domingo, 18 de fevereiro de 2018

AINDA SOBRE A AJUDA QUE CUBA PODERÁ PRESTAR PARA QUE HAJA UMA SOLUÇÃO NEGOCIADA DA CRISE VENEZUELANA

Toque do editor
A posição deste blogueiro é que temos de procurar, com a máxima urgência, soluções alternativas para a crise da Venezuela, caso contrário ela acabará sendo decidida pelas armas, com as matanças somando-se à penúria que já castiga terrivelmente o povo e leva muitos venezuelanos a deixarem o país em desespero. 

Devemos considerar golpe de Estado ou guerra civil como as piores de todas as possibilidades, pois maximizariam o sofrimento de quem já sofreu demais!

Neste sábado (17), o blogue colocou no ar uma proposta interessante do Demétrio Magnoli, passando, contudo batido pelo fato de tratar-se apenas de uma derivação da posição há algum tempo defendida pelo sociólogo mexicano Jorge Castañeda.

Então, para darmos a informação completa, publicaremos, ainda que com considerável atraso, as considerações do Clóvis Rossi a tal respeito.

"'Não há saída para a tragédia de Caracas sem Cuba; não haverá cooperação cubana sem algo em troca', escreveu Castañeda já no ano passado [2017].

Cuba tem atualmente na Venezuela 60 mil efetivos, entre militares, policiais, médicos e treinadores esportivos. A oposição venezuelana jura que todos são agentes de segurança e inteligência.
Raúl Castro deixa o poder em abril. O que virá depois?

Pode ser exagero, mas é evidente que os cubanos tutelam as forças armadas venezuelanas e os serviços policiais, de identificação, de inteligência e de registros de identidade.

Cuba ganha em troca 105 mil barris/dia de petróleo praticamente de graça, além do pagamento dos serviços de seus agentes na Venezuela.

Escreve Moisés Naím, outro acadêmico venezuelano radicado dos Estados Unidos: 'A ajuda venezuelana é indispensável para evitar que a economia cubana entre em colapso'.

Acrescenta: 'Ter um governo em Caracas que mantenha tal ajuda é um objetivo vital do Estado cubano'.

Eis então o ponto que transforma em pensável a proposta de Castañeda: se a comunidade latino-americana conseguir convencer Cuba de que um novo governo em Caracas manterá ao menos em parte os favores a Havana, talvez Cuba colabore para a mudança de regime na Venezuela.

Até porque, o colapso econômico já está afetando seriamente essa ajuda. Carmelo Mesa Largo, cubano radicado nos Estados Unidos (...) e que estuda seu país há 55 anos, calculou (...) que os 105 mil barris/dia originalmente acertados entre Cuba e Hugo Chávez reduziram-se, agora, a pouco mais da metade (55 mil), justamente pela crise na Venezuela.
Êxodo de venezuelanos, que fogem da crise...
Mesmo assim, Mesa Largo duvida que Cuba se disponha a entrar no jogo proposto por Castañeda. Lembra que, quando Barack Obama iniciou o processo de degelo nas relações com a ilha, esperava-se que Raúl Castro ao menos suavizasse a retórica anti-americana e arrastasse com ele países afins, como Nicarágua, Equador e Bolívia.

Não foi o que aconteceu. Ao contrário: Raúl deixou claro que Cuba 'não se venderia por um prato de lentilhas', lembra Mesa Largo.

Em todo o caso, como o prato de lentilhas está minguando e Raúl Castro deixa a presidência em abril, abre-se um período de incertezas. 'Paira um grande ponto de interrogação sobre o que fará Miguel Díaz Canel [provável sucessor]', diz Mesa Largo.
...mas não da penúria!
Há um outro obstáculo para pôr em prática a proposta de Castañeda: que país latino-americano poderia fazer a ponte com Cuba? Mesa Largo só vê duas possibilidades:
  • México, de tradicionais boas relações com a ilha; e
  • Colômbia, já que seu presidente Juan Manuel Santos e Raúl Castro construíram uma boa relação durante as negociações de paz entre o governo colombiano e as Farc – negociações ocorridas exatamente em Havana.
Se o regime cubano patrocinou uma bem sucedida negociação entre um governo conservador e uma guerrilha de origem marxista, em tese poderia desempenhar idêntico papel entre um governo que se diz socialista mas é apenas fracassado e os países da região.

O que, na teoria ao menos, torna menos impensável o impensável de Castañeda.

Até porque, como já se viu, o que é pensável não funciona e a Venezuela derrete irremediavelmente."(por Clóvis Rossi)

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