quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

A SANHA ASSASSINA DE PUTIN

Como é triste constatar que em nome do marxismo se fez uma revolução contra a tirania czarista e que, ao invés de caminharmos para aquilo que foi preconizado pelo próprio Marx, ou seja, uma sociedade comunista, sem estado, sem dinheiro, sem partidos políticos, e com igualdade de oportunidades e direitos, ocorreu uma decomposição de propósitos a ponto de termos oligarcas riquíssimos e um estado governado politicamente por um plutocrata assassino.  

Já se contam às dezenas o número de pessoas mortas misteriosamente na Rússia, e sempre, coincidentemente, são aquelas que de alguma forma ameaçam o poder político de um homem que quer se perpetuar nesse mesmo poder de modo ditatorial perseguindo, prendendo e matando seus opositores, em um país que mantém vivas e atuantes todas as categorias capitalistas.

Não se justifica a invasão da Ucrânia e as mortes de civis por misseis aleatórios - crianças e velhos aí incluídos - apenas por não querer ser membro da tirania russa, e que acena para o ocidente com relações amistosas com a Otan, não menos capitalista e belicista, agrupamento de países sob a forma política da democracia burguesa, uma aparente liberdade política na qual o absolutismo do capital predomina. 

Nessa guerra absurda, à qual Putin denominou de Operação Especial, eufemismo que somente denuncia a sua falta de escrúpulos e tergiversação em dar o nome correto a uma agressão imperialista, já há dissenções entre o povo russo quanto à sua necessidade e que ameaçam o seu poder quase ditatorial. 

É neste cenário que vemos acontecer a morte de Alexei Navaldy, um opositor de peso - apesar das restrições que se façam a alguns dos seus posicionamentos xenófobos e suas ligações com a extrema-direita -, que já havia sido alvo de tentativa de assassinato, mas que voltou à Rússia para lutar e que fora preso, condenado e mandado para uma prisão no ártico, para lá por fim ser assassinado. 

Outras mortes sem explicações convincentes vêm ocorrendo, de magnatas, políticos, mercenários e executivos de estatais, além de perseguições a jornalistas e pessoas influentes, todos mais ou menos dissidentes dos caminhos da guerra: 

- o empresário russo Ivan Pechorin, principal gerente da Corporação para o Desenvolvimento do Extremo Oriente e do Ártico, foi encontrado morto em Vladivostok, no dia 10 de setembro de 2023; 

-  o presidente da Lukoil, segunda maior petrolífera do mundo, empresa de capital aberto, Ravil Maganov, morreu no final de agosto de 2022, após cair da janela de um hospital de Moscou; 

- outro alto dirigente da Lukoil, Alexander Subbotin, morreu em maio de 2022; 

- o chefe da estatal de energia Gazprom, Leonid Schuylman, foi encontrado morto em sua casa de campo, perto de São Petersburgo;  

- Gennadi Lopirev, general russo que chefiou a construção de um palácio para Putin avaliado em R$ 6,3 bilhões, foi encontrado morto na prisão; 

-  o magnata russo Pavel Antov, dono de uma empresa do ramo de suínos, foi encontrado morto em viagem à índia, e dois dias depois de um amigo de viagem morrer sob as mesmas condições; 

- Andrei krukovski, diretor da estação de esqui Krasnaia Poliana, morreu após uma misteriosa queda de um penhasco; 

- Serguei Protosenias, ex-vice presidente da empresa de gás natural Novatek, morreu em abril 2022, em missão na Espanha, juntamente com sua mulher e filha; 

- Vladislav Avaiev, um multimilionário russo, foi encontrado morto juntamente com sua mulher e sua filha, em Moscou; 

- Vasili Melnikov, bilionário da empresa de medicamentos MedStom, foi encontrado morto juntamente com sua mulher e dois filhos, na cidade russa de Ninzhni Novgorod; 

- Yevgeny Prigozin, miliciano chefe do Grupo Wagner, mercenário a soldo do governo de Putin, antigo amigo de Putin, morreu em acidente de avião junto com outros assessores dele após ter contrariado e até ameaçado o Kremlin; 

- Mikhail Watford, um bilionário russo, nascido na Ucrania, foi encontrado morto em Surrey, na Inglaterra, em fevereiro de 2022;    

  Em todas essas mortes misteriosas, por acidentes inexplicáveis ou envenenamentos, há um ponto em comum: a não adesão completa, ou até mesmo discordância com o antigo membro da temida KGB - agora sob a sigla FSB -, Vladimir Putin, que há 23 anos está no poder - contando o tempo como Primeiro Ministro de Boris Yeltsin -, e que quer continuar até 2031 ou enquanto viver.  

Dissemos em artigo publicado no início da invasão à Ucrania que Putin já havia perdido a guerra naquele momento, mesmo considerando a enorme diferença de forças bélicas e contingentes de militares da Rússia em relação à Ucrânia.  O resultado bélico previsível não se confirmou totalmente e a guerra se prolonga por dois anos. 

Mesmo que Putin consiga ganhar a guerra ou apenas manter sob suas garras a parte leste da Ucrânia invadida por ele, isto não será positivo no balanço de perdas e ganhos, do ponto de vista econômico e geopolítico. 

Disse isso porque a Rússia, apesar de ser um país de dimensões territoriais gigantescas - a maior do mundo, com cerca de 17 milhões de km², o dobro do Brasil -, e com baixa densidade demográfica - 143 milhões de habitantes enquanto o Brasil tem 210 milhões -, considerando o seu tamanho, e capacidade de se fechar intramuros para sobreviver, o seu povo deveria sentir profundamente o isolamento que viria a seguir, e que já está ocorrendo, especialmente num país que tem relações capitalistas externas e internas que necessitam de conexões com a economia capitalista globalizada.  

Mesmo que a China venha em seu socorro, por interesses geopolíticos do capital, e faça uma conexão com o restante da Ásia populosa, incluindo-se a Índia, que hoje é o país mais populoso do mundo, a Rússia de Putin deixará de ter algum protagonismo no cenário mundial para se submeter a uma nova ordem de blocos hegemônicos capitalistas que está a querer se consolidar num estágio de falência global.  

O capitalismo é canibalesco, e a disputa de mercado induzida por sua lógica, não permite solidariedade sem troco, e a pobreza de quem fica para trás logo aparece vitimando a maioria dos trabalhadores abstratos.  

Isso se o país de Putin, que tem a bomba atômica e está a ameaçar a humanidade, sentindo-se acuado, não acione a seu poderio bélico nuclear, e a humanidade seja destruída, ou ainda, se o aquecimento global não ocorra de modo a inviabilizar a vida animal e vegetal do nosso planeta. 

Ou superamos o capital e construímos uma nova ordem de convivência pacífica e solidária, ou vamos terminar despencando no abismo para o qual estamos sendo conduzidos pela insanidade de uma lógica de produção e organização sociais belicista e letal. (por Dalton Rosado) 

3 comentários:

SF disse...

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O que é o estado?
Pelo que entendi de Jean Jacques, é o poder de arrecadar (confiscar os inhames dos produtores) e de descer o tacape no quengo dos que discordam de serem depenados por ele.
Esta a visão de Vlad e outros governantes analógicos.
Outro lindinho que usou e abusou desse conceito foi o Leo (o Leopoldo da Bélgica).
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Para conseguir isso basta uma organização hierarquizada, um sumo pontífice, um "inimigo", uma pátria, fronteiras, moeda fiduciária e tantas outras coisas que fazem parte do ambiente e atitude usados para manter grandes massas humanas sob domínio.
E, aquilo que Marx destacou, um modo de produção!
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O que temos visto são velhos truques (guerras e que tais), que muito bem poderiam serem descritos como os "cavalheiros do apocalipse", que já não trazem mais no mesmo resultado, a saber: lucros!
Pois, como disse o barbudo, mudou o modo de produzir mudou a história.
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É bem capaz de aqueles caras jogarem as bombas, mesmo que elas sejam o oposto do que pretendem.
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Att que uma nova visão de estado, já não mais baseada no modo de produzir analógico, que não mais aceita a moeda fiduciária de estados-nação e que, infelizmente, não precisa de gente está sendo implantada.
Essa classe que emprega ei-ai e mecatrônica como meio de produção e de lutar guerras, inclusive, é quem está dando as cartas.
Ela é transnacional e, decerto, imporá uma nova maneira de viver.
Uma nova história que implicará novos valores, talvez mais estáveis que as volúveis moedas de governos de estados-nação.
Novos paradigmas e novos horizontes para a possibilidade humana.
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A lei é causal e amoral, assim, não dá para elaborar um juízo de valor a respeito das consequências dessa mudança dos meios de produção.
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Como diria KATHA-UPANISHAD: “É difícil caminhar sobre o afiado fio de uma navalha; do mesmo modo, diz o sábio, é difícil o caminho da salvação".
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Ou rever o "Poeminho do Contra Todos esses que aí estão Atravancando meu caminho, Eles passarão... Eu passarinho"!
Mário Quintana.
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Dalton Rosado disse...

Sim caro SF,
O estado é a forma política que estabelece o comando centralizado da ordem opressora a partir de uma concepção de relação social escravista; de subalternidade dos indivíduos sociais à opressão do modo de produção social subtrativo da riqueza socialmente produzida e apropiada indebitamente pelos administradores do capital ou por qualquer déspota e casta social que guarde conexão com a estrutura politica que lhe seja imanente.
Numa soxiedase na qual os indiciduis social sejam responsáveis por seu sucesso ou insucesso de modo direto não haverá estado. Abração.

Tulio disse...

Olá, Dalton
Seguem alguns links para a reflexão dos leitores do blog.

https://www-nytimes-com.translate.goog/2023/06/14/climate/enriched-uranium-nuclear-russia-ohio.html?_x_tr_sl=auto&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt-BR&_x_tr_pto=wapp

https://www-theinteldrop-org.translate.goog/2023/08/24/us-doubles-uranium-imports-from-russia-data/?_x_tr_sl=auto&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt-BR&_x_tr_pto=wapp

https://www.estadao.com.br/podcasts/dois-pontos/dois-anos-da-guerra-na-ucrania-o-que-esta-em-jogo-hoje/

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