segunda-feira, 4 de julho de 2011

FOLHA DE S. PAULO = MACARTISMO À BRASILEIRA

Leitores mandaram cartas à redação, articulistas espalharam textos na internet e a Folha de S. Paulo, como sempre, não deu a mínima: foi este o saldo da mais recente aparição do comandante de um dos piores centros de tortura dos anos de chumbo nas páginas do autoproclamado maior jornal brasileiro.

Sem que Carlos Alberto Brilhante Ustra tivesse sido sequer citado no artigo de Pérsio Arida que a Piauí publicou, a Folha, generosamente, disponibilizou seu espaço de Opinião para que ele apresentasse uma refutação que deveria, isto sim, ter encaminhado à própria revista.

A ombudsman Suzana Singer ainda saiu-se com esta:
"Para a decepção de muitos, defendo a iniciativa, condizente com o pluralismo expresso no projeto editorial da Folha, de dar visibilidade à versão do ex-comandante do DOI-Codi, mesmo sabendo-se que funcionava ali uma central de tortura.

E tendo consciência também que, se estivéssemos nos anos 70, ele não defenderia o meu direito de expressão. Na ditadura, vozes dissonantes eram caladas. Censurar é sempre a pior saída".
Quem se der ao trabalho de ler este artigo aqui, constatará que a carapuça serve perfeitamente para a própria ombudsman, que não defendeu meu direito de expressão e permitiu que minha voz dissonante fosse calada pelo jornal da  ditabranda, num episódio em que eu tinha carradas de razão, ao exigir espaço para responder à forma pejorativa como a Folha se referiu, em editoral, aos defensores de Cesare Battisti, deles traçando um perfil  que correspondia ao meu e ao de pouquíssimos ex-resistentes mais (nem meia dúzia).

Ou seja, a Folha tomou as dores de um indivíduo que foi declarado torturador pela Justiça brasileira, mas tem negado sistematica e arbitrariamente direito de resposta a quem a União e o governo paulista reconheceram como torturado e vítima da ditadura.

Talvez faça uma tímida autocrítica daqui a quatro décadas, quando eu  estiver morto. Foi o tempo que levou para admitir sua cumplicidade com a repressão nos  anos de chumbo.

Concordo com a Singer: censurar é sempre a pior saída. Vai daí que minha credibilidade cresce cada vez mais no território livre da internet, tanto quanto a da Folha despenca no terreno estreitamente vigiado da indústria cultural.

Afirmo com todas as letras: venho sendo há anos discriminado como jornalista e como cidadão pela Folha, que adota, em relação a mim, postura semelhante à do macartismo estadunidense dos anos 50, com suas famosas listas negras.

Todos sabem como a caça às bruxas de Joseph McCarthy e Richard Nixon terminou.

Todos sabem como a da Folha terminará: com a credibilidade em cacos, descendo a ladeira ao lado da Veja, que, antes de se tornar um house organ da extrema-direita, chegou -- pasmem! -- a ser uma revista de verdade...

Um comentário:

spin disse...

Para muitos a ditadura ainda não acabou. Deu no blog do Ricardo Kotscho:

Base Aérea de Natal ainda vive ditadura

20 Comentários

Uma gravíssima denúncia foi feita na edição desta semana da revista Carta Capital que acabo de ler. Em sua coluna "Rosa dos Ventos", o colega Maurício Dias revela o que ainda acontece no Rio Grande do Norte: "A ditadura continua _ A terrificante história da defensora pública federal barrada na Base Aérea de Natal ao recusar-se à humilhação".

Aos fatos: oficiais da unidade militar queriam obrigar a defensora pública federal Lorena Costa, do 2º Ofício Criminal, a tirar a roupa para poder entrar no quartel e prestar assistência jurídica a um preso, alegando "norma da casa".

Lorena estava acompanhando a esposa do assistido, que em suas visitas anteriores havia sido humilhada pelos militares, "obrigada a tirar a roupa, se agachar e fazer força, por três vezes seguidas, a fim de verificar se carrega consigo algo suspeito".

O principal responsável por tamanha barbaridade, um quarto de século após o sepultamento oficial da ditadura militar (1964-1985), é o coronel Lima Filho, que até a tarde desta segunda-feira ainda não havia sido afastado do posto.

"Nunca tinha visitado um estabelecimento pertencente às Forças Armadas, mas senti que a ditadura por lá ainda não acabou e não se teve notícia da Constituição Federal de 1988", desabafou a defensora pública.

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