Várias vezes já esclareci minha postura em relação à Presidência da República: considero-a, quanto muito, um objetivo tático para um homem de esquerda, jamais estratégico.
Meu norte é outro: a organização autônoma dos cidadãos, contra o capitalismo e contra o Estado.
Ademais, vejo a Presidência esvaziada de poder real nos dias de hoje, já que não está em suas mãos alterar a política econômica que atende aos interesses do capitalismo globalizado.
Para mim, o chamado primeiro mandatário do País nada mais é do que um gerente de filial, incumbido de fazer o meio de campo entre as determinações da matriz e as especificidades locais. Então, em certo sentido, os presidentes do Itaú e do Bradesco mandam mais do que o presidente do Brasil.Meu norte é outro: a organização autônoma dos cidadãos, contra o capitalismo e contra o Estado.
Ademais, vejo a Presidência esvaziada de poder real nos dias de hoje, já que não está em suas mãos alterar a política econômica que atende aos interesses do capitalismo globalizado.
Daí minha postura de evitar qualquer participação no tiroteio eleitoral. As propostas de um e outro candidato para gerirem o Estado burguês simplesmente não me dizem respeito. Só me interessam as propostas para a superação do Estado burguês.
Mas, como os principais candidatos do próximo pleito tiveram sua origem na esquerda, tenho cobrado deles a coerência com os ideais que ainda professam ou um dia professaram.
Não considero aceitável, seja do ponto de vista marxista ou anarquista, que um ex-presidente da UNE coloque os brucutus da PM no campus da USP; que a campanha de uma ex-companheira da luta armada mantenha relação de qualquer tipo com os imundos arapongas; ou que uma militante ecológica seja tão obcecada pelo verde a ponto de querer delegar aos verde-olivas a guarda da Amazônia, depois de todo o trabalho que tivemos para mandá-los de volta aos quartéis e não meterem o nariz nas questões internas.
As decepções têm sido muitas. Então, é com imenso prazer que registro as declarações de Dilma Rousseff à Veja desta semana, sobre seu passado de resistente.
Ela foi muito digna, principalmente ao esclarecer que suas atribuições não eram as de participar de ações armadas, mas pertenceu a organizações políticas que as praticaram e tem muito orgulho de haver "combatido a ditadura do primeiro ao último dia".
Aliás, nesse ponto nossa identidade é total. Também atuei na retaguarda, cheguei a ser escalado para uma expropriação de bancos mas, na véspera, decidiram que meu papel na Organização seria outro (organizar um serviço de Inteligência). Desminto as imputações de participação pessoal nessas ações apenas porque realmente não a tive, mas assumo inteira responsabilidade política por elas, mesmo porque considero plenamente justificáveis os atos praticados no exercício do legítimo direito de resistência à tirania.
Eis as perguntas da Veja e as ótimas respostas que a Dilma deu:
De tanto cumprir cadeia política durante a ditadura Vargas, o grande escritor Graciliano Ramos, um tipo depressivo, saiu-se com essa: "É-me indiferente estar preso ou solto". A senhora chegou a ter um sentimento parecido?
Não. Nos cárceres da ditadura militar, sempre ansiei pela liberdade. Mas entendo bem a que o Graciliano se refere. Existe a figura do preso velho, conhecedor dos caminhos dentro da cadeia. Isso dá uma certa sensação de controle que, ao final da minha pena de três anos, tornava a prisão menos insuportável. Eu tinha um esconderijo de livros e, com a ajuda do dentista da penitenciária, trocava bilhetes com meu marido, preso na ala masculina. Contávamos com algumas boas almas entre os carcereiros, e o capelão militar deu-me uma Bíblia, que, para passar pela fresta da porta da cela, teve sua capa arrancada. Um sargento detonou, sem querer, uma bomba de gás lacrimogêneo perto das celas e abriram um inquérito para apurar responsabilidades. Nós, as presas, sabíamos quem era o culpado, mas decidimos não identificá-lo. Com isso caímos nas graças dos sargentos. Enfim, o preso velho começa a acomodar seus ossos naquele ambiente.
Em situações extremas as pessoas costumam ter reações inesperadas. Quem era forte revela-se um fraco. O frágil se transforma em valente. A senhora se viu na cadeia, sob tortura, tendo reações surpreendentes?
É um pouco mais complexo do que você imagina. Depende muito do seu momento. A mesma pessoa pode estar forte um dia e em outro desabar – ou estar entregue e, de repente, encontrar forças descomunais que não sabia possuir. É o momento que manda, e você não manda no seu momento.
A sua opção pela luta armada na juventude vai ser um assunto da campanha eleitoral. As pessoas querem saber se a senhora deu tiros, explodiu bombas ou sequestrou.
Estou pronta para esse debate. Pertenci a organizações políticas que praticaram esses atos. Mas eu jamais me envolvi pessoalmente em alguma ação violenta. Minha função era de retaguarda. Os processos militares que resultaram em minha condenação mostram isso com clareza. Nunca fui processada por ações armadas. Tenho muito orgulho de ter combatido a ditadura do primeiro ao último dia. A ditadura foi muito ruim. Cassaram os partidos políticos, fecharam órgãos de imprensa, criaram mecanismos de censura, torturaram... Mas o pior de tudo é que tiraram a esperança da minha geração. Quem tinha 15 ou 16 anos de idade quando foi dado o golpe de 64 não enxergava o fim do túnel. De um jovem cheio de energia e sem esperança podem-se esperar reações radicais.
É fácil falar vendo o filme de trás para a frente, mas hoje parece indiscutível que o pessoal da luta armada não queria a volta da democracia, mas apenas trocar uma ditadura de direita por outra de esquerda. A senhora tinha consciência disso?
Olha aqui, no meio da luta essas coisas nunca ficavam claras. O objetivo prioritário era nos livrar da ditadura, e lutamos embalados por um sentimento de justiça, de querer melhorar a vida dos brasileiros. Foi um período histórico marcante em todo o mundo. Os jovens franceses estavam nas barricadas de maio de 68. Jovens americanos morriam baleados pela polícia nos câmpus universitários em protesto contra a Guerra do Vietnã, a mais impopular das guerras dos Estados Unidos, um conflito que aos nossos olhos tinha uma potência tecnomilitar agressora sendo derrotada por um país pequenino, mas valente. Nossa simpatia com o lado mais fraco era óbvia. Depois daquela fase eu continuei lutando pela democracia no antigo MDB e no PDT. Nesse processo, eu mudei com o Brasil, mas jamais mudei de lado.
3 comentários:
Bravo? BRAVISSÍMO DILMA!!!! ...essa é minha candidata.
Eu sei Lungaretti que estamos longe do ideal político com esse capitalismo selvagem... mas temos de escolher o diabo menor. A Dilma representa um diabo menor, o serra, representa uma legião infinda de demonios.
Lungaretti,
Creio que Dilma se saiu muito bem nas duas entrevistas que deu, tanto na CartaCapital quanto na Veja. Não se sabe o quanto ela funcionará nos debates eleitorais, pelo menos nas declarações na imprensa escrita, ela vai melhor do que Serra.
Agora, o ponto central no seu post - e sobre o qual eu concordo plenamente - é como a questão da direção do Estado não é central - não de uma perspectiva estratégica - e como essa confusão entre o tático e o estratégico já custaram - e custam - caro para a esquerda - e, claro, o PT é um exemplo emblemático disso como boa parte da social-democracia.
A perspectiva obsessiva de restringir a luta à ocupação do Estado burguês é um grave erro, deixa-se assim de ocupar outros espaços e ao se resumir a luta à sua transformação, acaba-se também transformado ao fim de um ciclo - perdendo, por tabela e cada vez mais, o potencial transformador.
um abraço
Dilma combateu a ditadura aderindo à luta armada, por isto farei a campanha dela com mais entusiasmo. É uma canditdata testada e aprovada na luta armada e no exercício de cargos executivos no Rio Grande e no Governo Federal; elegê-la é questão de honra para os melhores brasileiros.
Ter passado pela luta armada é o melhor currículo de um candidato, depois só a competência executiva e gerencial. O ideal é que ela tenha traquejo com explosivos e armas, além da leitura dos clássicos da guerra, pois nunca se sabe quando se pode precisar destes conhecimentos, portanto, é sempre bom estar preparado.
Além de tudo ela conhece a economia capitalista em sua essência, ou seja, a necessidade de concorrência, e tudo fará para por os capitalistas para concorrrem mostrando o melhor dos produtos e serviços para o cidadão.
Só Dilma dará mais um passo para fazer deste país um país com uma economia apta a se livrar da semi-escravidão, só ela estimulará a cooncorrência pois os Demos-tucanos gostam mesmo é de monopólio, idênticos aos capitalistas mais retrógrados.
Nenhum político me decepcionou ou me dececionará, não vivo de sonhos, os políticos só fazem o que permitem a conjuntura e suas qualidades pessoais.
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