É o título de um filme extraordinário de Michelangelo Antonioni, com Jack Nicholson no papel de um jornalista que, cansado da vida e da carreira, resolve trocar seu destino com o de um sujeito parecido com ele, morto no quarto ao lado do hotel.
Deixa seus documentos com o defunto e passa a usar os dele, inclusive comparecendo a encontros anotados da agenda do falecido... sem saber que se tratava de um traficante de armas.
Hoje há uma bobagem na grade da Globo em que tiveram a infeliz idéia de utilizar o mesmo nome. Será que pretendiam homenagear o grande cineasta italiano? Ele deve estar é se revirando na cova...
Mas, o meu tema é mesmo o ofício de jornalista, ultimamente exercido por muita gente que não tem a menor afinidade com ele.
Lembro-me de um episódio emblemático.
Certa vez, um colega da Folha de S. Paulo noticiou que, segundo um pesquisador da Faculdade de Economia e Administração da USP, a economia informal estava gerando xis por cento do PIB brasileiro.
Curto demais para a complexidade do assunto e, portanto, confuso, o texto dele não teve a menor repercussão.
Esperei umas duas semanas, procurei o mesmo acadêmico e conversei duas horas com ele, até entender direitinho o trabalho que realizara e todas as suas implicações.
O principal erro do meu colega foi dar a impressão de que a economia informal gerava, digamos, 25% do PIB oficial. A conclusão do pesquisador era de que, se computada, a economia informal acrescentaria 25% ao PIB oficial.
Em vez de uma notícia de 20 linhas, como a da Folha, avaliei que o assunto valia umas 130. Tornei tudo bem didático e compreensível para os leigos.
Comercializado pela Agência Estado, meu texto foi publicado no Brasil inteiro. A Globo interessou-se pelo assunto, utilizando o despacho da AE como pauta para entrevistar o acadêmico -- que foi também chamado a Brasília, para apresentar pessoalmente seu estudo ao ministro da Fazenda.
Este caso me veio à lembrança quando percebi o erro cometido pela IstoÉ desta semana, ao noticiar a vinda da escritora Fred Vargas ao Brasil, trazendo provas de uma trama de advogado contra Cesare Battisti.
Num primeiro momento, acreditei no relato do colega e até escrevi meu próprio texto em cima da informação dada pela revista.
Logo em seguida, visitando o site Cesare Livre, tive minha atenção atraída por uma matéria antiga infinitamente mais bem apurada e redigida. E percebi que o reporter da IstoÉ trocara as bolas num detalhe crucial.
Felizmente, ainda estava em tempo de eu soltar uma matéria retificadora. Mas, por conta disso, avancei na madrugada reescrevendo o texto.
E só pude veiculá-lo quando o UOL fez a gentileza de me restituir o uso da Internet, após outra de suas habituais panes...
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