terça-feira, 12 de abril de 2011

UMA LIDERANÇA QUE SE "EN-SERRA"...

O desespero de final de campanha
deixou a imagem do Serra em cacos
Durante a última campanha presidencial, cansei de recriminar as baixarias com que José Serra tentou virar um jogo perdido, insultando a inteligência do eleitorado mais sofisticado sem que isto sequer lhe rendesse dividendos junto aos mais suscetíveis à demagogia rasteira.

A querela sobre o aborto e as suspeitas de totalitarismo ("estado policial") que ele e seu truculento vice tentavam lançar sobre o governo do PT, como se quisessem provocar uma nova Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade, só serviram para tornar dupla a derrota: na urna e na imagem dos tucanos.

Fazendo do aborto um cavalo de batalha, repetindo a retórica nefanda das  viúvas da ditadura  e tentando travestir um incidente banal de campanha em terrível agressão à democracia, Serra se evidenciou: 
  • um político oportunista, capaz de descer até o esgoto para ganhar eleições; e
  • um péssimo estrategista, pois dilapidou inutilmente a respeitabilidade que ainda lhe restava, depois de já a ter comprometido em muito ao, como governador, ordenar a entrada da brutal tropa de choque da PM no campus da USP, decisão inadimissível e chocante sendo ele um antigo presidente da UNE.
Antigo perseguido político, Serra
reeditou a truculência ditatorial
Vai daí que, no vácuo decorrente do esvaziamento da liderança de Serra, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso procura reafirmar-se como o principal líder do tucanato, capitalizando  exatamente os erros cometidos na reta final da campanha presidencial, com análises como esta:
"Enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os 'movimentos sociais' ou o 'povão', falarão sozinhos".
Segundo FHC, a presidente Dilma Rousseff tem um estilo "contrastante com o do antecessor" e que "pode envolver parte das classes médias" que "mantiveram certa reserva diante de Lula".

O porrete fracassou,
volta o raposismo...
Então, ele aponta ao PSDB a prioridade de evitar que isto ocorra, disputando com Dilma os corações e mentes da nova classe média produzida pelo crescimento econômico dos últimos anos, cuja influência tende a crescer cada vez mais a partir das redes sociais da internet.

Não é à toa que o velho sociólogo chegou à Presidência da República duas vezes, enquanto o velho líder estudantil só alcançou vitórias eleitorais obrigatórias, no Estado que tem sido feudo tucano nas últimas décadas.

Se a oposição agora seguir a batuta de FHC, um ganho haverá para a política brasileira, inclusive para Dilma: ficarão afastadas as hipóteses de turbulência institucional.

Melhor assim, para um país que atravessou mais de um terço do século passado sob ditaduras.

2 comentários:

Carlos Eduardo da Maia disse...

No Brasil de hoje quem conseguir conquistar os corações e mentes da classe média detém o poder. Essa talvez seja a grande sacada da Dilma, que faz um governo muito melhor do que o de Lula. E está certo FHC, a oposição no Brasil tem sim que conseguir o apoio e os votos da classe média, que é hoje a classe dominante. O grande problema é que a corrupção no Brasil continua correndo solta.

Tiago Azevedo de Aguiar disse...

http://tiagoaaguiar.blogspot.com/2011/02/conselhos-do-alem-para-jose-serra.html
Conselhos do além para José Serra

Para muitos a morte é o grilhão e freio dos instintos mais humanos dos vivos, o peso do julgamento final persegue o crente conforme a fé e o humor do padre na hora da confissão e da expiação dos pecados. Para outros é a libertação e a glória de ascensão aos céus, ida tranqüila para um mundo sem dor, com campos de trigo, flores e mel em abundância. Para os comunistas tanto e sempre odiados pelo personagem da historíola aqui contada, o momento fatal é o fim de tudo, a inexistência da alma seria a verdadeira liberdade para quem só tinha a vida para sonhar com um paraíso.

Para o eterno Machado de Assis, foi um instrumento para as mais radicais experimentações na prosa que um autor brasileiro fez até o seu momento. Apresentou a vida inútil de Brás Cubas, um defunto que em reflexões compõe um romance agressivo e de fina ironia. É possível afirmar que este romance psicológico fez a literatura brasileira alcançar a maioridade. Nas memórias póstumas de Brás Cubas, o importante não são os fatos em si, mas a forma como se vêem e sentem as circunstâncias vividas pelos personagens, enfatizando a caracterização interior dos personagens, suas incoerências e problemáticas existenciais.

A cada dia que passa, José Serra está cada vez mais solitário, sem sufrágio, aliados, fadado a ter um fracassado número de apoiadores. O termo “cristianizado” remete à história política de um homem com trajetória e caminho percorrido mostrando o total abandono por todos os partidários a seu redor, com desfecho em uma derrota imensa para um dos maiores líderes políticos que o Brasil já teve, Getúlio Vargas.

Cristiano Machado tinha em comum a José Serra um desejo imponderável pelo cargo de Presidente da República. Em sua cólera, o político mineiro acreditou em sua vitória e como um trator ignorou todos os seus aliados, e contribuiu em todas as suas práticas para que a vitória de Getúlio fosse plena e simples. Em imaginário bastante lúdico, tendo em vista a condição de descrença religiosa deste que escreve, quais as memórias póstumas que o espírito desencarnado Cristiano Machado compartilharia a José Serra em uma carta psicografada?

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