"...em 1971, Num dos períodos mais repressivos da ditadura militar, Zé Celso [cujo necrológio publicamos ontem] assinou o roteiro de Prata Palomares, dirigido por André Faria, também co-autor do roteiro. O longa foi selecionado para participar da Semana da Crítica do Festival de Cannes de 1972, mas o governo militar proibiu a exibição do filme, que tratava da guerrilha e da tortura.
Com Ítala Nandi, Otávio Augusto e Renato Borghi (um dos fundadores do Oficina), Prata Palomares conta a história de dois guerrilheiros que, depois de derrotados por um regime ditatorial, invadem a igreja de uma pequena cidade chamada Porto Seguro. Eles criticam o conservadorismo e querem mudar a realidade e a sociedade.
Um deles se disfarça de padre e acaba mergulhando numa espiral de loucura, cercada por torturas, violência e crises psicológicas Ele se torna um líder religioso que funda um novo estado messiânico chamado Paraíso Agora, traindo seus ideais revolucionários.
Com forte influência da liberdade de criação do Oficina, Prata Palomares tem linguagem não linear, que traz os ecos do Cinema Novo e do Cinema Marginal, além de trazer a contestação, a influência do tropicalismo, a união e o choque, do sagrado e do profano, além do olhar crítico sobre a formação da sociedade brasileira, tantas vezes apontada como passiva, conformista e conservadora.
Convidado cinco vezes para participar de Cannes, todas negadas pelos censores da ditadura, foi finalmente liberado em 1977 para ser exibido no exterior e, em 1979, para exibição em território nacional, quando foi premiado no Festival de Brasília.
Por seu histórico, é um filme raro, nada unânime, mas documento importante do período e uma das provas de que tanto Zé Celso quanto o Oficina jamais se calaram, mesmo em tempos nos quais isso significava de fato perigo de vida..." (trechos do artigo de Flávia Guerra, No cinema, Zé Celso também (re)existiu, transgrediu e influenciou gerações, publicado no UOL)
Observações: foi exatamente no Festival de Brasília que eu assisti a Prata Palomares, tendo na minha crítica o considerado, disparado, o melhor filme exibido naquela edição do certame (1979). Mas o finado jornal Fim de Semana, um dos veículos que me valeram o convite para o evento, não só deixou de publicá-la, como encerrou unilateralmente a minha colaboração. O motivo é fácil de adivinhar.
Também estava lá como crítico da Fiesta Cinema que, pelo menos, não vetou meu texto. Infelizmente, não possuo mais nenhum exemplar da revista nem cópia do que escrevi.
Nunca tive disposição para rever Prata Palomares, porque várias passagens me lembraram situações concretas que eu e companheiros da VPR havíamos vivenciado. Alguns não sobreviveram. Eram recordações sofridas e dolorosas demais para mim.
O filme está disponibilizado em versão integral no Youtube que, contudo, só permite que ele seja visto no Youtube mesmo. Então, impossibilitado de colocá-lo na nossa tradicional janelinha, só me resta recomendar aos interessados que cliquem aqui para irem assisti-lo lá. (por Celso Lungaretti)
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