,

o Day-Lewis é um ator perfeito e carismático. Roubou o filme do DiCaprio em GANGUES DE NOVA YORK. Mas, falta-lhe ainda um grande papel (que, na minha opinião, não foi LINCOLN).

Vendo-o, às vezes fico com a mesma impressão que o Richard Burton me dava: de ser maior do que o filme e estar no lugar errado.

Quanto ao NASCIDO PARA MATAR, faz muito tempo que o assisti (estreou em 1987) e, na época, quando estavam sendo lançados muitos filmes sobre a guerra do Vietnã, não foi dos que mais me impressionou. Vou ver se reavalio qualquer dia desses.

Um forte abraço!

Celso

axel_terceiro disse...

Revi recentemente Nascido pra Matar. Aquela quebrada de ritmo que o Kubrick fez na cena dos caras sendo treinados e depois já no Vietnã, a meu vez, atrapalhou o andamento do filme. Me incomoda mesmo. Penso no Nascido pra Matar como uma espécie de dois bons filmes que poderiam resultar num ótimo caso a montagem ajudasse. Sobre o Day-Lewis, não consigo citar de cabeça nenhum outro ator com a sua mesma faixa etária que lhe seja superior (igual, talvez, o Sean Penn). O que ele faz naquele filme Meu Pé Esquerdo é um troço de outro mundo! E a cena final do Sangue Negro também é do caralho! Gosto muito das suas opiniões, Celso. Tanto sobre cinema como referente a outros assuntos de modo geral.

Forte abraço também!

axel_terceiro disse...

Celso, só mais uma coisa ainda sobre cinema: quem você colocaria no panteão de melhores atores de todos os tempos?

celsolungaretti disse...

Axel,

atores geralmente ficam bem em determinados papéis e noutros, menos. Então, pode passar por uma performance extraordinária o que apenas é afinidade com o personagem. P. ex., Mickey Rourke tinha tudo a ver com O LUTADOR. Avaliado apenas por aquele personagem, seria um gigante. Pelo conjunto da obra, nem de longe.

O Al Pacino é muito versátil, não me lembro de um filme em que ele tenha realmente destoado. Eu gosto particularmente de sua atuação nos dois filmes do Brian De Palma sobre gangstêres hispânicos, SCARFACE e O PAGAMENTO FINAL.

Mas, quando assisti PERFUME DE MULHER, só me ocorreu que ele jamais deveria ter um mínimo de simancol e jamais suscitar comparações entre ele e o Vittorio Gassman. Não deu nem pra saída.

Na fita italiana do Dino Risi, o militar traumatizado passa o tempo todo agredindo a todos que o cercam porque não admite despertar compaixão. Até que, numa circunstância extrema, não consegue ficar à altura do personagem que criara para si depois da cegueira. Fracassa. E a forma como o Gassman interpreta este momento de aturdimento e perplexidade é um dos maiores desempenhos que eu vi na vida. De arrepiar. Aí fica clara a diferença entre um ator muito acima da média e um fora-de-série.

Também me chama a atenção o fato de que o Gassman aparentemente não pega só papéis mais apropriados para si. Faz personagens os mais variados, e sai sempre bem. Vide, p. ex., a força de suas atuações em QUINTETO e SCIPIÃO, O AFRICANO... GENERAL DE CESAR. Passa da comédia para o drama com a maior facilidade.

O outro grande que eu lembraria é o Marlon Brando, pelo conjunto da obra e por outro dos momentos culminantes do cinema, o discurso de Marco Antônio em JÚLIO CESAR. Só discordo da excelência que lhe atribuem como Vito Corleone. Conheci suficientemente velhos italianos para perceber que ele compôs o personagem de forma um tanto estereotipada. Gosto mais dele em SINDICATO DE LADRÕES, CAÇADA HUMANA e O ÚLTIMO TANGO EM PARIS (neste, sua incrível atuação só não obteve reconhecimento à altura porque o filme despertava muitos preconceitos).

Finalmente, o Paul Newman era outro que saía-se sempre bem nos papéis mais diversos. E está simplesmente um arraso em DESAFIO À CORRUPÇÃO e O VEREDICTO (é difícil avaliar quem atuou melhor como advogado, ele ou o Gregory Peck em O SOL É PARA TODOS, foram dois monstros!).

Quanto ao Day-Lewis, infelizmente nada posso dizer sobre MEU PÉ ESQUERDO. Por causa de dois casos em família que me abalaram muito quando era criança, passei o resto da vida me esquivando de filmes, peças e livros sobre pessoas com defeitos físicos. Acho um tema doloroso demais para a arte.

Um abração!

celsolungaretti disse...

Na terceira linha, o revisor cochilou: o certo é "ele deveria ter um mínimo de simancol".

william orth disse...

Caro Celso, não vou deixar de dar minha opinião naquele que foi além de meu Pai, uma inspiração para para ir trabalhar em uma área extremamente sensível no Brasil e em qualquer local do mundo: SEGURANÇA PÚBLICA. A história de SERPICO, Interpretado por Al Pacino. SERPICO entrou na Polícia de Nova York (nos anos 60) como um " IDEALISTA". Denunciou IRREGULARIDADES e pagou um preço caríssimo por isso. Uma história REAL que mostra a dura realidade. Extremamente atual passados mais de 40 anos.

celsolungaretti disse...

Will,

SERPICO é um bom filme sobre a corrupção no seio da polícia e um policial honesto que a enfrenta. O problema é que se trata de um tema recorrente no cinema estadunidense e italiano, já vimos muita coisa nessa linha. OK, tem o mérito de ser baseado numa história real, mas os enredos feitos a partir de histórias inventadas seguem o mesmo diapasão.

Do mesmo diretor, o grande Sidney Lumet, eu te recomendo O PRÍNCIPE DA CIDADE. É uma variação sobre o mesmo tema, mas bem menos explorada nas telas: um policial que participava da corrupção generalizada e resolve purificar-se oferecendo-se como delator premiado (ou seja, toma a iniciativa de procurar a "polícia da polícia" sem estar na mira desta.

Não tem dramas de consciência expondo os demais policiais, mas entra em parafuso quando o obrigam a algo que prometera não fazer: revelar os podres de sua própria equipe. Aí tudo se torna extremamente doloroso para ele, pois é muito forte a lealdade para com os que dividiam com ele os riscos das ruas e de quem dependera a sua vida em várias situações.

Considero O PRÍNCIPE DA CIDADE uma obra-prima a ser reconhecida. Talvez tenha faltado um Al Pacino para ser mais valorizado. O Treat Williams até que se esforça, não está à altura do papel. Tanto quanto o Martin Sheen no Apocalypse Now.

Abs.

william orth disse...

Obrigado pela dica. Vou procurar assistir. Abraço.

Eduardo Rodrigues Vianna disse...

Soube um dia desses que o Marlon Brando foi convidado para fazer o Ben-Hur, de 1959, mas não quis, porque achou o projeto meio besta, sem graça. É interessante imaginá-lo, por exemplo, na cena das bigas.

celsolungaretti disse...

Pô, depois de atuar no JÚLIO CESAR do Mankiewicz, seria uma volta muito pífia à temática romana. Fez bem em recusar.

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