1) Dilma Rousseff terá saúde para concorrer à Presidência da República em 2010?
2) Suas chances eleitorais sobreviverão ao "fator Tancredo Neves" (o temor do eleitorado de que quem acabe governando seja o vice)?
Então, já surgem, aqui e ali, balões de ensaio sobre caminhos para assegurar-se um terceiro mandato consecutivo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Fala-se em plebiscito e até na convocação de uma nova Constituinte (óbvio cavalo de Tróia para legitimar a mudança das regras de um jogo já em curso).
Por enquanto, tudo não passa de boatos e especulações. Então, vou alinhavar aqui alguns argumentos contrários ao queremismo, na esperança de que Dilma dê a volta por cima e de que Lula honre a promessa de não aceitar a reeleição no ano que vem:
- O PT não conquistou o poder com e para os trabalhadores, apenas assumiu o governo, com um programa ambíguo e um leque de alianças altamente questionável (obteve vitórias em duas eleições presidenciais nas quais fez enormes concessões ao grande capital e à politicalha convencional, tanto que depois foi obrigado a comprar o apoio de fisiológicos para garantir sustentação no Congresso);
- Então, se não organizou o povo para a tomada de poder nem fez uma revolução, seria oportunismo apresentar como revolucionária uma virada de mesa para evitar a entrega do governo a outras forças políticas;
- As alegações de que o povo exige Lula, justificadas pela aprovação que ele obtém em pesquisas de opinião, repetem o trágico equívoco cometido em 1963, quando o PCB concluiu que a esquerda já estava no poder porque, no plebiscito presidencialismo x parlamentarismo, o primeiro venceu por 82,1% contra 17,9% (percentuais, aliás, próximos aos melhores alcançados por Lula...);
- Massa desarmada e com conscientização política incipiente, apesar da superioridade numérica, não é páreo para os profissionais do golpismo, como ficou demonstrado no Brasil de 1964 (nem mesmo o povo chileno, muito mais politizado e aguerrido, conseguiria depois barrar o pinochetazzo);
- Quando constata que, pela via democrática, ficará indefinidamente fora do poder, a direita acaba unindo-se em torno dos seus núcleos mais radicais, como ocorreu em 1954 (quando teria destituído Vargas se este não houvesse, com o suicídio, revertido a derrota iminente) ;
- É ilusório acreditar que Barack Obama não reagirá da mesmíssima forma de seus antecessores a uma ameaça em país realmente importante na geopolítica mundial (se antecedentes valem alguma coisa - e como valem! - os EUA continuarão apoiando golpes articulados pela direita unida contra governos de esquerda no Brasil);
- Uma mudança casuística das regras do jogo eleitoral retirará da esquerda a superioridade moral, permitindo que a direita acumule forças travestida de defensora da democracia;
- Tentativas desesperadas só se justificam em situações desesperadas, o que não é o caso, pois uma vitória eleitoral de Serra vai obrigar a esquerda a repensar sua estratégia e táticas, mas não determinará o fim do jogo;
- A velha e boa dialética hegeliana nos ensina que há uma permanente interação entre fins e meios, de forma que a escolha dos meios errados acaba levando a um fim diferente do almejado (ou, em outras palavras, maquiavelismos e atalhos levam a muitos lugares, mas não à revolução);
- Por último, é bom lembrarmos que, na mitologia, aqueles que se deixavam seduzir pelo canto das sereias acabavam por elas assassinados.
Um comentário:
Não fizemos nenhuma revolução para colocar o operário no governo. Se o povo estivesse organizado e fosse para as ruas já teriamos processado vários privateiros e enxotados outros que ainda insistem vomitar falso moralismo no Congresso e na mídia esgôto.
Já repeti isso também várias vezes para os chamados "decepcionados" com o Presidente Lula e o PT.
Ótimo texto, Celso. Peço antecipadamente desculpas pela citação do texto no blog http://blogoleone.blogspot.com
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