segunda-feira, 12 de julho de 2010

O MILITAR DIGNO E O 'CLÁSSICO DA VERGONHA'

Morreu o catarinense Gilberto Pedro Hoffman Nahas (foto), aos 81 anos, de câncer.

Quem? - perguntarão os leitores.

Um homem de verdade.

Não foi por sua carreira na Marinha que se tornou conhecido, embora tivesse participado da 2ª Guerra Mundial, como radiotelegrafista do navio.

Nem pelos bicos que fez como jornalista.

Muito menos por sua atuação como presidente de uma associação de ex-combatentes.

Mas, por um momento de grande dignidade como juiz de futebol, outra atividade paralela que exercia.

No dia 1º de abril de 1971, teve lugar em Florianópolis um amistoso comemorativo dos sete anos do golpe militar. Gilberto Pedro apitou.

Aos 10' do segundo tempo, os jogadores do Avaí e Figueirense se estranharam e partiram todos para a briga. Até o pau da bandeirinha foi arrancado para servir como lança.

Gilberto Pedro não teve dúvida: expulsou os 22 de campo e encerrou a partida.

Seu comandante era um dos altos oficiais presentes à homenagem, assim como o governador de SC.

O almirante ficou incomodado com o desfecho adequadíssimo para a infâmia que se comemorava; quis alterá-lo, ordenando aos times que voltassem para o gramado.

Em vão. Gilberto Pedro, mero segundo-sargento, fez pé firme, respondendo que era a autoridade máxima em campo e tinha de cumprir as regras da Fifa, portanto a decisão estava tomada.

Como retaliação, de volta ao navio permaneceu por "um dia impedido de baixar à terra, que era como a gente chamava ficar sem poder voltar para casa", lembrou numa entrevista recente, negando que tivesse passado uma semana preso.

O jogo ficou conhecido como o clássico da vergonha.

Fez inteira justiça aos sem-vergonha que impuseram duas décadas de trevas ao Brasil.

Que Gilberto Pedro descanse em paz. Merece.

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