Uma visão de esquerda do mesmo episódio acaba de ser dada por Renato Martinelli, que foi companheiro de militância de Márcio Leite de Toledo na ALN e é autor do livro
Um grito de coragem - memórias da luta armada. Reproduzo seu artigo na
íntegra. E, se Carlos Eugênio da Paz, por ele criticado, quiser replicar,
o espaço será também concedido, evidentemente.
Um grito de coragem - memórias da luta armada. Reproduzo seu artigo na
íntegra. E, se Carlos Eugênio da Paz, por ele criticado, quiser replicar,
o espaço será também concedido, evidentemente.
O ASSASSINATO DE MÁRCIO,
REVIVIDO APÓS 40 ANOS
A ALN supôs que Márcio Leite fosse culpado da cilada contra Marighella... mas estava errada. |
A iniquidade cometida contra o militante da ALN, ocorreu após alguns meses da traição de José da Silva Tavares, que levou à prisão, tortura e ao assassinato de Joaquim Câmara Ferreira, sucessor de Carlos Marighella no comando da organização revolucionária que combatia a ditadura, instaurada pelas elites brasileiras, com o apoio dos Estados Unidos, em 1º de Abril de 1964.
Em 23 de março de 1971, Márcio compareceu ao fatídico “encontro” de peito aberto, certo de que era a oportunidade que estava aguardando para colocar na mesa e quiçá resolver as divergências até então existentes entre ele e os “companheiros do comando”; tratamento que consta em um texto recuperado, no qual Márcio expõe as suas críticas e divergências com a direção da ALN.
Marighella foi assassinado em 4 de novembro de 1969, quando atraído pela repressão para um “encontro”; Câmara Ferreira foi assassinado no dia 23 de outubro de 1970, igualmente atraído para um “encontro”.
Joaquim Câmara Ferreira foi outro mártir da Resistência. |
Márcio Leite de Toledo, igualmente foi assassinado, vítima de um erro stalinista, disseram-me à época, quando compareceu a um “encontro”, só que ao invés de atraído pela repressão assassina, desta vez, o foi por um grupo de companheiros comandados por Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz, então com 20 anos de idade.
O mesmo Carlos Eugênio, o “último comandante militar da ALN”, como é literalmente denominado na recente entrevista, hoje com 60 anos de idade, reitera os mesmos injustos e infundados argumentos cometidos no passado, através da declarada certeza sobre as futuras, portanto supostas atitudes do companheiro Márcio, caso não tivesse sido executado.
Eugênio, assombro-me, como que ungido da capacidade de prever o futuro, afirma textualmente em sua recente entrevista: “Preferia que não tivéssemos precisado chegar a esse ponto, mas tenho certeza que os danos seriam maiores se houvesse hesitado”.
Afinal..., pergunto: A quais benditos futuros danos está se referindo o entrevistado na sua absurda previsão!?
Que grande lástima, que falta de respeito à vida e à memória de Márcio Leite de Toledo, um militante de primeira hora da ALN, um denodado combatente da luta do povo brasileiro contra a ditadura civil-militar, instaurada no país em 1964.
2 comentários:
Muito fácil a Renato Martinelli fazer julgamentos, passados mais de 35 anos. E no calor dos fatos? Quando se exige tomada de atitudes duríssimas para salvar, quiçá, outras vidas... Será que a gloriosa Resistência Francesa e os Partizans não cometeram desatinos,justiçamentos por engano? Se sim, invalida e macula a imagem desses combatentes? É o rescaldo de uma luta tão desigual, com forças infinitamente superiores. A autocrítica foi feita, diferentemente de outros setores que são discípulos da mentira.
Em qualquer exército em combate(seja oficial ou de guerrilheiros) a deserção e a quebra de disciplina (Márcio fez isso pelo menos duas vezes, além de faltar a pontos por 40 dias) coloca em risco a vida alheia e, por isso, costuma ser punido. Em situações extremas, as punições costumam ser extremas. Um erro, talvez, mas no momento não havia como preveni-lo. A solução apresentada, de exílio, fora por ele recusada.
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