O local do acidente, quatro dias depois. |
Um dia depois do acidente que vitimou Eduardo Campos, fiz blague com uma teoria da conspiração que o Olavo de Carvalho espalhou na internet (vide aqui), pois não tinha pé nem cabeça sua insinuação de que o PT seria culpado.
Parti de uma visão realista sobre a quem interessaria a morte do neto de Arraes, indagando "qual seria o motivo de o governo atentar contra uma candidatura cuja existência dava a Dilma boas chances de liquidar a fatura no 1º turno, abrindo caminho para aquela que desde o início identificara como a candidatura mais nociva às suas pretensões, tanto que tudo fez nos bastidores para que Marina Silva ficasse fora da disputa".
Mesmo que se pretendesse atingir também Marina, provável companheira de voo, não faria sentido; afinal, enquanto Campos permanecesse como o cabeça da chapa, a participação dela não parecia capaz de alterar os rumos da sucessão. Já a comoção provocada por uma tragédia sempre pode ter efeitos imprevisíveis na mente dos eleitores.
Então, ainda que a aviação não seja uma das minhas áreas de interesse, um simples exercício do senso comum me levou a desconsiderar as hipóteses fantasiosas.
Fiquei satisfeito ao constatar que a explicação mais plausível do ocorrido é o estresse e desorientação do piloto, conforme explicou, nesta coluna aqui, a jornalista Eliana Cantanhêde, cujas ótimas fontes muitas vezes lhe antecipam off line o que será comunicado ao público adiante:
"[A desorientação espacial] pode ocorrer, por exemplo, com um movimento brusco da cabeça para olhar para fora durante a arremetida, que é procedimento quase sempre tenso, especialmente em condições meteorológicas adversas. E não se trata só de mera 'tontura', é algo bem mais grave do que isso.
Dentro da cabine, o piloto fica desorientado, deixa de ter noção da posição do avião em relação à terra. Não sabe se está voando de lado, embicando para cima ou para baixo. É como se estivesse solto no ar.
...A nova imagem da queda, na prática a primeira de fato importante para as investigações, confirma que o avião caiu em ângulo muito acentuado e possivelmente com a potência máxima. Para especialistas, isso pode indicar que o piloto acelerou ou porque perdera o controle da aeronave, ou porque achava que estava subindo, sem perceber que o avião na verdade embicava para baixo.
Essa hipótese é reforçada porque o avião não pegou fogo no ar...
...a principal hipótese é falha humana, como, de resto, ocorre em 80% dos acidentes aeronáuticos. Sobretudo se o comandante da aeronave, dias antes, se dizia 'cansadaço'".
Resumo da opereta: é positivo que a era da internet dê oportunidade a todos de opinarem sobre tudo, mas quem tem (ou teve) como ofício relatar e interpretar os acontecimentos, se aplicado e competente, estará quase sempre em vantagem sobre os leigos. A assimilação das lições de muitos erros e acertos nos vai tornando cada vez mais perspicazes e, consequentemente, céticos em relação às especulações mirabolantes.
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