sexta-feira, 2 de agosto de 2024

A EQUAÇÃO IRRESOLÚVEL DO CAPITALISMO!

 

Uma relação social injusta para com a maioria dos seus membros está fadada ao fracasso! Esta é a razão fundamental pela qual tanto no plano social como no ecológico a sociedade do capital, ao atingir todos os poros da vida humana no planeta, ao invés de sua consagração vitoriosa, anuncia o seu colapso iminente e uma regressão civilizatória.  

O escravismo milenar ditado pelo abandono do critério da partilha societária e comunitária, com a entronização do escambo, deu azo à incipiente subjugação paulatina da maioria dos humanos a uma minoria pela manipulação da consciência coletiva e, obviamente, com o apoio e uso da força das armas. 

A apropriação da riqueza material produzida coletivamente passou, com as trocas, a se operar pelos manipuladores das consciências humanas pouco esclarecidas, contando com a força bruta de elementos advindos do próprio segmento subjugado, a quem eram concedidos pequenos privilégios e se tronavam cúmplices, mesmo que forçados a isso, do escravismo praticado.  

A abstração forma-valor e toda a sua negatividade intrínseca nasce exatamente nesse momento, tendo como critério da valorização cumulativa do próprio valor o tempo de esforço humano escravizado para a produção de um objeto servível ao consumo, transformado simultaneamente em mercadoria no mercado.   

A manipulação das consciências e sua subjugação forçada, seja pelas armas ou pela venda da força de trabalho no capitalismo, é o elemento subjacente ao comportamento escravista forçado ou induzido.  

Não é por menos que nos campos de concentração nazistas havia judeus escravizados que funcionavam como os antigos feitores de escravos nas Américas, a quem eram concedidos pequenos privilégios para que punissem os desobedientes às ordens dos detentores do poder das armas, submetendo-se à ignominiosa dimensão moral de tal comportamento.   

São exemplos mais explícitos dos tão comuns escravizados a serviço do capital desenvolvido, o impessoal senhor escravizador de hoje, de modo que os escravizados sequer entendam  a dimensão moral do cumprimento de tal ignominiosa tarefa.    

Foi o escambo o fator de introdução da concepção de quantificação da abstração valor para cada objeto, transformando-o em mercadoria útil ao consumo, tendo como critério de tal mensuração para as trocas o tempo necessário de esforço humano para a sua produção, então transformado em trabalho escravo, sendo a palavra trabalho derivada do latim tripalium, instrumento de tortura. 

O tempo de trabalho, portanto, apropriado pelo senhor de escravos, juntamente com o objeto produzido por estes últimos, agora uma mercadoria, constitui-se como a gênese da moderna forma-mercadoria, agora em processo de falência sistêmica graças à contradição irreversível dos seus próprios fundamentos.    

Ora, se é o tempo de trabalho o critério de formação do valor, e que é no trabalho abstrato remunerado pelo valor, onde se extrai a mais-valia, apropriação de parte do tempo valor pelo capital, resta evidenciado o fato de que a alta produção mecanizada, não produtora de valor, dessubstancializa o próprio valor e anuncia o seu colapso num tempo futuro. É a cobra engolindo o próprio rabo. 

Tal processo, cuja gênese é o escravismo direto, para depois se transformar no escravismo indireto do trabalho abstrato, assim considerado pela liberdade de escolha voluntária de cada trabalhador para a venda ao capital detido pelo empresariado privado ou estatal de sua única mercadoria, a força de trabalho, que é agora objeto de desuso acentuado graças à tecnologia aplicada à produção, tornando o ser humano descartável na maior parte, prenuncia a necessidade de superação da falência sistêmica e sua equação irresolúvel. 

Mas é a irracionalidade de insistência em se manter uma forma de relação social tornada obsoleta aquilo que denuncia a dimensão do fetichismo da mercadoria e de toda a entourage política que se forma ao seu derredor. 

Do ponto de vista meramente financeiro, já não se produz um volume de valor global válido advindo da produção de mercadorias, que seria necessariamente saudável à irrigação de todo o fluxo financeiro global, que assim é suprido pela emissão de dinheiro meramente escritural, sem lastro de valor, razão da inflação renitente mundo afora.  

O fenômeno do dinheiro sem valor em circulação provoca também uma especulação financeira de capitais que se retroalimenta numa espiral inconsistente - como é o caso da valorização das criptomoedas, que além de burlar o fisco e fugirem do sistema bancário escorchante, geram lucros aos investidores por um processo de oferta e procura sem respaldo na produção que tende a estourar como uma bolha de ar, que levará os seus proprietários a prejuízos colossais -, até que a hora da verdade paralise o sistema financeiro e provoque desespero, escassez de produtos e serviços,  com saques generalizados numa guerra civil de todos contra todos. 

Os Bancos Centrais mundo afora, responsáveis pela emissão de moeda, constituem-se hoje como um Estado particular, diretamente ligado ao mundo financeiro, tal a gravidade dessa questão de emissão de dinheiro sem valor que provoca o descrédito das moedas fiduciárias. 

A emissão de títulos da dívida pública que atinge patamares impossíveis de serem resgatados pela produção de mais-valia e de valor válido é outra questão, e talvez mais iminente, de presunção do colapso capitalista.    

Há quem afirme a necessidade de se inserir na política institucional como forma de combater a manipulação das consciências e seu sofisticado aparelho político, sem entender que os governos não são capazes de superar a contradição dos fundamentos capitalistas em erosão, e quaisquer que sejam as medidas que tomem, seja no padrão do Estado mínimo - caso do liberalismo clássico de Javier Milei, na Argentina -, ou do Estado de pretensa promoção do bem-estar social - caso do Chile, México, Brasil e tantos outros -, redundarão em rotundo fracasso,  

Então, o que é mesmo a política?  

Será que é possível se superar politicamente e por dentro o capitalismo e lhe dar uma feição humana a partir da convivência com as suas categorias decadentes? 

Ou será que diante dessa convivência avassaladora e intrinsecamente negativa que agora atinge alto grau de saturação seria necessário negá-la integralmente e sobre os seus escombros erigirmos uma ordem jurídico-constitucional e de produção social fora de tais parâmetros?   

Entendo que somente com a superação da relação social sob a forma-valor, que está se autodestruindo, mas concomitantemente destruindo a humanidade, poderemos dar um basta antes que a barbárie em curso nos destrua.  

Que nome devemos dar ao processo de ruptura que considero urgente e indispensável? Revolução, termo que significaria um modo de ser político? Ou chamaríamos de antipolítica institucional? Ou seria uma espécie insurrecional do gênero política?  

O nome que se queira dar ao processo de ruptura com a negatividade inservível do que está posto é o que menos interessa, mas é necessário se compreender que o conceito de política institucional contém um significado semântico que já está sedimentado equivocadamente nas nossas mentes como se fosse o único e possível e capaz de promover transformações. 

É que as palavras com o decurso do tempo adquirem um significado abrangente e substantivo parecendo ser sinônimo de comportamento inquestionável. A democracia burguesa, por exemplo, é antidemocrática por natureza, mas adquiriu um significado equivocado de único antônimo possível ao totalitarismo. 

A verdade é que não poderia um conteúdo escravista, segregacionista, excludente, irracional, como é o capitalismo, ter uma forma política que negasse peremptoriamente seu conteúdo. A democracia burguesa empresta um mal disfarçado apoio político ao decrépito senhor absolutista que a comanda: o capital.

No campo econômico é preciso que se entenda que a lógica de produção capitalista esbarrou na sua fronteira histórica e não há como se conviver com ela diante do movimento dialético das transformações sociais justamente porque tal lógica se tornou disfuncional, e está inviabilizando a vida social que se explicita em diversos fatores, tais como: as guerras;  o aquecimento global; o desemprego estrutural; a violência urbana; o retrocesso dos valores virtuosos da civilidade; a decadência estética; a normalização da usura; a inflação causada pela emissão de dinheiro desconectado com a produção de mercadorias; a dívida pública e os juros escorchantes cobrados aos países pobres; a mentira e a corrupção políticas; etc., etc., etc.  

A continuarmos como os músicos do Titanic à espera do naufrágio vamos todos sucumbir e não será ouvindo o mavioso som de uma orquestra, mas pelo calor desintegrador de uma bomba atômica ou das temperaturas insuportáveis para a vida humana.  

Mas ainda dá tempo! (por Dalton Rosado)  

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