A longa espera dos que as autoridades tratam a pontapés |
Li que parentes dos presos menos ilustres da penitenciária da Papuda vaiaram os visitantes dos condenados do mensalão. Motivo: para retirarem uma senha às 6 horas da manhã, eles são obrigados a chegar na véspera e pernoitar ao relento. Ficaram com inveja de quem está sendo poupado de tais rigores.
Deveriam é botar a boca no trombone, denunciando o tratamento inadmissível e inaceitável que recebem. Mas, os pobres brasileiros costumam ser caninamente submissos às otoridade; pisados, fazem apenas questão de que os seus iguais também o sejam. É a chamada solidariedade às avessas.
Nas duas vezes em que lá estive para visitar Cesare Battisti, fui a reboque de uma deputada e entrei sem dificuldade nenhuma. Honestamente, ignorava que até nisto houvesse gritante desigualdade. De qualquer forma, eu não teria tempo suficiente para me submeter àquela rotina odiosa. O que não me impede de sentir-me culpado pelo privilégio do qual inadvertidamente desfrutei.
Quem é mais igual tem outra vantagem, a de não ser vigiado. Ninguém ficava nos controlando. Então, pude anotar tudo de que precisava para montar a entrevista que o Congresso em Foco me encomendara (esta aqui). Teoricamente, deveria ter pedido autorização ao relator do Supremo Tribunal Federal, um ministro reaça e carola que jamais a concederia. Fiz o trabalho na cara e coragem, como bom jornalista da velha guarda que sou.
O pátio da penitenciária da Papuda, na atualidade. |
Eu não tinha tais regalias quando fui visitar um amigo preso no famoso Pavilhão 9 da Casa de Detenção, em 1973. Ou seja, conheci o palco do famoso Massacre do Carandiru e até percebi que aquilo, mais dia, menos dia, iria explodir. Tanto que, quando o João recebeu o indulto natalino, tomei muitas anotações do que lhe acontecera e do que ele presenciara, pensando em escrever um livro.
O repórter policial Percival de Souza lançou o seu antes: A prisão - histórias dos homens que vivem no maior presídio do mundo. Como jamais conseguiria igualar o que, com conhecimento infinitamente superior daquele universo, ele escrevera, arquivei o meu projeto. Senso de autocrítica nunca me faltou.
O João cumpria pena de um ano por azar e bazófia. Estava com a namorada, grávida, numa comunidade próxima à USP, quando a polícia chegou, buscando um bandidão que por lá passara (seguindo as regras da sociedade alternativa, não se inquiria quem chegasse com gente conhecida).
Revistaram tudo e só encontraram remédios que poderiam ser usados como alucinógenos, mas não o estavam sendo. Quem os havia trazido e despejara na gaveta dos medicamentos, provavelmente até desconhecia tal detalhe.
O João caiu na besteira de prometer que entregaria vários traficantes se soltassem sua namorada... e depois riu na cara dos investigadores. Foi surrado impiedosamente e eles carregaram nas tintas ao redigirem o relatório policial -no qual o juiz, um poço de preconceitos, acreditou piamente. O fato de as testemunhas da defesa terem todas o jeitão de hippies pesou também na sua sentença draconiana.
O palco do famoso Massacre do Carandiru, em 1991. |
Minhas visitas ao Carandiru foram pitorescas.
Na primeira vez não me deixaram entrar porque, desinformado, fora com uma calça de brim. Eram proibidas, por facilitarem a fuga do preso, deixando no seu lugar o visitante.
Na segunda entrei, pude conversar com ele numa área grande, talvez o refeitório (e não naqueles parlatórios que se vê em filmes), conheci outros prisioneiros, saquei que a barra era mesmo pesadíssima.
Personagens primitivos e rústicos como os de Recordações da casa dos mortos, do Dostoievski, só que bem mais perigosos, capazes de matar por dá cá aquela palha. O ambiente era tão opressivo que, ao sair, surpreendi-me enchendo sofregamente os pulmões de ar, como se sufocasse.
Na terceira, descobriram o embuste. Como só parentes diretos eram admitidos, o João, depois de relacionar todos os pais e tios de verdade, colocara-me na ficha como... seu avô! Eu tinha apenas 22 anos.
Poderiam até me acusar de falsidade ideológica, mas apenas vetaram meu ingresso.
Quanto ao Dirceu e ao Genoíno, entristeço-me ao pensar quão mal devem ter-se sentido ao voltarem para o pesadelo que pensavam ter deixado definitivamente para trás.
Que ainda me assombra -no meu caso, como pesadelo mesmo. Do qual às vezes acordo com a respiração disparada.
2 comentários:
Copie e divulgue este alerta, vamos defender a vida de nossos companheiros:
TURMA DO MENSALÃO DO DEM NO COMANDO DA EXECUÇÃO DE GENOINO - Os petistas presos correm risco de vida, ainda mais agora que a turma do Mensalão do DEM está no comando da execução de Genoíno e demais, esta coisa de "presos privilegiados" é na verdade uma campanha para colocar a população carcerária contra os petistas, o que poderá gerar uma grande revolta, o que sem dúvida poderá resultar em motins e assassinatos dos réus no interior do presídio
http://www.jornalggn.com.br/noticia/pai-do-juiz-da-execucao-de-genoino-e-homem-de-confianca-de-jose-roberto-arruda
Companheiro,
teorias conspiratórias e avaliações preconceituosas às vezes funcionam como bumerangues contra aqueles a quem pretendemos defender.
Conheci o Joaquim Barbosa no Caso Battisti e ele teve atuação exemplar, brigando no plenário e votando sempre em nosso favor -enquanto, curiosamente, Lewandowski foi aliado incondicional dos inquisidores.
Qualquer cidadão com um mínimo de perspicácia perceberia, contudo, que o Barbosa fica extremamente ressentido quando não reconhecem seu valor. É uma reação comum em negros vitoriosos; eles tem ojeriza extremada ao que julgar ser racismo camuflado.
Então, o açodamento com que a rede virtual petista passou a satanizá-lo pode muito bem ter transformado um ministro que apenas queria cumprir bem seu papel num perseguidor rancoroso e extremado dos réus do PT.
Agora, lança-se suspeição sobre um juiz por conta do pai dele. Ora, conheci uma infinidade de filhos que divergiam frontalmente da orientação política dos pais.
Por enquanto, o que dele sabemos é que tentará evitar entrevistas como a que Genoíno deu à IstoÉ. Qual a autoridade que gosta de ver presos em destaque dessa forma?
No tempo em que o Cesare estava preso, a regra era essa mesma. Para entrevistá-lo, eu deveria ter o aval do Peluso (que jamais o daria). Fiz a entrevista na raça, sem autorização de ninguém. Como foi para o CONGRESSO EM FOCO e não para uma revista de circulação nacional, o Peluso não reagiu.
Enfim, o filho pródigo poderá até se mostrar um canalha. Mas, a hora certa de denunciá-lo será quando seus atos respaldarem tal acusação. Não agora.
Um abração.
Postar um comentário