segunda-feira, 7 de maio de 2012

DERROTA DA DIREITA FRANCESA AGUÇA A CRISE GLOBAL DO CAPITALISMO

Uma ótima análise da vitória eleitoral de François Hollande está em artigo que a Folha de S. Paulo publica do seu antigo correspondente na França, João Batista Natali:
"François Hollande derrotou Nicolas Sarkozy e é o novo presidente da França. Tudo bem. Mas a esquerda que ele hoje representa tem muito pouco a ver com a de François Mitterrand, este sim um socialista de radicalismo histórico, que, em 1981, chegou ao Palácio do Eliseu ao imobilizar a direita do então presidente Giscard d'Estaing.

O socialismo de Hollande está hoje 'aguado'. Foi passivo ou conivente na dinâmica em que a integração da sociedade francesa à União Europeia tirou do Estado a capacidade de gerar fórmulas originais ou de de impor reviravoltas sociais e econômicas.

Some-se a isso o fato de o modelo da globalização dos mercados impor aos governos europeus margens estreitas de manobra. Eles podem apenas operar inflexões dentro de um receituário ortodoxo -cortar despesas para rolar os títulos da dívida, por exemplo.

Hollande insistiu que a austeridade fiscal não é a forma adequada para enfrentar a crise eclodida em 2008. Ela traz estagnação, bloqueia o crescimento.
 A chanceler Angela Merkel sinalizou na semana passada que poderá caminhar um pouco nesse sentido, por meio de uma receita um um tantinho diferente da que a Alemanha adotou e que vinha financiando no bloco europeu.
Merkel, com isso, atapetou o corredor em que recepcionará Hollande. Ela sabe que entre Paris e Berlim existe um eixo sólido e informal sobre o qual se assenta uma longa agenda que vai da paz na região à preservação das instituições europeias.

O problema para Hollande, no entanto, está numa espécie de círculo vicioso que herdou. Só poderá aumentar os gastos do Estado -para manter o melhor sistema público de saúde do planeta, excelente sistema educacional e serviços de invejável qualidade- se a economia voltar a crescer.

Mas um hipotético retorno ao crescimento levará às demandas sociais represadas, que tornariam o Estado um pouco mais caro e pesado.

E ainda: sem política cambial, já que o franco deu lugar ao euro administrado em Frankfurt, a competitividade externa se dá por meio de fatores como o custo da mão de obra para as empresas (encargos sociais).

É impensável que um presidente socialista trombe com os sindicatos. Nem Sarkozy foi capaz de tamanha loucura".
Natali está certo ao enfatizar que o novo François socialista é versão desbotada do antigo, Mitterrand. 

Mas, vale a pena refletirmos sobre as contradições do capitalismo europeu, neste momento de guinada histórica: os políticos comprometidos com políticas recessivas tendem a ser cada vez mais escorraçados pelo eleitorado e quem os substituir, mesmo que  aguado, terá de buscar alternativa à ortodoxia econômica neoliberal. Na marra, sob vara dos cidadãos.

Natali mostra a dificuldade da empreitada; o cobertor é curto demais, deixando de fora os ombros ou os pés. Então, é de supor-se que haverá ziguezagues, com novas tentativas de impor o receituário ortodoxo, seguidas de novos recuos impostos pelos que não participaram do banquete e agora se recusam a pagar a conta da esbórnia do grande capital.

A crise capitalista global tende a agravar-se, abrindo uma janela de oportunidades revolucionárias. É isto que nos diz respeito, é isto que realmente importa para nós.

2 comentários:

Anônimo disse...

mais uma "crise final do capitalismo"?
deve ser a terceira só este ano..

Anônimo disse...

Discorde da análise sobre a frágil situação de Hollande. Mesmo preso ao euro, ele tem condições de aglutinar forças no G8. A Itália é um exemplo. Depende muito da vontade de mudança. O partidio socialista de Hollande já sentiu que os seus eleitores não aceitam mais as incertezas criadas com relação ao bem estar social e logicamente o emprego.Por isso votou nele, e ele não parece disposto a concordar com as exigências pactuadas por Merkel, até para se manter firme no governo. Acho que os sindicatos vão fazer parte dessa mudança. O encontro na Alemanha vai definir o que ele pretende fazer. É aguardar pra ver.
Marat

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