sábado, 18 de novembro de 2017

IVES GANDRA MARTINS TROMBETEIA QUE NÃO É NEGRO, GAY OU ÍNDIO. PERTENCERÁ ELE AO OPUS DEI OU À KU KLUX KLAN?

Quando não está ajudando os podres de ricos a pagarem menos impostos, o advogado tributarista Ives Gandra Martins preenche seu tempo negando ser isto ou aquilo. 

Esquisito, não? Eu, que nunca tive o menor interesse no que ele é, fico tentando imaginar quem se daria ao trabalho de ler suas mal tecladas linhas só para ficar sabendo... o que ele não é! Parece criança tentando chamar atenção.

O certo é que, no artigo que ele escreveu e foi publicado num blog da comunidade luso-brasileira (vide aqui), suas negações vieram trombeteadas até no quilométrico título: Não sou nem negro, nem homossexual, nem índio, nem assaltante, nem guerrilheiro, nem invasor de terras... etc.

O que ele prefere destacar a seu respeito está no primeiro parágrafo: "branco, honesto, professor, advogado, contribuinte, eleitor, hétero". Só que o Gandra alinhavou características comuns a uma imensidão de brasileiros, o que pouco nos serve para formarmos uma imagem mais definida a seu respeito.

Como sou um homem caridoso, perguntei-me como o poderia ajudar. Aí uma busca virtual me revelou que ele pertence a um universo bem menor e muito mais revelador: Gandra é o principal porta-voz do Opus Dei, como se constata, p. ex., no documentário da Rede Viva que coloquei no pé deste texto.

Fazer parte de uma fechadíssima sociedade secreta (dizem até que ele seria o principal dirigente do Opus Dei no Brasil): eis um dado mais substancioso para ficarmos sabendo quem realmente é Ives Gandra Martins.

Temo, contudo, que não sejam muitos os leitores conhecedores do próprio Opus Dei. Vale a pena, para elucidá-los, reproduzir alguns trechos de um longo artigo (vide aqui) do competente jornalista Altamiro Borges:
"O Opus Dei (do latim, Obra de Deus) foi fundado em outubro de 1928, na Espanha, pelo padre Josemaría Escrivá. (...) Preocupado com o avanço das esquerdas no país, este excêntrico religioso, visto pelos amigos de batina como um 'fanático e doente mental', decidiu montar uma organização ultrassecreta para interferir nos rumos da Espanha... 
...Reconhecida oficialmente pelo Vaticano em 1947, esta seita logo se tornou um contraponto ao avanço das ideias progressistas na Igreja. Em 1962, o papa João 23 convocou o Concílio Vaticano II, que marca uma viragem na postura da Igreja, aproximando-a dos anseios populares. No seu fanatismo, Escrivá não acatou a mudança. Criticou o fim da missa rezada em latim, com os padres de costas para os fiéis, e a abolição do Index Librorum Prohibitorum, dogma obscurantista do século 16 que listava livros perigosos e proibia sua leitura pelos fiéis...  
...Josemaría Escrivá faleceu em 1975. Mas o Opus Dei se manteve e adquiriu maior projeção com a guinada direitista do Vaticano a partir da nomeação do papa polonês João Paulo II...
...Além do rigoroso fundamentalismo religioso, o Opus Dei sempre se alinhou aos setores mais direitistas e fascistas. 
Durante a Guerra Civil Espanhola, deflagrada em 1936, Escrivá deu ostensivo apoio ao general golpista Francisco Franco contra o governo republicano legitimamente eleito. Temendo represálias, ele se asilou na embaixada de Honduras (...), antes de fugir para a França. Só retornou à Espanha após a vitória dos golpistas, firmando então sólidos laços com o ditador sanguinário Francisco Franco... 
...Há também fortes indícios de que Josemaría Escrivá nutria simpatias por Adolf Hitler e pelo nazismo. De forma simulada, advogava as ideias racistas e defendia a violência. Na máxima 367 do livro Caminho, ele afirma que seus fiéis 'são belos e inteligentes' e devem olhar os demais como 'inferiores e animais'. Na máxima 643, ensina que a meta 'é ocupar cargos e ser um movimento de domínio mundial'...  
...Pouco antes de morrer, Josemaría Escrivá realizou uma 'peregrinação' pela América Latina. (...) Na região, o Opus Dei apoiou abertamente várias ditaduras.  No Chile, participou do regime terrorista de Augusto Pinochet. O principal ideólogo do ditador, Jaime Guzmá, era membro ativo da seita (...). 
Na Argentina, numerários foram nomeados ministros da ditadura. No Peru, a seita deu sustentação ao corrupto e autoritário Alberto Fujimori. 
Igreja Católica foi cúmplice ou omissa face ao nazismo 
No México, ajudou a eleger como presidente seu antigo aliado, Miguel de La Madri, que extinguiu a secular separação entre o Estado e a Igreja Católica"
Resumindo: não passam de herdeiros de Torquemada pregando um retrocesso ao catolicismo medieval e tudo fazendo para tanger governos ao fascismo, que priorizam a infiltração na grande imprensa e seu controle político-ideológico como meios para atingirem seus objetivos. Os quais, para aqueles (meu caso) a quem Deus foi apresentado como um Deus de amor e não do ódio, parecem muito mais ser obras do diabo

Que tipo de homem é capaz de bater no peito, orgulhando-se de não ser "negro, nem homossexual, nem índio"?! Quem é contemporâneo espiritual do século 21 e não um nostálgico empedernido da intolerância medieval, fica chocado ao constatar a forma rancorosa como Gandra alude ao fato de alguém ter nascido negro, índio ou preferir praticar o amor com pessoas do mesmo sexo (os héteros que não têm fixação por tais ninharias simplesmente concordam com o belo verso de Caetano Veloso, "qualquer maneira de amor vale a pena").

E o que têm a ver tais posturas repulsivamente preconceituosas com os ensinamentos do próprio catolicismo, afinal? Se negros e índios fossem mesmo o cocô do cavalo do bandido, por que Deus os teria criado? 
Opus Dei teve forte influência nos regimes de Franco e Pinochet
Os pretensos executantes da obra de Deus parecem, isto sim, estar querendo corrigi-la. Vale lembrar que São Tomás de Aquino considerava a soberba como o pior dos sete pecados capitais...

[É curioso que o racismo explícito, assinado e com firma reconhecida do chefão do Opus Dei tenha, nas redes sociais, provocado grita infinitamente inferior à desqualificação furibunda de William Waack sob o pretexto de haver feito um gracejo de mau gosto para os colegas no ambiente de trabalho, sem nenhuma intenção de torná-lo público. A que se deverá uma disparidade tão paradoxal nas reações aos dois episódios?]

Quanto às outras negações do Gandra, eu fui guerrilheiro e tenho muito orgulho de haver confrontado uma tirania odiosa e sanguinária; não hesitaria um segundo em ajudar a invadir latifúndios e terras improdutivas para que famílias pobres tivessem onde morar e trabalhar; e, mesmo não me agradando a ideia de ser um assaltante, ainda preferiria tal opção a ser um dirigente do Opus Dei.

Este documentário sobre o Opus Dei é meramente apologético, então nem me 
preocupei em postar suas outras 5 partes, que podem ser encontradas
com facilidade no Youtube. Meu  objetivo foi apenas o de mostrar 
o Gandra cumprindo seu papel de porta-voz do Opus Dei.

4 comentários:

Anônimo disse...

Você é tão certeiro em sua catilinária que não consegue ver que o Ministro do TST da foto ao lado de Temer é uma pessoa e o autor do artigo é outro ou é sacanagem com pai e filho ao mesmo tempo? Pelo seu caráter dever ser a segunda hipótese. Um é advogado, o outro é Ministro do TST, um é o pai o outro é o filho, o pai é o autor do artigo, o outro pode até concordar mas nãos assinou o texto. Você continua o Lungaretti de sempre, parabéns pela coerência.

celsolungaretti disse...

Se o Gandra pai só tem algum interesse para mim por sua condição de porta-voz e dirigente do Opus Dei, o Gandra filho não tem nenhum. Evidentemente, não me dei conta que eram dois e não um. Agradeço por ter-me chamado a atenção (as correções foram feitas), ao mesmo tempo em que deploro a forma gratuitamente ofensiva como o fez.

Anônimo disse...

Não a primeira primeira vez que você faz isto, nem é a primeira vez que chamo sua atenção para este expediente desonesto, então só pode ser coerência.

celsolungaretti disse...

Infelizmente, a explicação é outra: a idade me tornou distraído com relação ao que não tem importância para mim. Quando eu trabalhava no Estadão, o Gandra era um queridinho da diretoria e os jornalistas da casa, evidentemente, não tínhamos simpatia nenhuma por ele. Continuo não tendo. Deveria ter percebido pela foto que o filho é jovial demais para ter a idade do pai. Passei batido. Agora, não só corrigi o post novo, como os do passado também. Por brio profissional, não por considerar que o leitor perca muito não sabendo direito o que são e o que representam esses dois. Acho engraçada a visão que vocês, leigos, têm da atividade jornalística. Pensam que fazemos textos errados só para termos o trabalhão de consertá-los depois, mudar a diagramação, escolher novas ilustrações, etc. Pelo contrário, o que mais queremos é que nossos textos sejam definitivos e nunca mais precisemos mexer neles.

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