Estive neste sábado (9) num ato-debate sobre casamento civil igualitário que teve lugar num hotel do centro velho de SP, reunindo porta-vozes das causas LGBT, o deputado federal Jean Wyllys, o deputado estadual Carlos Giannazi e o presidente do diretório paulistano do PSOL, Maurício Costa.
No final, para minha surpresa, Giannazi se referiu a Wylly como o ovo da serpente (relativamente aos interesses por ela representados) que a TV Globo incubou no seu detestável reality show Big Brother Brasil: "Não sabiam quem estavam promovendo"...
A ficha me caiu: sim, eu lembrava vagamente de sua participação no BBB, por haver sido, vez por outra, obrigado a assistir ao programa quando visitava parentes. Mas, minha aversão pelo BBB sempre foi profunda, daí nunca ter fixado aquelas figuras geralmente patéticas que a Globo pinça para transformar em fugazes Cinderelas.
[Afora as óbvias restrições ideológicas que faço ao BBB e à Globo, há outro aspecto envolvido: tenho grande apreço pelos --e enorme saudade dos-- ídolos artísticos que abriam seu caminho à base da raça e do talento, como os da MPB dos anos 60 e os roqueiros das chamadas três primeiras gerações do rock. Aproveitando uma brecha histórica, eles conseguiram impor-se à indústria cultural, que teve de os engolir. Depois, o sistema readquiriu o controle e voltou a impingir cascalhos como pedras preciosas a bel-prazer, afirmando seu poder de eleger quem se tornará celebridade graças tão-somente a produção e holofotes, enquanto condena muitos diamantes brutos a nunca virarem brilhantes.]
Menos mau que, dentre duas centenas de sapos tocados pela vara de condão global, um haja se revelado príncipe.
Wyllys é autor da proposta de emenda constitucional que equipara o casamento homossexual ao heterossexual. [Uma bela frase que encontrei num blogue de cinema: "O casamento é um direito dos humanos, não um privilégio dos heterossexuais".]
Ele, Giannazi e Costa defenderam convincentemente a bandeira. Falaram também uns 20 representantes de coletivos e/ou expoentes LGBT.
O mestre de cerimônias não sentiu-se obrigado a respeitar a ordem de inscrição das intervenções individuais: primeiro da lista, fui preterido. Houve, claro, profusão de mais do mesmo e ninguém tocou nos pontos que eu abordaria.
Eu teria falado em nome da geração 68, meu grande referencial até hoje.
Lembraria que foi quando todos os outsiders marchamos juntos, braços dados ou não, irmanados na rejeição à ditadura militar e à própria ordem burguesa que ela representava, tabus sexuais inclusos.
Que sofremos terrível derrota e, nas décadas seguintes, a mágica união se desfez e cada grupo passou a perseguir seus objetivos por si, com maior ou menor êxito.
Que há, sim, mais tolerância à diversidade atualmente; e também muitos objetivos ainda por conquistar.
Mas, que nenhuma conquista será definitiva enquanto não mudarmos as relações de poder na sociedade.
A tortura é proibida, mas o pau canta adoidado em nossas delegacias e presídios.
Turbas lincharem cidadãos às escâncaras é impensável, mas isto ocorre amiúde na mesma Avenida Paulista que é palco neste domingo da Parada de Orgulho LGBT.
A presença de tropas de choque num campus é aberração característica dos tempos nefandos de Hitler e Médici, mas voltou a existir na principal universidade brasileira.
Nosso país não extradita perseguidos políticos, mas tivemos de suar sangue para evitar a extradição de Cesare Battisti.
Salta aos olhos que os nostálgicos da ditadura militar e seus pupilos tramam o retrocesso, testando com seus balões de ensaio (barbárie no Pinheirinho, blitzkrieg na Cracolândia, tropas de elite nos morros cariocas...) a resistência da sociedade ao totalitarismo.
Então, é preciso termos clareza quanto ao verdadeiro inimigo.
Sofremos todos as consequências de uma ordem econômica e social alicerçada na ganância e no estímulo à diferenciação, que permanentemente coloca as pessoas umas contra as outras, em competição tão inútil quanto insana e canibalesca: o inimigo são os outros, o inferno são os outros.
E existem os que nos propomos a direcionar os frutos do trabalho humano para o bem comum, somando forças e coordenando esforços para todos termos o necessário para uma existência digna e a podermos desfrutar plenamente, em comunhão com a coletividade e em harmonia com a natureza.
A intolerância, com seus avanços e retrocessos, perdurará enquanto existir o capitalismo.
A tolerância só se consolidará quando cada ser humano tiver nos outros seres humanos seus parceiros e irmãos, não mais seus adversários.
Daí a necessidade de reunificarmos as tendências e vertentes que estavam juntas em 1968 e precisam juntar-se de novo para a edificação de uma sociedade na qual nunca mais viceje a cultura do ódio.
Isto eu gostaria de haver dito. E estarei sempre pronto para dizer aos que quiserem ouvir algo além da reiteração daquilo que já é ponto pacífico.
No final, para minha surpresa, Giannazi se referiu a Wylly como o ovo da serpente (relativamente aos interesses por ela representados) que a TV Globo incubou no seu detestável reality show Big Brother Brasil: "Não sabiam quem estavam promovendo"...
A ficha me caiu: sim, eu lembrava vagamente de sua participação no BBB, por haver sido, vez por outra, obrigado a assistir ao programa quando visitava parentes. Mas, minha aversão pelo BBB sempre foi profunda, daí nunca ter fixado aquelas figuras geralmente patéticas que a Globo pinça para transformar em fugazes Cinderelas.
[Afora as óbvias restrições ideológicas que faço ao BBB e à Globo, há outro aspecto envolvido: tenho grande apreço pelos --e enorme saudade dos-- ídolos artísticos que abriam seu caminho à base da raça e do talento, como os da MPB dos anos 60 e os roqueiros das chamadas três primeiras gerações do rock. Aproveitando uma brecha histórica, eles conseguiram impor-se à indústria cultural, que teve de os engolir. Depois, o sistema readquiriu o controle e voltou a impingir cascalhos como pedras preciosas a bel-prazer, afirmando seu poder de eleger quem se tornará celebridade graças tão-somente a produção e holofotes, enquanto condena muitos diamantes brutos a nunca virarem brilhantes.]
Menos mau que, dentre duas centenas de sapos tocados pela vara de condão global, um haja se revelado príncipe.
Wyllys é autor da proposta de emenda constitucional que equipara o casamento homossexual ao heterossexual. [Uma bela frase que encontrei num blogue de cinema: "O casamento é um direito dos humanos, não um privilégio dos heterossexuais".]
Ele, Giannazi e Costa defenderam convincentemente a bandeira. Falaram também uns 20 representantes de coletivos e/ou expoentes LGBT.
O mestre de cerimônias não sentiu-se obrigado a respeitar a ordem de inscrição das intervenções individuais: primeiro da lista, fui preterido. Houve, claro, profusão de mais do mesmo e ninguém tocou nos pontos que eu abordaria.
Eu teria falado em nome da geração 68, meu grande referencial até hoje.
Lembraria que foi quando todos os outsiders marchamos juntos, braços dados ou não, irmanados na rejeição à ditadura militar e à própria ordem burguesa que ela representava, tabus sexuais inclusos.
Que sofremos terrível derrota e, nas décadas seguintes, a mágica união se desfez e cada grupo passou a perseguir seus objetivos por si, com maior ou menor êxito.
Que há, sim, mais tolerância à diversidade atualmente; e também muitos objetivos ainda por conquistar.
Mas, que nenhuma conquista será definitiva enquanto não mudarmos as relações de poder na sociedade.
A tortura é proibida, mas o pau canta adoidado em nossas delegacias e presídios.
Turbas lincharem cidadãos às escâncaras é impensável, mas isto ocorre amiúde na mesma Avenida Paulista que é palco neste domingo da Parada de Orgulho LGBT.
A presença de tropas de choque num campus é aberração característica dos tempos nefandos de Hitler e Médici, mas voltou a existir na principal universidade brasileira.
Nosso país não extradita perseguidos políticos, mas tivemos de suar sangue para evitar a extradição de Cesare Battisti.
Salta aos olhos que os nostálgicos da ditadura militar e seus pupilos tramam o retrocesso, testando com seus balões de ensaio (barbárie no Pinheirinho, blitzkrieg na Cracolândia, tropas de elite nos morros cariocas...) a resistência da sociedade ao totalitarismo.
Então, é preciso termos clareza quanto ao verdadeiro inimigo.
Sofremos todos as consequências de uma ordem econômica e social alicerçada na ganância e no estímulo à diferenciação, que permanentemente coloca as pessoas umas contra as outras, em competição tão inútil quanto insana e canibalesca: o inimigo são os outros, o inferno são os outros.
E existem os que nos propomos a direcionar os frutos do trabalho humano para o bem comum, somando forças e coordenando esforços para todos termos o necessário para uma existência digna e a podermos desfrutar plenamente, em comunhão com a coletividade e em harmonia com a natureza.
A intolerância, com seus avanços e retrocessos, perdurará enquanto existir o capitalismo.
A tolerância só se consolidará quando cada ser humano tiver nos outros seres humanos seus parceiros e irmãos, não mais seus adversários.
Daí a necessidade de reunificarmos as tendências e vertentes que estavam juntas em 1968 e precisam juntar-se de novo para a edificação de uma sociedade na qual nunca mais viceje a cultura do ódio.
Isto eu gostaria de haver dito. E estarei sempre pronto para dizer aos que quiserem ouvir algo além da reiteração daquilo que já é ponto pacífico.
2 comentários:
Novamente, parabéns pelo excelente artigo.
Maria do Rocio
Curitiba/Pr.
Maria-Estrela Lunar Amarela no face e blog.
O PSOL é hoje a vanguarda da esquerda em nosso País. Precisamos ir às ruas e lutar pela vitória de Carlos Gianazi para pôr fim ao cartel tucano/petista em São Paulo
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