As platéias são levadas a simpatizar com assassinos... |
Um dos filmes mais repulsivos da década de 1970 é Desejo de Matar (d. Michael Winner, 1974). Mostra um pacífico arquiteto que, depois de ter a esposa assassinada e a filha estuprada por marginais que invadem o apartamento na sua ausência, torna-se um sistemático justiceiro: perambula à noite pela cidade, buscando bandidos para os balear.
O pior é que se trata de uma obra de cineasta competente, então o espectador tendia a simpatizar com o carrasco voluntário, protagonizado por Charles Bronson.
Assim como o também competente Don Siegel tornara simpática a imagem de um policial matador de São Francisco (Clint Eastwood), em Perseguidor implacável (1971). A impotência das autoridades face aos criminosos, nas duas fitas, serviu como justificativa para execuções a sangue-frio.
Fora das telas isto nunca dá certo, nem mesmo na doentia ótica malufista de que "bandido bom é bandido morto".
Os resultados vão desde balas atingindo inocentes até farsas montadas para acobertar vinganças pessoais, passando pela experiência do grupo de extermínio da polícia paulista que, descobriu-se mais tarde, estava a soldo de um grande bicheiro e servia para eliminar a concorrência.
Como Freud cansou de explicar, os piores instintos humanos, deixados à solta, acabariam nos levando de volta às cavernas. Alguma autoridade precisa existir; o difícil é a mantermos sob controle, evitando que ultrapasse o limite entre a violência justificada e o o desejo de matar, como cansa de fazer a PM de São Paulo --aquela que nos toma por tão imbecis a ponto de acreditarmos que um celular possa ser confundido com uma arma de fogo.
Na noite última 6ª feira (20), um motoqueiro teve a oportunidade de sentir-se como o próprio Paul Kersey/Charles Bronson: percebendo que três assaltantes rendiam uma mãe e seu bebê, matou o primeiro com um único disparo certeiro. Os outros dois correram, mas um seria depois encontrado 10 metros adiante, com uma bala na cabeça. A polícia acabou prendendo o terceiro. O motoqueiro sumiu.
A mulher comparou o assassino a um anjo. Menos. Quem demonstrou ter habilidade (e confiança) suficiente para acertar o marginal que estava bem ao lado dela, talvez pudesse administrar a situação sem matança. E foi puro desejo de matar a execução do outro bandido, que já estava em fuga.
Mesmo não sabendo que os três aprendizes de feiticeiros portavam apenas um revólver de brinquedo, ele extrapolou. E muito.
O pior é que se trata de uma obra de cineasta competente, então o espectador tendia a simpatizar com o carrasco voluntário, protagonizado por Charles Bronson.
Assim como o também competente Don Siegel tornara simpática a imagem de um policial matador de São Francisco (Clint Eastwood), em Perseguidor implacável (1971). A impotência das autoridades face aos criminosos, nas duas fitas, serviu como justificativa para execuções a sangue-frio.
...e a cultuar armas que são óbvios símbolos fálicos. |
Como Freud cansou de explicar, os piores instintos humanos, deixados à solta, acabariam nos levando de volta às cavernas. Alguma autoridade precisa existir; o difícil é a mantermos sob controle, evitando que ultrapasse o limite entre a violência justificada e o o desejo de matar, como cansa de fazer a PM de São Paulo --aquela que nos toma por tão imbecis a ponto de acreditarmos que um celular possa ser confundido com uma arma de fogo.
Na noite última 6ª feira (20), um motoqueiro teve a oportunidade de sentir-se como o próprio Paul Kersey/Charles Bronson: percebendo que três assaltantes rendiam uma mãe e seu bebê, matou o primeiro com um único disparo certeiro. Os outros dois correram, mas um seria depois encontrado 10 metros adiante, com uma bala na cabeça. A polícia acabou prendendo o terceiro. O motoqueiro sumiu.
A mulher comparou o assassino a um anjo. Menos. Quem demonstrou ter habilidade (e confiança) suficiente para acertar o marginal que estava bem ao lado dela, talvez pudesse administrar a situação sem matança. E foi puro desejo de matar a execução do outro bandido, que já estava em fuga.
Mesmo não sabendo que os três aprendizes de feiticeiros portavam apenas um revólver de brinquedo, ele extrapolou. E muito.
A mídia jamais deveria ser condescendente com tais atitudes. E a polícia tem a obrigação de tentar localizar e submeter à Justiça quem tomou a justiça em suas mãos e provavelmente não tinha o direito legal de andar armado.
4 comentários:
Muito, bom, companheiros do Náufrago! Boa mensagem, para todos os que têm os horríveis sentimentos e instintos de 'vingança' e 'destruição' de um Ser Humano, e/ou, (in)justiça, seja pelas próprias mãos ou, por qualquer outro grupo ou polícia. Devemos, todos, SEMPRE almejarmos e buscarmos a PAZ, para TODOS os Homens...
Olá Celso!
como leitor assíduo do seu blog, e simpático as suas idéias não posso me furtar a comentar seu texto de maneira contrária.
Acho que vc exagerou na mão.Vc pode muito bem ter sido um guerrilheiro, ter pego em armas, ter defendido a justiça naquele momento que o Brasil viveu nos Anos de Chumbo, eu eu te parabenizo por isso, porém querer defender bandido é demais.
Demonstra de sua parte uma tremenda falta de empatia com a sociedade aterrorizada por esses marginais que avançam no limite da convivência humana.
Especialmente em São Paulo a marginalidade esta vencendo.
Quando a Polícia pratica um ato heróico desse deveria receber elogios e não críticas.
Talvez, se em vez de ser a mulher fosse vc segurando seu filho e um bandido metesse uma bala na cabeça dele a sua versão dos fatos seria bem diferente.
Neste momenteo, vc não é o Celso que eu leio.Vc é um Celso travestido de bom samaritano que quer se passar por bom menino exaltando as qualidades de uma sociedade que não existe.
Por isso vc é utópico ainda, até o dia que um ladrão meter a bala na cabeça de um parente seu.
Abs e tomara que vc nunca seja assaltado.
Maurício - Santos
Tadeu Braga, esse episódio relatado não se trata de vingança.
Um policial armado ao enfrentar 3 bandidos não pode vacilar.No episódio em questão era ele ou os bandidos.
Quem vc escolheria se vc fosse um policial nesta condição?
Maurício - Santos
Maurício,
não se tratava de policial nenhum, mas sim de um motoqueiro. Um cidadão que estava passando e resolveu intervir, sem tirar o capacete, para não ser identificado nem mesmo pela mulher que salvou.
A primeira morte foi discutível, mas ter cravado uma bala na cabeça de um assaltante que já estava em fuga demonstra claramente que ele tinha desejo de matar.
O segundo corpo foi encontrado a 10 metros do local. Que perigo ele ainda representava, a ponto de justificar tal EXECUÇÃO?
Se localizado, talvez ele se safe da primeira morte sob a alegação de estar defendendo a mãe e a criança. Mas, pela segunda, será inevitavelmente condenado.
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