A Folha de S. Paulo noticia, com estardalhaço, que Novo chefe da Rota atuou em massacre do Carandiru.
Segundo o jornal, o tenente-coronel Salvador Modesto Madia é um dos 116 acusados de exterminarem 111 detentos da Casa de Detenção, em 1992. A ilação óbvia: o governador Geraldo Alckmin teria colocado à frente da unidade mais truculenta da Polícia Militar paulista, frequentemente acusada de responsável por mortes desnecessárias (Rota 66 e tantas outras), um comandante assassino.
É bem provável que, desta vez, a Folha esteja certa; afinal, Madia "integrava um grupo de PMs que entrou no segundo andar do rebelado pavilhão 9, onde 78 presos foram mortos".
Mesmo assim, é um péssimo hábito expor pessoas ao opróbrio midiático antes que tenham sido condenadas por um tribunal. Há sempre o risco de linchamento de inocentes -- moral ou mesmo físico, pois não faltam turbas dispostas a fazerem justiça com as próprias mãos. O episódio da Escola Base parece não ter ensinado nada a ninguém.
Diz Madia que as mortes foram "resultado do confronto entre detentos e policiais" e alega cumprimento de dever.
Eu trabalhava em 1992 na Coordenadoria de Imprensa do Palácio dos Bandeirantes e cheguei a conversar com oficiais envolvidos. No papo informal, eles confessavam que a situação fugira do seu controle e, nem que quisessem, conseguiriam conter a sanha assassina dos seus comandados.
É o que ocorre frequentemente nas guerras: há momentos nas quais a tropa é tomada por tal furor homicida que os oficiais correm risco de vida se tentarem evitar a matança.
O certo é que o julgamento de policiais militares acusados pelo massacre do Carandiru jamais deveria tardar quase duas décadas; e eles jamais deveriam estar exercendo funções que possibilitem a execução sumária de suspeitos.
Nem, como é o caso de Madia, de ordenar ou fechar os olhos à execução sumária de suspeitos.
Numa nação civilizada, a Justiça seria rápida e eles ficariam restritos a atividades burocráticas nesse meio tempo.
Como o Brasil não é um país sério (a frase atribuída a De Gaulle cai como uma luva), a lengalenga provavelmente se prolongará até a prescrição.
E o maior responsável jamais será julgado: foi o governador Luiz Antonio Fleury Filho quem ordenou a invasão, contra a opinião das autoridades da área.
Depois, o secretário de Segurança Pública Pedro Franco assumiu a culpa (por lealdade ou qualquer outro motivo...), isentando o amigo de longa data, que pôde continuar governando e descendo a ladeira como político, até a irrelevância atual.
Bastaria cortar-se água, luz e entrada de alimentos que a revolta definharia. Foi o que propuseram os especialistas no assunto. Mas, o governador que havia sido promotor fazia questão de mostrar seu muque. Deu no que deu.
Mais do que pessoas, urge extirpar-se da PM e da Rota a tradição de truculência que remonta aos tempos nefandos da ditadura militar.
E a PM está protagonizando as mais grosseiras intimidações e provocações na USP -- novamente, como no massacre do Carandiru, por culpa de quem a colocou onde nunca deveria estar.
Se queres um monumento à Rota, olha o bordão do comandante que acaba de aposentar-se, Paulo Telhada: "ladrão bom é ladrão morto".
A redemocratização deixou muito a desejar no Brasil.
2 comentários:
e ainda que mal pergunte, em se desculpe minha ingenuidade, qual tipo bom de ladrão?? o que está pregado ao lado direito do redentor?
E não podemos esquecer também que a cidade de São Paulo se encontra de certo modo "militarizada": a troco de quê uma boa parcela das subprefeituras estão sob o comando de coronéis reformados da Polícia Militar? A velha mídia não fala disso. Se um cidadão (ou uma cidadã) tiver alguma crítica ou denúncia grave contra algum subprefeito, terá coragem ou segurança para torná-la pública? Por que ninguém trata dessa questão? Abraços.
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