sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

ASSIM FALOU O HOROSCOPISTA ACIDENTAL

"O ano de 2017 vai enriquecer a sua personalidade. Você terá mais força, mais persistência e mais equilíbrio. Um bom ano para encontrar a paz interior. Até setembro haverá grande necessidade de autoaperfeiçoamento no plano global e um aumento de consciência coletiva. Muitos de nós vamos nos conseguir fazer entender, reivindicar e abrir uma nova era."
(horóscopo pinçado na web: espertalhões
falam sempre o que os otários querem ouvir)
Ano novo, esperançosa temporada de se buscar novos e floridos caminhos.

Sucede que, desde que pela primeira vez senti cheiro das donzelas, em inacreditáveis verdes anos, venho empregando um procedimento científico para ver como são agora as amazonas de tal ou qual signo, em relação ao meu. 

Sempre fiz questão de combinar com elas. Pois não é uma vereda cheia de flores? Hoje, empoeirado pelo chão desértico de tantos atalhos explorados, acabei por concluir: quem ama e pensa, não ama, pensa. 

O procedimento científico que usei é a perseverante observação, complementada pela comparação, indução e dedução. 

Ridículo. Homem de sucesso com as mulheres é aquele alto, topetão, voz de trovão, de formas agradáveis, proporções harmônicas, graça exemplar da evolução das espécies, de Charles Darwin.

Então. Antes de começar namoro, os da minha espécie inferior se defendiam esquadrinhando os signos. 

Meu bondoso e paciente pai me disse que ele poderia ficar pirado um dia, neste mundo qualquer um está sujeito; mas não seria fazendo essa pesquisa, desde os verdes anos até os maduros. 

Pior era um amigo meu, da Mooca, darwiniano legítimo, verdade, cara do ator italiano Marcello Mastroianni melhorado. Ele contava piadas para as namoradas e quando a eleita do seu coração abria a boca para rir, se exibisse um resquício de cárie anti-darwiniana no mais longínquo molar, o namoro não engatilhava.    

Então. É a evolução das espécies, ora.

Curiosamente, nas minhas observações, via uma mulher de tal ou qual signo, virtuosa, e uma outra, do mesmo signo, nem tanto. Via um colega sacerdote de um signo e outro, do mesmo signo, com problemas com a polícia. Um violento de um signo e outro um carneirinho do mesmo signo. Alguns com muita sorte de um signo e outros do mesmo signo, nem tanto. 

Conclusão científica: o signo não tem nada a ver com o caráter nem com a lei das probabilidades de bem suceder. Deve ter algo a ver com o humor.

Minhas observações mostram, sim, que o signo não pode determinar o caráter de alguém. Se não, vejamos. 
Acredite quem quiser...
Deduções: o destruidor de vidas Hitler era de Áries. Alma doce, mundialmente querido, Charles Chaplin, um dos maiores críticos do próprio Hitler, também era de Áries. Este que vos aborrece escrevendo estas mal traçadas linhas, igualmente é de Áries. Desato a soluçar até em inauguração de posto de gasolina.

Dizer que, por carregar nas costas tal ou qual signo, alguém é bondoso ou mau, líder ou liderado, honesto ou desonesto, que pode viajar de avião ou não pode, que deve ser prudente ao volante, que está sujeito a gripe, que vai receber uma carta, que precisa ficar calmo, resistir às tentações e que terá negócios fáceis com Júpiter na triangulação, mas precisa cuidar da alimentação, é dose. Tomada de cena: sorrisinho crítico de quem ouve falar nessas coisas.

No entanto, minhas honradas investigações me levaram a uma conclusão muito séria. Trata-se mais de uma percepção e isto não se explica cientificamente.Tenho a minha percepção e vocês têm as suas. 
Vejam bem: somos influenciados por tudo o que nos cerca, palavras, atitudes, o berro no ouvido, as belezas naturais, a cruel força bruta, os humanos bondosos por natureza, o céu bordado de estrelas, a água transparente do mar, o furacão, o regato, essa lindeza de águas límpidas a descer cambaleando pelas matas como louco, qual bêbado deixando o bar de madrugada.

Quando faz sol, temos um humor. Quando não faz, outro. Quando é lua cheia, um. Quando não, outro. Vivemos ou não hipnotizados por tudo o que nos cerca? Nosso humor não estaria condicionado a tais forças, esses enormes globos flutuando no cosmo, girando, afastando-se, aproximando-se? Não estaria o nosso humor influenciado pela criação ao nosso redor? 

Então. As almas que nascem sob determinadas influências, em tal ou qual momento, com tal e qual lua, com tal e qual planeta, não seriam, talvez, possuidoras de tal ou qual fluído, uma energia, uma atmosfera (achei!) que pode ou não combinar com as das outras pessoas? Não é complicado.

Então. As atmosferas se entrechocariam ou se afinariam, dando bom casamento ou não, boas amizades ou não, relações comerciais ricas ou não. Mas daí a dizer, como ouvi de um amigo, que por ser de tal signo tinha direito a sete mulheres, é o fim do mundo, embora um aprazível fim do mundo. O que o astrólogo dizia é que no planeta Terra existe uma proporção de sete mulheres para cada homem, e desta bênção não se pode reclamar.

Então. Minha brincalhona pesquisa revela que, se uma pessoa pôs tanta amargura em teu pobre coração, estimado leitor, ou leitora, sejam quais forem os seus signos, as suas atmosferas não se casaram. O certo, então, seria cada um procurar a sua atmosfera gêmea, ou trigêmea, pouco importa, sem se amargurar.

Quanto ao meu signo, nas minhas observações de décadas, constatei que num ponto os horoscopistas parecem ter alguma razão: eles dizem que Áries combina com Aquário, Sagitário e Leão.  Destes três, para mim, tem sido melhor Leão. No entanto, já ouvi mulher de Leão dizer que detesta Áries. Durma com um barulho desses.

Com mulher de Leão, eu sou mais eu, embora já tenha combinado, e bem, e as pesquisas não explicam, com Aquário, Áries, Gêmeos, Capricórnio, Câncer, Libra, Touro. Com todos os signos. 

E com que excelência coexisto com a doce mulher de Touro! Quer saber mais? Sabe aquele olhar estonteante, aqueles lábios de seda? Essa hipnótica expressão do rosto feminino acaba com a minha pesquisa, essa é que é a verdade. Mas que signo!

Estas questões não devem preocupá-los, amáveis leitores e leitoras, sejam vocês de tal ou qual signo. Com a Lua minguante em sextil a Júpiter e Saturno, nada a temer em 2017.  

Mas, ouçam os astros! Eles, os astros, estão certos em recomendar cautela ao manobrar o carro em ruas movimentadas e ficar esperto ao atravessar a Radial Leste. 
(por Apollo Natali)

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