quinta-feira, 27 de setembro de 2012

A ZIGUEZAGUEANTE TRAJETÓRIA DE QUEM É MOVIDO PELA AMBIÇÃO

O bom jornalista Gilberto Dimenstein tocou num ponto interessante em seu artigo Russomanno está debochando?. Mas, nossas conclusões diferem um pouco.

Comecemos pelo Dimenstein:
"Geralmente (quase sempre, aliás) planos de governo e promessas de campanha quase se confundem em sua inutilidade. São apenas peças para atrair votos. Muitas das 'propostas' são elaboradas não por técnicos, mas por marqueteiros.

Uma vez eleito, o candidato é limitado pela realidade dos números --e os eleitores logo esquecem, afinal, resignam-se, 'todos os políticos são iguais'. Celso Russomanno, porém, parece estar conseguindo debochar ainda mais o que já é debochado.

Cobrado nos debates por não ter um programa, requentou (isso para ser generoso) um programa que entregou, por obrigação, ao tribunal eleitoral. Nenhuma --e nenhuma aqui não é força de expressão-- meta detalhada em números.
Algumas possibilidades, todas complicadas para quem se diz defensor dos direitos do consumidor:
  1. Ele não imaginava que iria tão longe na disputa eleitoral e que seria cobrado nos debates;
  2. Não acha plano de governo importante;
  3. Não acha que o eleitor ache plano de governo importante. E, portanto, tanta faz como tanto fez;
  4. Não dispõe de gente qualificada para, no mínimo, inventar um plano de governo.
Deveríamos inventar um Código de Defesa do Eleitor".
Russomanno deve mesmo ser combatido como o pior dos candidatos à Prefeitura paulitana, nem tanto pelo que é --não passa de um oportunistazinho que, por si só, nunca voaria alto--, mas por servir como  cavalo de Tróia  para Edir Macedo, este sim um vilão considerável, daqueles que constroem impérios do mal. Versão brasileira do  satânico Dr. Moon.

Todos os alarmes já deveriam ter soado quando se verificou a união de algumas empresas religiosas que, via de regra, competem encarniçadamente pelos otários a serem depenados. 

Se os vendilhões do templo somarem permanentemente as forças, como já fazem suas bancadas no Congresso, muita coisa ruim poderá acontecer. Afinal, têm um exército de zumbis para colocar nas ruas, o que hoje falta a quase todos os partidos, inclusive os de esquerda.

Hitler também era insignificante quando começou a discursar em cervejarias, daí ter sido tão subestimado. Deu no que deu.

Intolerância: o príncipio...
E alguns de seus truques estão sendo bisados, como a demonização de qualquer grupo como espantalho contra o qual unir o rebanho. Naquele tempo eram os judeus, agora são os devotos do cultos afrobrasileiros, os gays, os defensores do direito das mulheres ao aborto, etc. Nada se cria, tudo se copia.

Mesmo assim, sou obrigado, por minhas convicções, a fazer uma meia-defesa do Russomanno: plano de governo não tem mesmo importância nenhuma!

Trata-se de uma das muitas imposturas que a indústria cultural martela na cabeça dos eleitores, no sentido de reduzir as eleições a um mero cotejo de bonequinhos de ventríloquos a recitarem o blablablá dos marqueteiros, propostas mirabolantes e miudezas paroquiais.

O governador Geraldo Alckmin, evidentemente, não colocou na sua proposta de governo que detonaria os coitadezas da cracolândia e do Pinheirinho, nem que concederia à PM  licença para matar  (salvo no período eleitoral, quando, para salvar as aparências, age como acaba de agir: substituiu sofregamente um comandante da Rota que ele mesmo empossara e de cujos antecedentes --envolvimento no Massacre do Carandiru-- tinha a obrigação de estar ciente, não podendo alegar surpresa quando ocorre um mais do que previsível aumento da taxa de  homicídios oficializados).

O que deveria realmente ser considerado pelos eleitores é o programa do partido. Havendo um comprometimento com valores políticos e ideológicos bem definidos, o papel do eleito seria esforçar-se ao máximo para traduzir tais princípios na prática administrativa.

...e o fim.
Mas, claro, não interessa ao sistema fortalecer os partidos, pois os de esquerda teriam consistência muito maior. Então, a lavagem cerebral midiática é toda ela no sentido de  personalizar  a escolha.

O que vem ao encontro da cultura consumista: assim como se opta por uma marca de sabão, opta-se por um candidato. E ambos são embalados e promovidos da mesmíssima forma.

Então, melhor do que cobrar um plano de governo do Russomanno seria cobrar-lhe uma explicação pormenorizada sobre o que o atraiu no programa do PFL, no do PSDB, no do PPB/PP e no do PRB, já que são partidos com diretrizes e ideologias bem diferentes; por que saiu de um e ingressou no outro; se o atual é definitivo ou será trocado ao sabor das conveniências, etc.

Duvido que ele conseguisse encontrar alguma argumentação plausível para justificar sua ziguezagueante trajetória, típica de quem é movido pela ambição e por convicções.

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