terça-feira, 14 de outubro de 2014

AINDA SOBRE O AMARGOR E A ESPERANÇA

Seu espectro agora é amplo, não apenas midiático...
Como não acredito que as verdadeiras soluções para os dramas brasileiros possam ser oferecidas pelos partidos e candidatos da política oficial, além de avaliar as opções oferecidas ao eleitorado na eleição presidencial de 2014 como pouquíssimo alentadoras, tenho me limitado a defender algumas posturas mais consequentes e a apresentar contrapontos  às propostas dos principais candidatos. Ou seja, tento levantar discussões que considero mais importantes do que a eleição em si, aproveitando o interesse despertado pelo pleito. 

Nem sempre sou bem sucedido, pois a forma primária e simplista da maioria dos internautas encarar as reflexões sobre política é atribuindo aos articulistas motivações menores, torcida por tal ou qual candidato. Colocada a questão nestes termos, eu verdadeiramente não estaria torcendo por ninguém, mas sim torcendo contra as principais candidaturas.

Como meus textos costumam seguir na contramão das pregações e práticas petistas, os fanáticos pela estrela desbotada já tentaram me desqualificar com absurdos (o de que, depois de 46 anos lutando pela revolução, eu teria mudado de lado) ou psicologices (a de que eu estaria desnorteado pelo rancor, em razão da falta de solidariedade e de espírito de justiça por parte dos grãos petistas, que cruzam os braços diante da perseguição que as burocracias do Estado me movem na questão da minha indenização retroativa de vítima da ditadura).

O segundo motivo faria algum sentido em se tratando de outra pessoa, mas os verdadeiros militantes revolucionários somos diferentes. Espelho-me na postura de Trotsky, o comandante operacional da revolução soviética de 1917 e o grande responsável por sua sobrevivência nos campos de batalha, que depois sofreria as piores injustiças. Nem mesmo seus entes queridos foram poupados. Ainda assim, ele se recusava a ser erigido em mártir, afirmando desconhecer qualquer "tragédia pessoal". Ou seja, o desvirtuamento da revolução era uma tragédia coletiva que atingira a ele como a tantos outros que se mantiveram fiéis aos ideais bolcheviques.
Aniquilação do inimigo é parte da cultura fascista, não da nossa.

O fato certo é que eu estava plenamente sintonizado com o ideário petista ao aderir ao partido nos seus primórdios, mas nossos caminhos cada vez mais foram se distanciando. 

Agora, p. ex., vejo a campanha dilmista insuflar desmedidamente o ódio e o medo, como se o único motivo para o eleitor reeleger a presidenta fossem as mazelas supostas ou reais de Aécio Neves e dos tucanos.

Enquanto isto, muito mais perspicazes e profissionais, os opositores fazem uma campanha para cima e martelam o tempo todo que, aos ataques e agressões, respondem com metas e soluções.

Os torcedores de esquerda, aqueles que abdicam do pensamento crítico e se tornam tão fanáticos quanto os devotos da Igreja Universal ou da Renascer, não só aplaudem tal postura execrável, quanto a praticam. Parecem ignorar que, assim, só sensibilizam e atraem os piores seres humanos. Satanizar o inimigo, desumanizando-o para transformá-lo no espantalho contra o qual os prosélitos se unem, não difere em nada do que a Ku Klux Klan fazia com os negros e Hitler com os judeus. 

Então, ao deplorar tal linha de atuação, apenas estou sendo coerente com o que sempre preguei. E não vejo motivo nenhum para deixar de fazê-lo só porque do outro lado está o PT. Defendo os mesmos princípios em todas as situações e quaisquer que sejam os personagens do drama. Isto se chama coerência.
Devemos personificar a esperança, não a vingança.

Eis, p. ex., como me posicionei em agosto de 2011 sobre o assunto, num artigo apropriadamente intitulado O amargor e a esperança (acesse-o aqui), no qual: 1) questionava os internautas que defendiam a aplicação da lei de talião contra os criminosos; e 2) recriminava os esquerdistas selvagens que, em nome da realpolitik, se alinhavam com um dos ditadores mais sanguinários do planeta:
"No fundo, são dois exemplos de um mesmo comportamento: pessoas que abdicam de serem boas, justas, nobres e dignas. Preferem ser amargas, más, rancorosas e vingativas. Optam por jogar a civilização no lixo, apoiando a imposição da força bruta e abrindo as portas para a barbárie.
Mas, nem a criminalidade será extinta com o extermínio dos bandidos (outros tomarão seu lugar, indefinidamente), nem a revolução mundial avançará um milímetro com a esquerda apoiando tiranos execráveis. Quem é guiado pelo amargor, apenas se coloca no mesmo plano do mal que combate, abdicando da superioridade moral e desqualificando-e para liderar o povo na busca de soluções reais.
No caso dos esquerdistas desnorteados, eles esquecem que os podres poderes se sustentam exatamente na descrença dos homens quanto às possibilidades de mudar o mundo.
Céticos, eles se tornam impotentes. Cabe a nós devolvermo-lhes as esperanças.
Nunca teremos recursos materiais equiparáveis aos do capitalismo. Nosso verdadeiro trunfo é personificarmos tais esperanças -- principalmente a de que a justiça social e a liberdade venham, enfim, a prevalecer. 
...ou falamos o que faz sentido para os melhores seres humanos (os únicos que conseguiremos trazer para nosso lado no atual estágio da luta) ou continuaremos falando sozinhos, sem força política para sermos verdadeiramente influentes".
É no que sempre acreditarei. Então, lamento imensamente que, no 2º turno da eleição presidencial, sejam os tucanos que apostem na esperança e seja o PT que instile o ódio. Isto poderá até servir para ganhar a eleição, mas não para reconquistar os idealistas e os justos, trazendo-os de volta para o nosso lado, como estavam, em peso, nos estertores da ditadura e alvorecer da Nova República.

Nós carecemos, desesperadamente, desses quadros de qualidade superior, movidos por ideais e não por interesses. São o ponto de partida para começarmos a reconstruir a esquerda brasileira, depois de sua credibilidade ter atingido o fundo do poço. 

Um comentário:

Anônimo disse...

Texto de rara clarividência, como é habitual encontrar neste blog. Parece que os marqueteiros e líderes do PT não visitam esse espaço e,alguns poucos outros, senão tirariam grandes lições de ciência política.

A campanha do candidato governista( de direita ) no RJ está incorrendo no mesmo erro e falta de sagacidade, o adversário(Crivella) só faz crescer com uma campanha mais simpática e envolvente, não obstante ter por trás a famigerada IURD.
Alyson

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