segunda-feira, 14 de agosto de 2023

VITÓRIA DO 'BOLSONARO ARGENTINO' NAS ELEIÇÕES É AVISO DE QUE EXTREMA DIREITA NÃO ESTÁ MORTA

 


Embora ainda não sejam as eleições definitivas, mas uma espécie de primárias, a votação retumbante do candidato da extrema-direita na Argentina, Javier Milei, é um passo importante rumo à sua futura vitória para ocupar a Presidência do país. 

Javier é uma espécie de Bolsonaro argentino, mas com maior articulação de ideias e de política. Defensor de teses anarcocapitalistas, é favorável à desregulação total da economia do país vizinho, corte brusco de gastos públicos, fim do Banco Central e a adoção completa do Dólar estadunidense. Ou seja, quer implementar entre os hermanos um regime de selvageria econômica e social, bem ao estilo propugnado pelo ex-presidente fujão e seu ministro da economia, Paulo Guedes. 

O país de Messi é hoje um dos que mais sofrem com a crise capitalista. Falido desde os anos de 1980, sempre oscilou entre uma relativa bonança e um estado perpétuo de derrocada social que chegou ao auge em 2001 com uma série de insurreições populares responsáveis por apear diversos presidentes em poucos meses. O resultado daqueles levantes foi a ascensão ao poder do Kirchenismo, primeiro com Néstor e depois com sua esposa Cristina, o qual conseguiu relativo sucesso de melhoria das condições do povo graças sobretudo ao período de bonanças vivido pelo boom das comodities no início do século. Igual ao Brasil, no entanto, os vizinhos sofrem com uma estagnação desde a crise de 2008.

Essa situação levou à inédita eleição de Macri em 2015, um político de direita. Sem conseguir debelar a grave situação econômica do país, contudo, ele acabou sendo derrotado em 2019 para o atual presidente Alberto Férnandez, ligado ao kichernismo, embora com uma relação conturbada com esse. Ao que tudo indica, a crise, que só se fez aprofundar nos últimos anos, levará o povo argentino a optar por um candidato ainda mais reacionário nessa eleição.

A inflação calculada está em cerca de 115%, não há controle oficial sobre o valor do dólar, pois apenas as divisas paralelas circulam de forma maciça, o desemprego é recorde e a extrema pobreza avança em todas as regiões do país. Nesse cenário, Javier Milei surge com a promessa de extirpar a política tradicional, sanear a economia e moralizar o país, o mesmo discurso genérico da extrema direita de todos os lugares. 

Sua vitória é sinal de que a extrema-direita segue firme ao redor do mundo e deve servir de alerta para o lulopetismo, pois o peronismo também acreditava ter suprimido a direita nas eleições de 2019 e não colocava crédito em Javier após esse ter fracassado nas disputas regionais recentes. Na verdade, ignoraram que a crise capitalista é o verdadeiro combustível da extrema-direita e sua aceleração impulsiona seus representantes. 

A situação brasileira segue crítica, com inflação alta, desemprego e miséria, contexto passível de piora nos próximos anos. Diante desse cenário, Lula nada tem feito além de repetir fórmulas gastas e acenar para a elite econômica. Vai fazendo sua própria forca e não poderá se surpreender quando o nó estiver atado. Mesmo com Bolsonaro fora do baralho - algo nunca totalmente garantido em um país em que o judiciário muda de opinião igual as nuvens mudam de forma - a extrema direita seguirá firme e atuante e um dia poderemos acordar com nossa própria versão de Javier Milei. (por David Emanuel Coelho) 


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