| Protesto contra a PL da dosimetria na avenida Paulista |
Quem se der ao trabalho de ver a reportagem, esperando encontrar a denúncia de uma enxurrada de nomeações, descobre que o parto da montanha pariu um rato: o governo do PT, em três anos, só acrescentou 4.400 cargos comissionados e ocupações políticas aos cabides de emprego do Executivo, fazendo o total aumentar para 50.770.
Os leitores habituais dos meus textos sabem que não tenho simpatia nenhuma pelo PT, pois o vejo como principal responsável pela domesticação da esquerda brasileira.
Mas me dá calafrios constatar que o Estadão volta a fazer política direitista com a notícia, como no governo do João Goulart, quando deveria intitular-se, isto sim, Panfletão.
Faço a ressalva que naquele período o jornal dos Mesquita tinha como meta um golpe de Estado que permitisse uma rápida depuração da política brasileira, seguida da devolução do poder aos civis. Quando a família proprietária constatou que os militares tinham vindo para ficar, combateu-os corajosamente. Mas, isto não a redimiu de sua contribuição descarada para o sucesso do golpe.
Agora a intenção é semelhante à do pré-1964: desqualifica tanto quanto possível o governo do Lula e se posiciona igualmente contra a extrema-direita. Quer é propiciar o renascimento da direita civilizada, que praticamente deixou de existir com a vitória do Bozo em 2018.
Mas, levando em conta que brincou com fogo na preparação do golpe de 1964 e o país saiu queimado, tendo de suportar 21 anos de totalitarismo obtuso, deveria evitar a eventual repetição da molecagem.
Quanto ao PT, incorre no erro crasso de encaixar seus quadros na máquina governamental, profissionalizando-os no mau sentido.
Eu sou dos tempos em que financiávamos a revolução com edições alternativas, espetáculos, festas, rifas e atividades afins, afora a fase em que expropriávamos bancos, correndo risco de vida em nome da causa. Éramos respeitados. Agora, com boquinhas iguais às dos partidos conservadores, somos com eles confundidos.
O fracasso do PT como partido unicamente eleitoral ficou evidenciado durante o ForaDilma!, quando só conseguia colocar na avenida Paulista manifestantes arregimentados com a distribuição de grana e de quentinhas.
Ou voltamos às escolas, ruas, campos, construções com o ardor de outrora, ou perderemos de novo o trem da História, enquanto a direita se recicla para uma nova temporada de dominação burguesa.
As manifestações deste domingo (14) contra a execrável PL da dosimetria apontam um caminho a seguirmos sempre, não apenas quando das medidas mais aberrantes.
"Porque nada temos, tudo faremos", afirmou o dirigente esportivo chileno Carlos Dittborn quando um terremoto destruiu vários estádios às vésperas da Copa do Mundo de 1962. A situação da esquerda brasileira é semelhante. (por Celso Lungaretti)
Nenhum comentário:
Postar um comentário