quarta-feira, 21 de maio de 2025

DÚVIDA CRUEL: NÃO SEREMOS NÓS TAMBÉM IMITAÇÕES DE SILICONE?

rui martins
A ONDA DOS
 BEBÊS REBORN
De repente, surgiu nas redes sociais e na mídia a onda dos bebês reborn, ou bebês renascidos, que já têm até defensores e desafetos.

No último caso estão as pessoas preocupadas com a real situação dos nascidos filhos de mães pobres, desnutridas e com pouco leite para alimentá-los. 

Mesmo porque tais bebês, designados de maneira pernóstica em inglês, não passam de bonecas hiperrealistas em silicone, reproduzindo de maneira real e perfeita um verdadeiro bebê.

Um sofisticado trabalho manual, cujo preço de venda pode chegar a R$ 10 mil, permitindo a quem o possui mimetizar a vivência com um verdadeiro bebê, sem exigir os mesmos cuidados de uma mãe. 

Mas a mamadeira, as fraldas, a chupeta imitam as necessidades vitais de um ser vivo, porque a boneca é inerte e só vive na imaginação, como acontece com as bonecas das meninas até a adolescência.

Então, por que esses bebês de silicone passaram a ocupar espaço na mídia e nas redes sociais, gerando interpretações diversas sobre o comportamento das mulheres que ninam, passeiam e vão fazer compras no supermercado com seu pimpolho factício?

Tanto homens como mulheres podem ter uma ligação afetiva com certos objetos que lhes são caros e dos quais não se separam. A preferência, neste sentido, era para os animais, seres vivos como cães e, gatos, transformados em bichos de estimação e que se integram na própria família, sendo tratados com o cuidado e mesmo amor destinado a pessoas. 
Existem também homens cujas amantes são de plástico inflável, adquiridas em sex-shops.

Esses bebês não são novidade, já existem há anos nos Estados Unidos e mesmo na Europa. Na verdade, destinam-se a crianças e adolescentes como brinquedos mais sofisticados ou a mulheres que perderam seus bebês, numa fase de superação da falta e tristeza decorrentes, mas por um curto período.

Existe algum interesse comercial com o lançamento do bebê reborn como moda a ser curtida por mulheres ou casais sem filhos desejosos de viver a maternidade? Parece haver, pelo menos em título em streaming, o nacional Uma Família Feliz  (d. José Eduardo Belmonte, 2023), filme de suspense e realismo envolvendo bebês reborn.

Seja o que for, modismo ou onda lançada por publicidade discreta, já surgiram muitas explicações sobre a receptividade de certas pessoas. Percorremos diversas delas e uma que nos impressionou foi a do youtuber Paulo Ghiraldelli, focando a questão de maneira filosófica e política.

Para ele, reportando-se ao passado, os homens se encantavam na revolução industrial com as máquinas que se moviam sozinhas e o próprio Adam Smith ficava impressionado com a fábrica de alfinetes. Nessa era vitoriana, reforçava-se a ideia de que o homem, e não só Deus, pode dar vida às coisas.

É a época do clássico de Mary Shelley, Frankenstein, o monstro feito com pedaços de cadáveres e que ganha vida própria quando seu criador faz com que seja atingido por um raio. 

É a época do fetiche, as máquinas dão vida às coisas e as coisas parecem ganhar vida. 

Seguindo as pegadas de Marx, Ghiraldelli cita O Capital, ao lembrar que as mercadorias ganham vida enquanto aquele que deu vida às mercadorias, o homem, se torna objeto delas.

A seguir, a imagem se torna mais importante que a mercadoria e o virtual mais importante que o real. E entramos assim no simulacro que é a produção de imagens que lembram o real sem serem o real. É o caso dos bebês reborn, mais perfeitos que os bebês reais.

Existem relatos reais de mãe que leva seu boneco reborn ao SUS, para saber se tem febre, e um processo judicial, por um casal em separação, para partilha de rendimentos de um bebê reborn no instagram com milhares de seguidores. 

Há imagens de um pastor chutando um boneco reborn e o comentário de que a mãe levando seu bebê em consulta ao SUS deveria ter sido internada. E o alerta do pregador John Meslar de que maus espíritos podem tomar posse do corpo do bebê reborn. 

Fica livre a escolha de qual a melhor explicação. (por Rui Martins)

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