terça-feira, 22 de setembro de 2015

EM TEMPO DE GUERRA, MENTIRA (E MANIPULAÇÃO) COMO TERRA.

Carlos Ayres Britto, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, foi quem, no momento decisivo, salvou Cesare Battisti da perseguição inquisitorial encabeçada pelos reacionários Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski, juntamente com o carola Cezar Peluso.

(Abro um parêntesis: se você só se informa --ou desinforma-- nos espaços petistas, talvez estranhe a inclusão de Lewandowski nessa lista. Mas, caso tivesse, como eu, acompanhado cada segundo das quatro longas sessões em que se decidiu o destino de Battisti, perceberia que se trata de um inimigo figadal da verdadeira esquerda, a revolucionária, tendo várias vezes externado seus preconceitos. Perseguiu encarniçadamente o Cesare e votou sempre contra ele, tanto quanto os outros dois mastins.

O Lewandowski haver se tornado queridinho dos blogueiros e articulistas chapa-branca só demonstra o quanto o PT decaiu. Hoje não passa de mais um partido da ordem e do status quo.)

Parêntesis fechado, vamos ao que viemos: a manipulação desmedida que ora grassa na internet e até na mídia.

Sempre ponderado e imparcial, Ayres Britto concedeu à Folha de S. Paulo entrevista na qual avaliou inexistir, por enquanto, crime de responsabilidade que respaldasse o impeachment de Dilma Rousseff. Mas, disse muitas outras coisas e fez as mais contundentes críticas à presidenta.

O que interessava aos desesperados em salvar a cabeça da Dilma foi trombeteado no título e no abre da matéria; o resto, suprimido ou minimizado.

Então, se você não ficar esperto, será feito de tolo, manipulado sem dó nem pudor. Como pode constatar em seguida:

"A crise econômica se agudiza e passa a manter com a instabilidade política uma relação de causa e efeito, de retroalimentação. Aí, é natural que se pense numa alternativa de direção para o país. Não vejo nisto uma tentativa de golpe, desde que esta preocupação com a governabilidade não desborde, no plano já das providências, do esquadro constitucional. Tudo é válido, todos os antídotos para debelação da crise são válidos, desde que residentes na Constituição. A busca do fundamento jurídico para implementar esta intenção, este propósito, não é golpe.

O impeachment é um tema que não está imune à discussão. A presidente não pode ter a pretensão de excluir o substantivo impedimento da pauta, da agenda de preocupação nacional. Outra coisa é ela dizer: 'Não dei motivos para meu impedimento, não há fundamento jurídico'. Corretíssimo ela dizer isto. A outra pergunta é por que se chegou a este estado de coisa. Porque, por mais que se simpatize com ela, não se pode tapar o sol com a peneira.

O que é o chefe de um Poder Executivo? É uma autoridade pública eletiva que é chefe da administração pública, é chefe do governo e é chefe de Estado. E o fato é que ela vai mal nas três chefias. É uma opinião generalizada, e isso coloca o país numa situação delicada. Se o chefe do Poder Executivo vai mal nas três dimensões elementares, ele abre os flancos para que a nação discuta até a possibilidade do seu impeachment. (...) A situação factual pode chegar a um ponto tal de insustentabilidade da permanência da presidente." (OU SEJA, DISCUTIR E PROPOR O IMPEACHMENT DA DILMA, RESPEITADO O TEXTO CONSTITUCIONAL, NÃO É NEM NUNCA FOI GOLPISMO, AO CONTRÁRIO DO QUE ELA FANTASIOSAMENTE AFIRMA)

"Há uma ação de impugnação de mandato na Justiça Eleitoral. Seria uma via de desinvestidura da presidente da República... Isto (...) levaria de roldão a candidatura do vice-presidente também. Em noventa dias teríamos novas eleições." (OU SEJA, POR ENQUANTO BRITTO NÃO VÊ DILMA COMO PASSÍVEL DE IMPEACHMENT POR PARTICIPAÇÃO OU CUMPLICIDADE EM ESQUEMAS DE CORRUPÇÃO. MAS POR CRIME ELEITORAL, SIM)

"Ela não foi denunciada, ela está formalmente fora do petrolão. Se viesse a lume, neste caso, poderia ser até no mandato passado." (OU SEJA, BRITTO NÃO DESCARTA QUE, COM O SURGIMENTO DE NOVAS REVELAÇÕES DA OPERAÇÃO LAVA-JATO, VENHAM A EXISTIR MOTIVOS PARA O IMPEACHMENT, MESMO QUE OS DELITOS IMPUTADOS A DILMA SEJAM RELATIVOS À SUA GESTÃO ANTERIOR)

Resumo da opereta: ao contrário da imagem que foi vendida aos incautos, a entrevista do Ayres Britto foi muito mais negativa para, do que favorável a, Dilma.

Não que eu o considere um farol que ilumina o Brasil, longe disto. Apenas me irrita acompanhar o exercício cotidiano de tendenciosidade e primarismo por parte desses Goebbels em miniatura.

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