Nada igual a velharia vendida como se fosse nova. O argentino foi às urnas no último mês eleger o suposto novo, a transformação, a ruptura com a antiga casta. Apenas alguns dias depois da posse de Javier Milei e já se vê o velhíssimo discurso de sempre: pacotaços e choques econômicos, a ponto que se alguém tivesse ficado congelado nos últimos vinte e três anos, tendo agora acordado, juraria ainda estar na década de 1990.
No fundo, o discurso anacorcapitalista carrega em si uma contradição profunda e é impraticável. Ele defende um capitalismo sem Estado, algo irreal e ilógico. O Estado é absolutamente necessário e orgânico ao capitalismo, pois sua existência é que impede a implosão completa do mercado, garantindo a dominação de classe e o aglutinamento das diversas frações da burguesia. Além disso, o Estado é forte indutor econômico, garantindo e impulsionando a reprodução do valor.
Assim, a burguesia tem certeza sobre o vazio do anarcocapitalismo, mas ele se torna altamente estratégico enquanto retórica porque é comprado por uma fatia da classe média que localiza a origem de todos os males do mundo na ação estatal corporificada em impostos, fiscalizações, direitos trabalhistas, regras ambientais, etc. Esmagada pelas grandes corporações monopolistas e sempre à beira da proletarização, tal fatia da sociedade é fortemente sensível à fantasmagoria de ser possível um capitalismo sem Estado, um mercado puro apenas de pequenos competidores em disputa. Dessa forma, o anarcocapitalismo expressa ideologicamente a pobre imaginação da classe média, cujo ideal de mundo é moldar toda a sociedade a partir de seu estreito e deplorável modo de vida.
Irrealizável, o anarcocapitalista vira um exímio cavalo de Tróia nas mãos da burguesia e essa o usa para empurrar para cima do povo todas as medidas impopulares e austericídas que, de outra forma, seriam dificilmente aceitas.
Milei fez campanha prometendo incendiar a casta, mas ao fim somente o povo será o incendiado mediante as mesmíssimas ações neoliberais que sistematicamente falharam ao longo de décadas. Vai empurrar a conta da crise argentina para cima das costas dos trabalhadores, ampliando o custo de vida, o desemprego e o arrocho. Retirada a máscara do palhaço, usada na eleição, é hora de vestir o terno e pentear o cabelo para, bem engomadinho, trucidar a população.
Dado o histórico argentino, é difícil acreditar ter Milei grandes chances de terminar seu mandato. Caso se aprofundem as medidas de austeridade, com corte de subsídios, e a inflação continue crescendo de forma exponencial, a tendência é o país vizinho virar um barril de pólvora. Quem sabe veremos de novo um helicóptero fugindo da Casa Rosada? (por David Emanuel Coelho)
2 comentários:
A metamorfose do jair em javier é bem a descrição da piada de humor negro.
Aqui o jair ali o javier
Nem adianta clamar: 'Que se vayan todos!'... o javier já veio com isso em setembro.
Eles transformam o deboche em proveito próprio.
O jornalão de dois quilos no domingo virou estadão. O jornal, vasio, se apropriou como elogio
E os alemães diziam "Sieg Heil" Mas olha o STOP!
https://palomaimages.washingtonpost.com/pr2/8df530209df246db6654e5c88fc3b101-SQZT2PNXT5MDCQJAB4XI3UQ5PE-5138-3425.jpeg
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