segunda-feira, 25 de julho de 2011

ANOS DE CHUMBO: UM 'JUSTIÇAMENTO' EQUIVOCADO - 2

Uma visão de esquerda do mesmo episódio acaba de ser dada por Renato Martinelli, que foi companheiro de militância de Márcio Leite de Toledo na ALN e é autor do livro
Um grito de coragem - memórias da luta armada. Reproduzo seu artigo na 
íntegra.  E, se Carlos Eugênio da Paz, por ele criticado, quiser replicar, 
o  espaço será também concedido, evidentemente.

O ASSASSINATO DE MÁRCIO, 
REVIVIDO APÓS 40 ANOS

A ALN supôs que Márcio Leite fosse culpado da
cilada contra Marighella... mas estava errada.
Márcio Leite de Toledo foi assassinado na tarde do dia 23 de março de 1971, há mais de 40 anos, quando  atraído para uma cilada preparada por aqueles que até então julgava seus  companheiros. 

A iniquidade cometida contra o militante da ALN, ocorreu após alguns meses da traição de José da Silva Tavares, que levou à prisão, tortura  e ao assassinato de Joaquim Câmara Ferreira, sucessor de Carlos Marighella no comando da organização revolucionária que combatia a ditadura,  instaurada pelas elites brasileiras, com o apoio dos Estados Unidos, em 1º de Abril de 1964.

Em 23 de março de 1971, Márcio compareceu ao fatídico “encontro” de peito aberto, certo de que era a oportunidade que estava aguardando para colocar na mesa e quiçá resolver as divergências até então existentes entre ele e os “companheiros do comando”; tratamento que consta em um texto recuperado, no qual Márcio expõe as suas críticas e divergências com a direção da ALN.

Marighella foi assassinado em 4 de novembro de 1969, quando atraído pela repressão para um “encontro”; Câmara Ferreira foi assassinado no dia 23 de outubro de 1970, igualmente atraído para um “encontro”.

Joaquim Câmara Ferreira foi
outro mártir da Resistência.
Valorosos companheiros e companheiras foram assassinados pelos agentes do sistema de repressão organizado pela ditadura; muitos deles quando atraídos para um “encontro”.


 Márcio Leite de Toledo, igualmente foi assassinado, vítima de um erro stalinista, disseram-me à época, quando compareceu a um “encontro”, só que ao invés de atraído pela repressão assassina, desta vez, o foi por um grupo de companheiros comandados por Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz, então com 20 anos de idade.

O mesmo Carlos Eugênio, o “último comandante militar da ALN”, como é literalmente denominado na recente entrevista, hoje com 60 anos de idade, reitera os mesmos injustos e infundados argumentos cometidos no passado, através da declarada certeza sobre as futuras, portanto supostas atitudes do companheiro Márcio, caso não tivesse sido executado.

Eugênio, assombro-me, como que ungido da capacidade de prever o futuro, afirma textualmente em sua recente entrevista:  “Preferia que não tivéssemos precisado chegar a esse ponto, mas tenho certeza que os danos seriam maiores se houvesse hesitado”.

Afinal..., pergunto: A quais benditos futuros danos está se referindo o entrevistado na sua absurda previsão!?

Que grande lástima, que falta de respeito à vida e à memória de Márcio Leite de Toledo, um militante de primeira hora da ALN, um denodado combatente da luta do povo brasileiro contra a ditadura civil-militar, instaurada no país em 1964.

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito fácil a Renato Martinelli fazer julgamentos, passados mais de 35 anos. E no calor dos fatos? Quando se exige tomada de atitudes duríssimas para salvar, quiçá, outras vidas... Será que a gloriosa Resistência Francesa e os Partizans não cometeram desatinos,justiçamentos por engano? Se sim, invalida e macula a imagem desses combatentes? É o rescaldo de uma luta tão desigual, com forças infinitamente superiores. A autocrítica foi feita, diferentemente de outros setores que são discípulos da mentira.

Anônimo disse...

Em qualquer exército em combate(seja oficial ou de guerrilheiros) a deserção e a quebra de disciplina (Márcio fez isso pelo menos duas vezes, além de faltar a pontos por 40 dias) coloca em risco a vida alheia e, por isso, costuma ser punido. Em situações extremas, as punições costumam ser extremas. Um erro, talvez, mas no momento não havia como preveni-lo. A solução apresentada, de exílio, fora por ele recusada.

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