quinta-feira, 28 de junho de 2012

A PROVOCAÇÃO DA ANSA E A SEDE DE VINGANÇA DA PLUTROCRACIA PENINSULAR

Por Carlos Lungarzo (*)

O Instituto Italiano di Cultura de São Paulo está apresentando uma amostra fotográfica chamada Fotografandoci, que reúne umas 250 fotos da Agência Ansa, escolhidas entre vários milhões (segundo disseram os curadores), com o objetivo de refletir os últimos 60 anos da vida da Italia.

Observada friamente, a iniciativa é como tantas outras que organizam institutos binacionais, agências de notícias e outros órgãos de propaganda cultural, para fazer publicidade de seu país de origem, apresentando materiais audivisuais, livros, pinturas, etc., que sejam de interesse dos cidadãos do país hospedeiro.

É uma parte habitual da diplomacia agradar a pessoas de sua diáspora e ao mesmo tempo, interessar os nacionais (neste caso, os brasileiros) com coisas "lindas" de sua terra (neste caso, a Itália).

Um fato interessante é que o parlamentar Fabio Porta, que representa os ítalo-latino-americanos, aprovou a escolhas das fotos porque disse que "mostram as coisas boas e as ruins".


Isso parece muito razoável. Chama-se: objetividade, imparcialidade, neutralidade... e têm alguns outros nomes nobres.

O problema é, entretanto, a que o parlamentar chama "bom" e "ruim". Se ambas as coisas são apresentadas como a mesma ênfase, deveria ser o público que coloque o rótulo moral à cada foto. Se não, perde-se a neutralidade.

Neste sentido, chama a atenção a ênfase que se coloca em fotos que mostram atos de protesto, críticas e outras exibições de barbárie, em relação com o caso Battisti.

Nessas fotos, há várias formas de agressão contra o estado brasileiro, dos quais, se supoe, os apresentadores estão recebendo hospitalidade.

Por exemplo, a micropasseata que protesta junto à embaixada brasileira em Roma, com um bando de facínoras reclamando contra o direito do Brasil de recusar a extradição de Battisti, deveria estar compensada por outras fotos que sem dúvida, a Ansa possui entre aqueles milhões que menciona.

Uma sugestão para a próxima: poderiam colocarar a foto de dois italianos que se confrontam com aquela ralé fanática e lhes dizem: "Vocês acham que o Brasil é uma colonia nossa? Estão enganados, é um país soberano como o nosso".

Goleiros abraçados no Mundial 1994: esta
foto, sim, está no espírito da mostra!
Claro que esta afirmação se escuta no filme e não na foto, mas, a mesma imagem fixa dos dois italianos questionadores seria interessante.

Aliás, em várias partes do país houve passeatas, bem maiores, em favor de Battisti. Exemplificando as "coisas ruins" que sem dúvida o digno parlamentar  não deve gostar, poderiam ter colocado uma delas (a que tivesse menos pessoas, por exemplo), nem que fosse para simular imparcialidade.


Tampouco as fotos das "vítimas" parecem tão importantes, a ponto de serem incluídas num conjunto de apenas 250 fotos.

Se a mostra é tão pequena, seria bom não desperdiçar espaço com um assunto já encerrado. Talvez o curador pudesse ter escolhido fotos mais expressivas, como o corpo do adolescente Fredrerico Androvandi, barbarmente torturado pela polícia italiana, o massacre de Gênova durante a reunião dos G20, ou as barracas de ciganos, africanos e muçulmanos incendiadas por vândalos apoiados pela polícia e o exército italianos.


Por que não, signori, uma foto do parlamentar de Lega Nord, Mario Borghezio? Ele não é bonito, mas parece muito inteligente. Após o atentado de Breivik em Oslo ele disse que as idéias do matador massivo eram ótimas, e era uma resposta a provocação gerada pela mistura racial.

Transcorrido um ano e 20 dias desde o DEFINITIVO ENCERRAMENTO DO CASO BATTISTI, as provocações parecem coisas ingênuas, como de quem não quer aceitar a derrota. Também, podem ser maneiras de propaganda mais sutil, para tentarem manter vivo o ódio e o rancor das máfias peninsulares.

Por sinal, todas as línguas têm uma palavra própria para "vingança" (revenge, venganza, etc.), mas em quase todas elas se utiliza a palavra italiana VENDETTA. Por que será?

Se a sede de vingança da plutocracia peninsular e seus alcoviteiros não sossega nem durante os atos culturais, pode ser necessário sugerir que não devem iludir-se. Provocações podem ser ignoradas, ou comentadas como neste caso. Agressões reais (caso sejam cogitadas) podem produzir desfechos desagradáveis para todos.

* professor titular da Universidade Estadual de Campinas

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