sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

BALANÇO DE 2016: A PERDA FOI TOTAL E TEMOS DE RENASCER DAS CINZAS!

Sinceramente, eu gostaria de poder oferecer-lhes previsões otimistas para 2017,  mas há algo no meu caráter que me obriga a dizer sempre as verdades desagradáveis, em vez de semear ilusões convenientes. Lamento.

Sinto-me como o grande Sérgio Ricardo, que, no auge da ditadura militar, se desculpava: "Ai, a grande tormenta roubou / os versos que eu tinha pra lhe dizer / e, por mais que eu procure buscar / palavras perdidas no ar, / vem a onda pra me impedir / de rimar".
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E o pior é que, desta vez, nem sequer estamos manietados pela força bruta, mas sim colhendo os frutos dos erros terríveis que cometemos após sairmos da ditadura militar com aura de heroísmo e martírio, passando então a dilapidar insensivelmente o patrimônio moral acumulado à custa do sacrifício de tantos companheiros inesquecíveis e imprescindíveis. 

E, como tivemos responsabilidade imensa na virada da maré contra nós, agora é nosso dever combatermos com todas as forças a arrebentação dessa nova onda direitista que se abate sobre o Brasil (e sobre o planeta).
Quem seriam os líderes hoje? 
A recessão brasileira perdurará ao longo do próximo semestre e, na melhor das hipóteses, a coisa só começará a melhorar, timidamente, após as férias escolares. Como já temos mais de 12 milhões de desempregados, a situação é dramática ao extremo.

Meio mandato presidencial findo, a possibilidade de realização de eleições direitas em 2017 –seja visando escolher alguém para concluir o mandato de Dilma/Temer, seja antecipando o pleito de 2018– é de operacionalização dificílima. 

Canso de lembrar que os brasileiros, em 1984, estavam há 23 anos sem eleger presidente da República, enquanto hoje vêm de eleger há dois anos uma presidente desastrosa. E que a esquerda então estava renascendo e hoje se encontra no fundo do poço. 

Daí serem quiméricas as esperanças de que o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal facilitem as coisas para a viabilização de uma solução heterodoxa e nada leva a crer que teriam as ruas a pressioná-los com um clamor tão contundente quanto o de 1984 (o qual, mesmo assim, foi ignorado!).

Segundo a letra da Constituição, se Michel Temer tiver por qualquer motivo de abandonar o governo a partir do primeiro minuto de 2017, os 594 senadores e deputados federais é que escolherão seu substituto, para cumprir o restante do mandato atual. 

Trata-se de uma situação do tipo se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. E, ainda recorrendo aos velhos chavões, podemos dizer que a direita está com a faca e o queijo nas mãos. tendo tanto a opção de manter Temer quanto a de trocá-lo por algum tucano (utilizando os préstimos do TSE e do Congresso).

Não quero, contudo, encerrar este texto de forma tão depressiva. Como revolucionário, apostarei sempre na chance que os homens têm de mudar o rumo dos acontecimentos, mesmo quando a correlação de forças é das mais adversas. 

O voluntarismo, contudo, tem limites. Então, depois de uma derrota tão acachapante como a de 2016 (em muitos aspectos pior ainda que a de 1964!), insistir no mais do mesmo só levará a esquerda a maximizar seus prejuízos, marchando para a irrelevância.

Precisa fazer a autocrítica da qual foge há sete meses, identificando os erros estratégicos e táticos cometidos, abandonando as definições que não passaram pelo teste da prática, assumindo posturas bem diferentes e escolhendo novas lideranças para substituir as que se descredenciaram fragorosamente.

Lembro-me de minha meninice, quando assistia aos teipes das partidas da Seleção Brasileira no Mundial de 1962 e ficava curioso sobre uma frase que aparecia com destaque no placar do estádio de Viña del Mar: "¡Porque nada tenemos, lo haremos todo!". 

Soube depois que um terremoto destruíra parte considerável da infra-estrutura chilena para a realização da Copa, mas o país resistiu a todas as pressões para dela abrir mão, dispondo-se a reconstruir tudo nos 25 meses que faltavam. A bela frase de um dirigente esportivo tornou-se o lema da titânica mobilização dos andinos, que acabaram as obras no próprio dia do pontapé inicial...

É como a esquerda precisa assumir que está neste momento: nada lhe restou de aproveitável e precisa reconstruir tudo.

Se o fizer, poderá, sim, dar a volta por cima, em médio prazo. 

Mas, só vai ter futuro reassumindo-se como força revolucionária, pois as contradições do capitalismo estão conduzindo a um momento decisivo na história da humanidade, que poderá ser tanto a superação de um sistema totalmente exaurido enquanto motor do progresso e da felicidade humana, quanto a própria extinção da nossa espécie. 

O certo é que os tempos do populismo e do reformismo terminaram definitivamente, sem deixar saudades. 

E que, para cumprirmos tanto nosso dever como seres humanos quanto o compromisso que temos com relação aos pósteros, precisamos fazer muito mais do que fizemos até agora.

Começando por renascer das cinzas, a exortação do poeta Ednardo que adoto como minha mensagem final.

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