A única mudança importante nas minhas convicções ideológicas, desde então, foi ter saído dos cárceres da ditadura convencido de que nada, absolutamente nada, justificava o esmagamento do indivíduo pelo Estado, que eu e meus companheiros sofrêramos na pele.
Passei a colocar em plano de absoluta igualdade os objetivos revolucionários e o respeito aos direitos humanos. Ou seja, encaro ditaduras, permanentes ou transitórias, como incompatíveis com a dignidade do ser humano e também com a própria integridade da revolução, pois a desvirtuam irremediavelmente, favorecendo a imposição da vontade de nomenklaturas sobre os trabalhadores.
A revolução deve transferir o poder ao povo, não entronizar novos privilegiados.
Hoje enxergo pontos válidos no marxismo, no anarquismo, no trotskismo e em muitas bandeiras específicas da geração 68. Se a humanidade vier a ser libertada (há, infelizmente, a possibilidade de o capitalismo nos conduzir ao extermínio antes disto), será pelo que de melhor tais vertentes produziram. É essencial que estejam unidas nos momentos decisivos.
A revolução também não se confunde com capitalismo de estado, nem é necessariamente alavancada pela estatização da economia. Por tal caminho se chega mais facilmente ao fascismo do que ao reino da liberdade, para além da necessidade.
Fui dos primeiros a entrevistar o Lula na campanha eleitoral de 1989. Perguntei-lhe como faria para evitar que as estatais continuassem a serviço da politicalha. Ele respondeu que as colocaria sob a tutela de conselhos de trabalhadores.
Quando finalmente chegou à Presidência da República, não moveu uma palha neste sentido. Nem isto lhe foi cobrado por quase ninguém, infelizmente. De 1989 a 2002, a esquerda não avançou, retrocedeu. E continua até hoje andando para trás, como os caranguejos.
Eu não mudei um milímetro; considero, p. ex., que teria sido muito melhor se a gestão da Petrobrás coubesse aos trabalhadores organizados. Talvez estes a tivessem mantido nos trilhos, evitando que fosse saqueada e quase destruída pelos políticos profissionais (ou em seu benefício).
É patética a compulsão pelo poder sob o capitalismo que contagiou a maior parte da esquerda brasileira. Da Presidência da República à vereança, os cargos eletivos na democracia burguesa sempre foram encarados pelos revolucionários como meios para impulsionar a revolução, meras ferramentas da ação revolucionária, e não como fins em si.
Acabamos de assistir, pelo contrário, à utilização de um imenso arsenal de ilicitudes, falácias e casuísmos para tentar salvar uma presidente que nem sequer estava conseguindo governar, tendo chegado ao cúmulo de entregar a condução da política econômica a um neoliberal, ou seja, a um inimigo de classe.
Diziam que cabia aos esquerdistas apoiarem incondicionalmente Dilma Rousseff, mesmo que isto lhes acarretasse enorme desprestígio e apesar de ela pisar o tempo todo nos ideais e bandeiras da esquerda que um dia honrou. Mas, como a veria uma pessoa isenta e dotada de espírito crítico? Apenas como uma tecnoburocrata que apostava todas as suas fichas no Estado e não no povo, com um indisfarçável viés autoritário.
A revolução é infinitamente mais importante do que quaisquer governos que se limitem a gerenciar o capitalismo para os capitalistas. Pois só ela é solução solução definitiva para os dramas que nos afligem na sociedade de classes. Inexistindo o poder popular, as conquistas de uma fase podem ser todas anuladas na fase seguinte, como está acontecendo agora.
Desmoralizar a revolução aos olhos dos trabalhadores, fazendo-os identificarem-na com tudo que há de antipopular e antiético, equivaleu a destruir sua esperança num futuro de realização plena dos seres humanos, em troca de um poder muito mais ilusório do que real. Quando o verdadeiro poder --o econômico-- decidiu dar um fim ao ciclo petista, o fez com um simples piparote, sem nem mesmo ter de recorrer aos serviçais fardados.
Desmoralizar a revolução aos olhos dos trabalhadores, fazendo-os identificarem-na com tudo que há de antipopular e antiético, equivaleu a destruir sua esperança num futuro de realização plena dos seres humanos, em troca de um poder muito mais ilusório do que real. Quando o verdadeiro poder --o econômico-- decidiu dar um fim ao ciclo petista, o fez com um simples piparote, sem nem mesmo ter de recorrer aos serviçais fardados.
Governos vêm, vão e nada muda sob a democracia burguesa e o capitalismo. Cabe-nos, então, priorizar sempre os ideais de esquerda, pois são eles a bússola que nos aponta o caminho para uma sociedade igualitária e livre.
E os erros cometidos nos últimos governos nos devem servir de lições: teremos de fazer tudo bem diferente da próxima vez, para que os frutos dos nossos árduos e abnegados esforços não nos escapem novamente dentre os dedos.
E os erros cometidos nos últimos governos nos devem servir de lições: teremos de fazer tudo bem diferente da próxima vez, para que os frutos dos nossos árduos e abnegados esforços não nos escapem novamente dentre os dedos.
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