O nome escolhido por um Papa diz muito sobre os caminhos que ele deseja trilhar em seu reinado e no caso do novo pontífice a escolha vem carregada de significado.
Leão XIII foi o Papa responsável pela encíclica chamada De Rerum Novarum, um documento publicado em 1891 que tratava especificamente da questão operária em um contexto de perda de influência do catolicismo entre a classe trabalhadora europeia, cada vez mais ganha pelo socialismo. Contraditório, o documento criticava a situação miserável dos trabalhadores, defendia o direito de greve e de sindicalização, mas também atacava o socialismo, o liberalismo e a laicização social. Foi a primeira grande tentativa do Vaticano de entrar no mundo moderno.
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Leão XIII tentou combater a influência socialista entre os trabalhadores. |
Essa informação histórica é importante para entendermos a escolha de Robert Francis Prevost pelo nome Leão XIV. Arcebispo de origem estadunidense, nascido em Chicago, Prevost foi durante mais de duas décadas bispo no Peru, país do qual é cidadão naturalizado. Portanto, a rigor, ele é o primeiro Papa estadunidense, mas também o primeiro peruano, continuando com o movimento do Vaticano, iniciado com Francisco, de eleger pontífices oriundos da América Latina, região onde hoje o catolicismo encontra-se em franca decadência. Que ele também seja estadunidense é mais uma peça política nada gratuita, diante dos recentes desgastes da Igreja nos EUA por causa das denúncias de pedofilia que abalaram aquele país.
O agora Papa, inclusive, é criticado por ter acobertado padres pedófilos e é lembrado por ter feito declarações nada abonadoras a respeito da comunidade LGBT, declarando que suas práticas não estariam de acordo com o evangelho. Condenou igualmente a tentativa de se ensinar ideologia de gênero nas escolas da pequena e miserável cidade peruana onde era bispo. Em geral, é tido como um moderado, mais à direita que Francisco, mas sem o reacionarismo de um Bento XVI.
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Daens acreditou na encíclica de Leão XIII, mas foi por ele abandonado. |
Ao escolher seu nome, Leão XIV mostra qual será o espírito de seu pontificado e esse espírito parece ser o mesmo de seu antecessor nominal: contraditório e formal, buscando se entregar ao mundo moderno, mas o condenando, confrontando os poderosos no discurso, mas não na prática, e no fim acima de tudo preocupado com sua perda acelerada de fiéis. No fim, o novo Papa parece ser uma síntese impossível de uma Igreja atravessada por uma profunda crise entre os ressentimentos reacionários e as aspirações liberalizantes. (por David Coelho)
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