sábado, 9 de setembro de 2017

DALTON ROSADO ESTÁ INDIGNADO: "A QUE PONTO ENLAMEARAM A ESTRELA OUTRORA ESPERANÇOSA DO SOCIALISMO!"

A ÉTICA E A MORAL DA RIQUEZA ABSTRATA

"Quem com porcos se mistura,
farelo come" (provérbio lusitano)
Comportamento ético é aquele consentâneo com um código de postura estabelecido como válido para as ações por uma determinada convenção social (de comunidades, de grupos de pessoas, etc.); a moral, por seu turno, diz respeito ao princípio de comportamento que deve nortear as ações humanas no sentido do bem e da justiça comuns, independentemente de quaisquer convenções circunstanciais. 

A ética é código de comportamento em sentido estrito e a moral, em sentido lato. Assim, a ética estabelecida dentro de um determinado círculo social pode contrariar um senso de moral universalmente aceito. Todas as ações sociais ou individuais obedecem a um padrão ético qualquer, que pode eventualmente, como sói acontecer, contrariar o padrão moral ideal. 

A quebra o padrão ético é atitude antiética restrita aos que a ela se submetem; a quebra do padrão moral é abjeta para todos e em qualquer circunstância. Os ladrões, p. ex., têm um rígido padrão ético para a partilha do roubo e uma postura moralmente abjeta perante o conceito de honestidade.

O objetivo desta introdução foi fornecer parâmetro de aferição do que seja comportamento ético e comportamento moral em relação ao fenômeno social da acumulação da riqueza material e da riqueza abstrata (dinheiro e mercadorias) em contraponto com a pobreza sob um mesmo critério de mediação social, bem como para comportamentos dos gestores de dinheiro público. 

No capitalismo não é considerada uma atividade socialmente antiética ganhar dinheiro desenvolvendo uma atividade empresarial qualquer com o uso de capitais, mediante a extração de mais-valia dos empregados, objetivando o lucro e a acumulação da riqueza material e abstrata; afinal, trata-se do critério de mediação socialmente estabelecido e legalmente estatuído, embora a extração de mais-valia que enseja a acumulação da riqueza seja moralmente condenável. 

O trabalhador empregado numa atividade empresarial qualquer, ao vender a sua força de trabalho, também tem o objetivo de ganhar dinheiro sob a forma de salário. Ambos, patrão e empregado, agem sob a coerção de um modelo social pré-estabelecido como padrão e código de ética social: os primeiros como privilegiados detentores do capital (ainda que o patrão seja o Estado, como no socialismo real) e os segundos, como empobrecidos serviçais desse mesmo capital. 

Assim, o admitido pelo (equivocado) trabalhador e pelo (satisfeito) patrão como regra de comportamento é o padrão ético de relação social mediada pela forma-valor. 

A mediação social por meio da forma valor (dinheiro e mercadorias) obedece a um padrão moral socialmente negativo e execrável, razão pela qual é imposto de modo coercitivo: qualquer tentativa de estabelecer-se um modo de vida social fora do dito cujo será alvo de coibição pela lei e pelo Estado, mediante o uso da força. 

A acumulação da riqueza se dá necessariamente de modo segregacionista, ou seja, com a apropriação indébita pelo capitalista do valor que o trabalhador produz, posto que este último jamais pode receber um quantum de valor igual ao que gerou em sua jornada de trabalho .

Esse é o mecanismo pelo qual existe, e agora se intensifica graças ao uso da tecnologia aplicada à produção de mercadorias, a exploração social causadora da imensa desigualdade social mundo afora. 

A relação social sob a forma-valor, abominável em termos morais mas eticamente aceita:
  • é a aceitação sob coerção ou inconsciente consenso de uma ética anti-social que legitima a mediação social sob a forma-valor, mesmo que ela seja moralmente inaceitável; 
  • é a positivação dos conceitos de mediação social capitalista como padrão ético virtuoso, empanando a possibilidade de se considerá-lo moralmente inaceitável. 
O conceito de moral como ideal de justiça abomina o capitalismo, mesmo que o padrão ético de comportamento social estabelecido o avalize, até porque o consenso de sua aceitação deriva de uma legitimação obtida por coerção social, muito embora itso represente uma nulidade absoluta.

A corrupção com o dinheiro público visando à mesma acumulação patrimonial é moral e eticamente condenada. 

É que, no capitalismo, há roubo consentido e roubo criminalizado, como resultante de uma moral social abjeta e de um padrão ético equivocado e juridicamente imposto ou convencionado.   

Os benefícios da delação premiada aos corruptos são moralmente abomináveis e eticamente equivocados.

Quando se negocia com bandidos fatalmente se entra no mundo tenebroso da mentira, da insegurança, da traição, do ardil e outras mazelas humanas, quebrando-se o padrão moral de comportamento universalmente aceito como bom e correto.  

Vai daí que as pretensas vantagens sociais e judiciais decorrentes da premiação aos criminosos por delatarem seus comparsas terminam sempre por resvalarem para a vala comum do comportamento amoral e da ética delituosa. 

Quem se iguala aos criminosos nas suas práticas, perde a noção de humanidade e boa moralidade.

Quem premia a delação de criminosos, admite implicitamente a tortura e a morte de presos como prática de justiça, ainda que assim não queira se conduzir nem se dê conta de tal identidade. Trata-se do velho juízo de valor de que o fim justificaria os meios.

Defender a delação premiada é incorrer no mesmo raciocínio dos que, a exemplo de Jair Bolsonaro, defendem a pena de morte (felizmente banida do Brasil) como pena para determinados crimes. 

O caso de Joesley Batista, cuja delação mais parece o feitiço se voltando contra o feiticeiro, evidencia de forma emblemática aonde levam os caminhos tortuosos, amorais e eticamente equivocados da trilha do compadrio da justiça com a bandidagem. 

Além do mais demonstra à saciedade a incapacidade dos instrumentos institucionais (tribunais de contas, Justiça Eleitoral, comissões de licitações de obras e serviços públicos, contabilidade pública, etc.) para fiscalizarem e coibirem os desvios na gestão das verbas ditas públicas.

A lei que autoriza a delação premiada com a absolvição parcial e cômoda, antes de ser moralmente reprovável, é um mecanismo socialmente incompreensível, uma vez que ela absolve criminosos corruptos em larga escala para apenas prender alguns poucos. Se quisermos admitir algo de positivo na delação premiada, seria apenas a constatação de quão frágil e indigno é o padrão de solidariedade entre os criminosos e quão insustentável o padrão da ética estabelecida pelo crime. 

As máfias exigem juramento de fidelidade dos seus membros e quem quebra tal código de ética é punido com a morte. Na justiça, quem delata é premiado. 

Tais posturas são faces distintas de uma mesma moeda, literalmente, pois tudo se resume à intenção dos criminosos de quaisquer tipos de acumular riqueza abstrata (valor, dinheiro e mercadorias).

A DELAÇÃO DE ANTÔNIO PALOCCI – Tenho, pessoalmente, todas as razões do mundo para continuar até hoje magoado com o José Dirceu. Foi ele quem a direção nacional do PT incumbiu de ir até Fortaleza em 1988 para comunicar que, se o grupo da prefeita Maria Luíza insistisse na candidatura a prefeito de Dalton Rosado (eles sabiam que ganharíamos as eleições internas no Diretório Municipal), seus integrantes seriam todos expulsos. 

Insistimos e fomos expulsos. O comportamento de José Dirceu e a sua condenação no caso mensalão e petrolão são de fazerem corar de vergonha a estátua de Tiradentes. 

Mas uma coisa se deve reconhecer: num ato de dignidade solidária entre bandidos, José Dirceu se mantém calado (até aqui) com relação aos seus comparsas.  

Ver o médico Antônio Palocci, que ocupou os mais altos cargos da República, operar os seus comparsas de governo (que lhe conferiram poder político-institucional em compadrio político-financeiro) numa tentativa de livrar a própria pele sem que tenha sofrido um arranhão físico sequer, é de causar repulsa nauseabunda.

A que ponto enlamearam a outrora esperançosa estrela do socialismo, aqui e alhures"   
 
AS MALAS ABARROTADAS DE GEDDEL  – Como terá ficado a cara do Presidente Temerário ao ver pela televisão as malas com R$ 52 milhões apreendidas pela polícia em apartamento usado por Geddel Vieira Lima, até ontem ministro do seu governo e tido como homem de sua inteira confiança (tanto que, graças a ele, ocupou altos cargos na saqueada Caixa Econômica Federal)? Há que se ter muito verniz para lustrar a cara de pau da desfaçatez governamental. 

Isso tudo nada mais é do que a República nua e crua. Tida como paradigma de comportamento a ser buscado e incensada por seus hipócritas áulicos como um benéfico (acredite quem quiser...) arcabouço jurídico-constitucional da ordem social capitalista, agora sua máscara caiu e são bem poucos os que ainda engolem o papo furado de que o mar de lama se constituiria num desvirtuamento dos pretensamente isonômicos princípios republicanos. 

Estava certo William Shakespeare, ao assim definir a moeda corrente de então (1623) na peça Timão de Atenas
"Ouro amarelo, fulgurante, ouro precioso! (...) / Arrasta os sacerdotes e os servos para longe do seu altar, arranca o travesseiro onde repousa a cabeça dos íntegros. Esse escravo dourado ata e desata vínculos sagrados; / abençoa o amaldiçoado; / torna adorável a lepra repugnante; / nomeia ladrões e confere-lhes títulos, genuflexões e a aprovação na bancada dos senadores. / (...) mineral execrável, prostituta vil da humanidade".
(por Dalton Rosado) 

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