Detesto novelas desde que assisti a um ou dois capítulos da primeira a ser lançada na TV brasileira, justamente no ano agourento de 1964: o dramalhão O direito de nascer.
Foi o que bastou. Decidi que jamais ficaria refém da máquina de fazer doidos, acorrentado à poltrona noite após noite.
E, para quem está habituado à linguagem cinematográfica, como exaspera a lentidão novelesca! É insuportável o destaque dado a acontecimentos e personagens insignificantes, apenas para encher linguiça enquanto o ibope compensar (se a audiência despenca, a chatice é liquidada a toque de caixa, para dar lugar a outra tão medíocre quanto...).
Para piorar, agora há novelões até na política, como o julgamento do mensalão. Por critérios estéticos, não merecia ter ficado em cartaz nem por uma semana.
Então, não há muito o que dizer sobre a 2ª temporada, salvo que desvia a atenção de lutas e bandeiras muitíssimo mais importantes para quem tenta despertar o Brasil do pesadelo capitalista.
Quem te viu... |
Só me resta repetir o óbvio:
- esquemas de corrupção do tipo do mensalão não constituem exceção, mas sim regra;
- os petistas só podem queixar-se do rigor inusitadamente adotado desta vez, num vivo contraste com a pizza em que costuma(va)m terminar os episódios denunciados;
- fico estarrecido com a ingenuidade de antigos companheiros de luta, que acreditaram poder incidir impunemente nas práticas características da política canalha, sem adivinharem que isto forneceria à imprensa burguesa um enorme trunfo contra a revolução à qual seus nomes continuam associados (a meu ver de forma errônea, pois se tornaram entes do sistema).
Torço para que os Robespierres do STF não consigam encarcerar o José Dirceu e o José Genoíno. Seria um flagrante exagero e eu detesto ver bodes expiatórios pinçados para purgar culpas coletivas.
...quem te vê. |
Mas, gostaria muito que ambos tivessem a humildade de fazer uma sincera autocrítica, pedindo-nos desculpas pelo imenso mal que causaram aos ideais nos quais um dia acreditaram... e nós continuamos acreditando até hoje.
Em O Estrangeiro, de Albert Camus, o personagem Mersault é condenado à morte por um assassinato cometido em legítima defesa, mas percebe que, na verdade, está sendo punido pela aparente insensibilidade com que acompanhou o enterro da mãe.
Da mesma forma, querem a cabeça do Zé pelo que zilhões de outros fizeram e fazem, mas sua culpa maior é haver se deslumbrado tanto com o poder que enfeixou sob o capitalismo, a ponto de aceitar noitadas com prostitutas de luxo como retribuição pelos favores prestados aos imundos do mundo dos negócios.
Aqueles a quem os deuses querem perder, primeiramente enlouquecem.
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