quarta-feira, 31 de maio de 2017

A ESQUERDA DA MINHA VIDA

Por Apollo Natali
A marca portentosa de mais de 2 milhões de acessos atingidos pelo Náufrago da Utopia em seus oito anos de vida está a proclamar que esse órgão de comunicação, politicamente de esquerda, não é apenas mais um blogue entre seus semelhantes da extensa rede espalhada pelo Brasil. É algo mais. Com a palavra seus muitos milhares de leitores.

Porém, o que está buscando seu fundador, meu amigo e colega de profissão de longa data, Celso Lungaretti, não é aplauso.

Não! O que Lungaretti espera é uma reflexão crítica: trata-se mesmo o Náufrago de um blogue que defende a justiça social, a liberdade, os direitos humanos e o exercício do pensamento crítico?

Lungaretti considera satisfatório o que tem sido feito mas indaga se seria possível melhorar. Ele confessa suas persistentes tentativas de ser eclético e sonha ir muito além do que já fez.  E quanto fez.

Para saber, enfiem o nariz nos milhares de posts do blogue, antigos e recentes.  Os feitos não cabem neste espaço. E nem competência e nem memória me socorrem para destrinchar a todos. Fucem nas tags.

Hoje, seu desejo é o Náufrago ostentar um mostruário das tendências posicionadas à esquerda do PT. Reconhece, há um bocado de estrada para percorrer. .
Irreverente até com os cartazes da ditadura!

Pessoalmente, agrada-lhe muito tratar de assuntos políticos sem a reverência a que outros articulistas acostumaram o público virtual. Jamais quis ele fazer algo tão provocativo quanto o Charlie Hebdo, que às vezes exagera na dose, e sim recuperar um pouco do espírito zombeteiro de O Pasquim. Ofende seu senso estético dar tratamento exageradamente respeitoso aos anões morais e intelectuais da política brasileira. 

Não é aplauso que Celso Lungaretti está a buscar, mas sim um balanço honesto do caminho percorrido e indicações do que ainda está devendo. 

Afinal, que caminho é esse, a esquerda, pauta fiel do Náufrago?  A resposta culta eu ouço da boca dos estudiosos, dos intelectuais, da Academia. Mas como trocá-la em miúdos, em linguagem simples e direta, para boa parte dos 200 milhões de brasileiros não tão acadêmicos? Para o gasto do dia a dia do mortal que anda de ônibus, qual o significado dessa palavra  incompreendida até para mim?  

Definição acadêmica: os grandes ideólogos do marxismo e do anarquismo, Marx e Proudhon, pregavam a tomada de poder pelos trabalhadores que reformulariam a sociedade no sentido da priorização do bem comum, com as pessoas trabalhando solidariamente para que as atividades produtivas visassem ao pleno atendimento das necessidades humanas em regime de cooperação voluntária e igualdade. 

Lindo. Utópico. Impraticável. Como se tem visto. Que Lungaretti e seus pares de idéias possam perdoar minha visão turvada. Longínquo, incerto é o dia em que a humanidade vai atingir o topo moral necessário a uma vida feliz como essa. Não estaremos aqui para ver, nem nossos descendentes.  Que o digam a História, escrevo sempre com maiúsculo, façam o mesmo, que o digam os infrutíferos sangue e  lágrimas derramados  de Marx a Lênin,  deste, a Stalin, de Fidel a Maduro.

Ingenuidade sofrida, a minha. Gostaria que a esquerda fosse a prática geral da defesa dos fracos e oprimidos. Nada de tomar o poder, com armas ou sem armas, para implantar projetos eivados de crise moral de seus líderes. Olha eu a descambar para o  anarquismo. Utopia.  
"A direita é o forte bater no fraco"

Esquerda falada nos botequins da vida, eis a minha esquerda. Num desses botequins, bato um papo com um que pode ter plantado uma primeira semente da esquerda. Sim, o rei Salomão.  Pregava a ajuda aos pobres, necessitados, oprimidos, injustiçados. Riquíssimo. Mil mulheres. 

Discursava sobre a minha esquerda de botequim do alto de seu mesmíssimo, fatídico, deslumbrante, desastroso, injustíssimo palácio de Versalhes, como fizeram e fazem os poderoso tanto da esquerda como da direita, do centro, do alto, do baixo. 

Não se iludam, não dá certo, o ser humano não presta, seja da esquerda seja da direita, discursava em classe diariamente um meu professor de Direito da USP.  Já proferi essa prédica em algum lugar.  De vez em quando me acalmo acreditando que o mundo está cheio de gente boa, não políticos. 

E a direita, o que é? Definição acadêmica constante do Náufrago: é o partido da ordem que defende os interesses do capital e o estado de Direito. Partido esse que não passa, segundo Lungaretti, da moldura institucional para a dominação capitalista. E há a direita autoritária, hoje personificada por Jair Bolsonaro.

A direita, que não é a minha querida, afigura-se-me como fascismo. Minha definição querida: a direita, o fascismo, é o forte bater no fraco. Simples assim. 

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