Aos 38' do 2º tempo, Robben ganhou na corrida de Puyol, sofreu falta na meia-lua mas preferiu seguir adiante, para tentar marcar.
Se caísse, provocaria a expulsão do adversário.
Optou pelo gol e ficou sem nada: Casillas defendeu.
Quase na mesma situação, aos 18' da prorrogação, Iniesta caiu e o juiz expulsou Heitinga.
A falta não virou gol. Mas, o buraco na defesa da Holanda foi aproveitado pelo mesmo Iniesta, aos 25', para mandar às redes a ótima bola servida por Fàbregas.
O futebol é um esporte fascinante e único por causa desses ziguezagues da fortuna, das situações dramáticas em que um átimo de segundo decide um Mundial, construindo ou desconstruindo ídolos.
Robben, herói da caminhada holandesa até a final, perdeu o gol mais feito da partida, aos 17' do 2º tempo: deslocou Casillas e colocou no outro canto, encontrando o pé do goleiro no caminho.
Por competência ou acaso, o arqueiro espanhol salvou quando já parecia vencido. E tem agora uma marca quase insuperável como recordista de minutos sem sofrer gol numa Copa (mais de 430').
Se Casillas terminou a final como um gigante, Robben saiu menor do que entrou, embora se tenha esforçado ao máximo e dado muito trabalho à defesa da Espanha.
Villa, idem. Lutou como um leão mas tomou a decisão errada naquela que poderia ter sido a bola do jogo, aos 24' do 2º tempo: deu um chute baixo e Heitinga cortou. Se concluísse para cima, estufaria a rede.
Fàbregas suplicou a camisa de titular, em vão. Saiu do banco para fazer a assistência decisiva.
Puyol, herói da semifinal, poderia se tornar o vilão da final caso Robben assim decidisse. Os deuses dos estádios foram clementes com ele e cruéis com o holandês.
O certo é que a Espanha foi mesmo a melhor Seleção ao longo do Mundial e a que teve desempenho mais consistente na final, valorizando a posse de bola e criando um número maior de oportunidades.
Mereceu vencer, até para coroar uma fase magnífica, em que levantou o título europeu de seleções e viu o Barcelona afirmar-se como o melhor time do Planeta Bola.
Mas, a Holanda foi sempre perigosa e valorizou ao máximo o magnífico feito espanhol.
Só pecou mesmo pelo excesso de violência, que poderia ter facilitado as coisas para a Espanha, se o juiz inglês não fosse um completo banana. Outros laranjinhas mereceram o cartão vermelho antes de Heitinga.
Espanhóis também, aliás, mas a eles se deve dar o desconto de que não tomaram a iniciativa de abrir a caixa de ferramentas; foram obrigados a pagar na mesma moeda, para que os holandeses soubessem que eles não se deixariam intimidar.
Por último: foram também magnânimos os deuses dos estádios ao concederem aos espanhóis uma conquista de verdade, como convém a um povo que protagoniza e cultua epopéias.
Depois de 80 anos na fila, eles tinham o direito de sentir-se campeões por inteiro -- não pela metade, como os brasileiros em 1994 e os italianos em 2006.
A decisão por pênaltis (e não numa segunda partida) é uma das muitas distorções de um futebol colocado sob o jugo absoluto e incondicional dos interesses econômicos.
É como se decidir o título no cara ou coroa. Às vezes o melhor vence (1994), às vezes o pior (2006). Mas, o futebol sempre perde.
2 comentários:
Concordo com tudo que vc escreveu, menos de que o Brasil foi campeão pela metade.
Isso não existe.
Posso até gostar MUITO MAIS do título de 2002, mas nem por isso o de 1994 vale menos ou a metade.
Achei que Brasil em 94 e até mesmo Itália em 2006 foram melhores que esta Espanha. O que me causa arrepios é este bando de jornalistas taxarem esta porcaria como sinônimo de bom futebol.
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