Logo após a prisão dos condenados petistas no processo do mensalão, houve forte contestação aos artigos em que eu discordara da forma como sua rede de apoiadores vinha travando a batalha de opinião.
Existem companheiros que não suportam a existência de vozes independentes no campo da esquerda; querem submissão total à linha justa, mesmo quando equivocada e desastrosa.
Comigo não, violão! Lembrando aquele verso de "La bamba", Yo no soy marinero [de primeira viagem], soy capitán. E, quando tenho certeza de estar certo, pressões e intimidações não me fazem recuar um milímetro.
Hoje estão mais do que evidenciados os seguintes erros crassos:
- a tentativa de nocautear o Joaquim Barbosa em função de sua conduta no feriadão, sem levar em conta que, percebendo ter extrapolado, ele poderia passar a proceder com mais tato e, assim, sair das cordas, pois ainda não estava verdadeiramente grogue (melhor teria sido esperar um pouco e só bater pesado quando ele já houvesse avançado demais para poder recuar);
- a falta de sensibilidade no tocante aos privilégios ostentados pelos detidos e seus visitantes, desconsiderando o fato de que a parentela dos outros presos é submetida a rigores e humilhações terríveis;
- a ênfase exagerada nos problemas de saúde do Genoíno, sem existir uma certeza de que as duas juntas médicas atestariam a gravidade do quadro; e
- o açodamento com que foi pleiteado o direito do Dirceu trabalhar fora, sem uma análise mais cuidadosa do ofertante do emprego, o que propiciou à Rede Globo um contra-ataque devastador.
O que faltou? Acima de tudo, humildade e serenidade. As atitudes e reações contraproducentes tiveram tudo a ver com a forte emoção causada pelas prisões.
Mas, no nosso caso, isto não serve como atenuante. Tínhamos a obrigação de estar cientes de que, confrontando forças tão poderosas quanto inescrupulosas, jamais poderíamos incorrer em irritação escancarada, impulsividade canhestra, desagravos intempestivos e emocionalismo exaltado; eles pavimentam o caminho da derrota nas batalhas de opinião.
Mas, no nosso caso, isto não serve como atenuante. Tínhamos a obrigação de estar cientes de que, confrontando forças tão poderosas quanto inescrupulosas, jamais poderíamos incorrer em irritação escancarada, impulsividade canhestra, desagravos intempestivos e emocionalismo exaltado; eles pavimentam o caminho da derrota nas batalhas de opinião.
Nos momentos desfavoráveis deve-se aparecer o mínimo, pois cada pronunciamento e gesto só faz aumentar o volume do noticiário adverso. Um porta-voz deveria ter lido um comunicado sucinto, reiterando posições, e mais nada.
Se houvessem consultado um administrador de crises profissional (o que eu já fui), ouviriam o conselho de portarem-se com a máxima discrição, fingindo-se de mortos até passar a onda contrária e tratando de preparar cuidadosamente o contragolpe.
Em vez disto, bateram de frente, desorganizadamente, com a blitzkrieg do PIG e foram por ela esmagados.
Algum dia esses companheiros aprenderão que, por não dispormos do maior poder de fogo, a nossa única chance é sermos mais inteligentes e hábeis do que o inimigo. Nem de longe o fomos, desta vez.
2 comentários:
toda vez que surge esse tema e se configura a situação que a esquerda superestima sua força e acha que tem muito mais poder que tem de verdade, fica arrogante..lembro da autobiografia de Ariel Dorfman relatando os erros da esquerda chilena no governo Allende, essa desconexão com a realidade e avaliação errada da correlação de forças..isso é decorrente do espirito de gheto onde todos ficam só ouvindo os colegas e se fecham para o exterior..não existe debate., o blogueiros da sinistra não admitem divergências só pregam pra convertidos todo o tempo..já sei direitinho como tudo isso vai acabar.
Você está certíssimo, Valmir!
Chamou-me a atenção que, no auge da canonização precoce do Genoíno em espaços virtuais da esquerda, uma pesquisa de opinião do UOL com internautas cravava: 85% a favor de que ele cumprisse a pena conforme estava estabelecida e só 15% apoiando o pedido de prisão domiciliar.
Eu escrevo tendo sempre em vista que precisamos trazer boa parte desses 85% para o nosso lado, se quisermos mudar verdadeiramente o Brasil.
Muitos esquerdistas escrevem de olho na aprovação dos 15%, sem ambição maior do que serem paparicados pelo "gueto", conforme a expressão apropriada que você usou.
Suponho que jamais virei a ser uma unanimidade, mesmo entre os meus. Mas, quero ser lembrado como um exemplo de integridade na esquerda.
Começando por ter esperado 34 anos por minha reabilitação pública, mas nunca haver aceitado acordos podres para ser reabilitado pela metade.
Preferi passar esse tempo todo como um lobo solitário do que omitir que havia sido terrivelmente sacaneado pelos companheiros da luta armada, ao me atirarem nas costas uma culpa que não era minha.
Minha história de vida me impõe o caminho da coerência. Não serei eu, jamais, quem fará média com os esquerdistas que enterram a cabeça na areia como avestruzes, recusando-se a aceitar, p. ex., a obviedade de que perdemos de goleada a última batalha de opinião.
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